terça-feira, 20 de setembro de 2011

Duas gerações de aboiadores

Aboiadores da Associação de Vaqueiros Zé Preto

O jovem aboiador Lego

O VII Festival de Aboiadores de São José dos Ramos levou a cultura popular nordestina para as ruas da pequena cidade vizinha a Itabaiana, terra onde nasceu o grande repentista Manoel Xudu. Povo que veio a pé dos sítios e fazendolas da região para ver o boi de reis, a ciranda, o coco-de-roda e o poeta aboiador. 

O festival mereceu a atenção da Prefeitura. Dra. Cida Amorim, a prefeita, cuida com carinho desse evento. É salutar a constatação de que as novas gerações, pelo menos uma parte ínfima de jovens, estão interessados nas brincadeiras e tradições do seu povo. Abaixo, trechos de uma crônica que escrevi sobre Lego, um aboiador mirim de São José dos Ramos:


“Lego se chama Josenildo da grande família Silva, um menino do povo, sem eira nem beira, mas cultivando a experiência do pai naquele canto dolente e monótono do pastoreio, sua maior riqueza, a herança deixada pelo genitor vaqueiro. Menino esperto e mente veloz, aprendeu a cantar o aboio com os mais velhos, levado pela força comovente dos costumes dos antepassados.

Hoje é um aboiador de fama. Não guia as boiadas, raras, mas já desperta a admiração dos colegas. Muito menino em São José dos Ramos deseja aprender a arte de Lego. Entre o poder áureo da poesia e a vaidade do sucesso, navegam garotos como Zé Val, Jessé, Severo, Júnior de treze anos, Raimundo com apenas onze e outras crianças que veem em Lego um exemplo a ser seguido, naquela cidadezinha tão sem nada onde agora já esplandece o ideal de ser poeta e cantar aboio nas vaquejadas e festas de rua.

Josenildo, o Lego, estuda na Escola Maria Caxias, onde aprende as matérias normais e instrui-se na história dos costumes do seu povo. É a orientação da prefeita do lugar, uma médica que deixou a vida boa na capital do Estado para cuidar de sua gente, fazendo com que tenham orgulho de sua cultura. A prefeita Cida Amorim diz que essa é a sua maior obra na cidade: fazer com que a constituição afetiva da comunidade seja realçada por meio da cultura. “É uma ação que não rende votos, mas tenho a lúcida consciência de que estou plantando sementes para a valorização do ser humano, e isso é, ao final, o objetivo de todo gestor público”. Ou deveria ser, acrescento eu.”

2 comentários:

  1. Ai Fábio: Que saudades de Zéamérico: Todos os anos, em junho íamos para a fazenda do primo Zerufino de Almeida, em Barra de Santa Rosa. Quando os vaqueiros chegavam à tardinha com gado para o curral, soltavam o aboio (triste)que o agravava profundamente por ser telúrico até à medula. Depois a conversa ia longe, regado com um gole de cachaça, café, queijo e bolo. Ele deitado em sua rede e o pessoal sentado a contar histórias que iam compor o livro - Histórias que me Contaram - e que não chegou a ser rascunhado, porque a política tomou seu tempo útil. Quando eu reclama dessa fuga ele dizia: "você está me vendo metido em politica?" Eu respondia: não, porque já se afogou. É verdade deixou muita coisa incompleta para dar atenção a sua "amante" (a politica), como dizia dona Alice, sua esposa. Um cordial abraço de Lourdinha

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  2. Oi Fábio: Esses garotos estão abrigados numa causa cultural: aprender a aboiar.Quantos nessa idade estão perdidos no caminho do crime. Alegra-me saber que há movimentos sadios para preservar nossa juventude das trilhas tortuosas do vício. Que Deus os proteja.
    Como vai o seu joelho? Estimo que venha melhorando.
    Abraços de
    Lourdinha

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