quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Tudo tão clichê que já não se tem nada de novo a dizer


Os cronistas diários têm ares e atitudes de idiotas que vivem fuçando pequenos detalhes nas insignificantes coisinhas de la vida, feito aquele maluquinho que eu chamo de Doido das Formigas. Ele passa o dia todo observando as formigas, cada detalhe de suas vidinhas programadas. Não escreve crônicas sobre isso, mas deve viver absolutamente fascinado pelo mundinho desses insetos.
Compadre velho reclamando porque nunca mais atualizei a Toca. Falta de assunto, de interesse nas coisas que acontecem, nesse rame rame cotidiano que me dá enjoo e não inspiração.
Melhor abstrair-se em temas absolutamente fora da realidade, feito estes versos atribuído ao escritor Erasmo Souto, de Itabaiana:
SENEXO

Tu és o quelso do pental ganíreo
Cronando as rimpas do fermim calério
Em dregas mónticas do lesbor salírio
Em fricas dróganas do hermonsidério,
Tens nas sebes cardonas retórios musgos
Prenados, frumidos éfoscos cismonos
Premudos, fréjidos, ênticos, mertonos,
Ertados, bíticos, clévios e diifusgos.

Não é lindo? Criatividade. Coisa de doido, que todo artista tem que ser bastante maluco para prestar atenção nas desacontecências do mundo. Com gente assim, convém tomar cuidado. Nunca se sabe a hora em que vão surtar e imitar Deus, criando arte do nada, sem controle ou racionalidade.

No mais, deixe o resto em 2016, aquele sobejo de mágoas, frustrações e pesares. Cuide das coisas minúsculas de seu humilde formigueiro. Antes que pense que isso aqui é auto ajuda, eu conto um fato espantoso: até agora não saí de 2016. Atolei meu carro no passado, apenas superficialmente entrado no ano novo. Ano novo? Tudo mentira, descobri! Continuo lá, no pretérito. Se o sujeito não for experiente nesse negócio de ver de perto as miudezas, acaba na ilusão do calendário. Pra mim, o que tem de novo é o poema excêntrico de Erasmo Souto. 

Outro pormenor fundamental para ver se seu ano é realmente novo: já gozou diferente em 2017? Sim, porque a cópula diz tudo sobre inventividade na arte de viver. Mesmo sem vida sexual propriamente dita. Entender vivências, só prestando atenção nos coitos. Em 2017, se você permanece premudo, sinal de que suas sebes cardonas andam com lesbor salírico, necessitando de fréjidos, ênticos e calérios hermonsindérios.

Por falar em doidice, até hoje não entendo direito porque uso agendas. A minha ainda está em 2016. Só que rasguei as páginas onde anotei as mazelas e intermináveis adiamentos. Domesticar a agenda, é meu truque. Os melhores momentos, aqueles que renderam alguma coisa, esses ficam anotados e reescritos. Aquele ponto em que atravessamos a fronteira da poesia, isso me absolve da comoção e do pecado de viver tão insignificantemente, como as formiguinhas.


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