terça-feira, 28 de março de 2017

Lista atualizada dos meus desafetos


Tem gente que entra na tua órbita gravitacional acidentalmente e causa estragos. Outros, por mais que tentem, passam ao largo do rebuliço de tua vida sem grandes notações. Os inimigos devem ser exterminados, conforme mensagem impressa no DNA dos organismos vivos. Microorganismos, protozoários insignificantes, ao quebrar a janela de tua segurança, soam o alarme: é chegada a hora de levantar as barreiras naturais, combater sem trégua os glóbulos brancos recortados em sol negro, arrepiando o sistema imunológico, posto que os agressores são quase invisíveis, sem prejuízo de sua capacidade mortificante.
Mudo bruscamente de parágrafo e de intenções. Chega de listas, ainda que mal suspeite esse pobre cronista ser o próprio alvo de certas relações de secretos feladaputistas, medrosos de mostrar o focinho, mas habilidosos em traçar listas com tal vigor acusatório infame, chegando ao ponto e vírgula de me acusarem de sensacionalista.  Sou, mas, quem não é? O título dessa croniqueta grita para que minha produção leonina não fique ao léu. Uivem em vão, senhores lobos! O leão desdenha dessas fístulas e segue carregando o pus do seu pensamento mais claro e paciente, bonachão e pacificador.
O cronista jaguaribense Humberto de Almeida recomenda: “Seja exigente na escolha dos seus inimigos. Muitos não merecem sua inimizade.” O poetinha apareceu na minha frente, adocicado e fabricando sonhos artísticos em gestações mirabolantes. Crucificado pelos aperreios da vida, pediu uma assistência impreterível. Adiantei quinhentos mangos de um cachê para participação em projeto teatral para amenizar o antigo ventre das necessidades materiais do confrade. O poeta pegou a grana e desapareceu. Não posso escrever o nome desse rapaz no rol dos meus inimigos. Apenas mais um mal-agradecido velhaco. A outra confreira estava desempregada, passando maus bocados com a família. Arrumei um emprego, ajudei no que pude. Na primeira oportunidade, a dona me cravou um punhal nas costas deste corpo muar. Relevo. Friamente espero a combustão dessas consciências, como o chinês que sentou na margem do rio e esperou passar o cadáver do seu inimigo, com aquela paciência milenar dos orientais.
Entre meus mil defeitos, tenho este: superestimo as pessoas que acabo de conhecer. Confio. Queria ser um homem que nunca odeia e apenas reza. Não passei na prova de santo. Resumindo, a coisa fica assim, como afirmou Millor Fernandes: os ratos permanecem e o resto (3%) abandona o navio. Bonitamente falando, as somas e divisões se subtraem e se multiplicam nos relacionamentos humanos. Enquanto isso, jogo moedas e flores da ponte dos meus desenganos com os seres ignominiosos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário