terça-feira, 25 de outubro de 2016

ETC & ETC

Eu e Max passando umas músicas para um CD que estamos montando

Quando a vida me faz uma sacanagem, começo a botar as pessoas em julgamento. Jamais se deve fazer essa maldade. Ninguém pode matar as ilusões das pessoas. Isso me disse uma amiga, ouvindo desatentamente as poesias vazias de um amigo comum, que pensa que é poeta. A vida nos pregando peças e a gente envelhecendo mais amargos. De minha parte, lamento que tudo corra bem para quem se acha o todo poderoso das tais forças ocultas, como esse Temer, e queira, por exemplo, numa tacada, acabar com as universidades públicas e mercenarizar o saber, o sonho. Esse, sim, um poeta ordinário. Felizmente, pelo menos o Michel se livrou da pretensão de escrever versos. Perdemos um poeta pífio e o país acabou sendo deflorado por um déspota burocrata a serviço dos podres negócios.
Acho que minha maior raiva do Temer é porque ele não conseguiu nem ser um artista razoável como o execrável Hitler, pintor medíocre. Dói ver que o sistema começa a estrangular a alma do país pela castração dos recursos materiais da cultura. É a vingança do usurpador vampiresco e seus poemas chinfrins.  
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O tempo passa e um belo dia você descobre que tem apenas poucos anos de vida útil. Aí não adianta filosofar. A velhice se instala de vez e você, com a perspectiva de viver cada vez menos, vai se despedindo da vida com um assombro quase sereno, resignado. O leão reina em seu território e depois morre. É inevitável. Para mim, o sujeito morre no momento em que deixa de ter liberdade total de pensamento e controle dos seus atos. Uma pessoa que perdeu a memória concretiza seu fenecimento. Aos oitenta anos, minha mãe não consegue mais lembrar dos nomes dos seus cinco filhos.

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E esse Senhor Tranca Caminhos que vive nos azucrinando ta me fazendo também perder a memória. Dia desses fui a Itatuba comungar com uns projetos de cultura do meu compadre Pádua Gorrion. Ele foi gentil ao reconhecer certos méritos de criatividade do velho leão. Lembrou que estive em Itatuba nos anos 90 onde montei uma peça e fiz um jornal. Acreditem, eu não tenho nenhuma recordação disso! É o preço que se paga por viver demais. Perde-se conteúdo no HD. Daí ele me mostrou o texto da peça “Itatuba – retalhos de uma história”, onde contávamos a trajetória daquele município. A cena abre com o locutor Biu de Josa na sua difusora na igreja do Rosário, num quartinho perto da casa de Zacarias. E segue a peça contando a cultura de Itatuba de forma singela, espetáculo montado por alunos e dirigido por mim. Do jornal, não foi possível resgatar nenhum exemplar. Fiquei pasmo! Ajudei a registrar a identidade de uma comunidade, publiquei jornal e não me lembrava.

Hoje, quando completo 61 anos, meu filho Max Mozart escreveu uns versinhos:

"Hoje é dia desse cabra, matuto lá de Timbaúba
Que de cara não engana, ingatô logo 5 fí
Quando foi pra itabaiana
Gosta muito de mexer, com os dizê do povo afora
Vem bolindo com as palavras, muito tempo, não de agora
Jornalista, teatrólogo, é poeta e escritor,
Essas coisas que ele mexe, vêi bem lá de vô Arnô,
Cabra sério e acanhado, ao mesmo tempo mei gaiato
Mexe com radialismo, perseguido que nem gato
Mas gato sabe o que faz, pense num cabra da peste
O danado até mexe, com umas coisas de dotô
E olhe, fica numa alegria
Quando inventa umas filosofia
Na hora de ser locutô."
Meu pai, Fábio Mozart.
(Max Mozart)


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