domingo, 28 de agosto de 2016

POEMA DO DOMINGO


Dramas e comédias da resistência

(Nos 40 anos de fundação do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana - GETI) 


Com vigor imberbe
acordamos no meio da noite
tateando nas asas de graúna
dos bandoleiros encouraçados
atrás dos que assaltaram
nossa juventude e nossa coragem

E pintamos fracos cenários
de caveiras e armas toscas
passando pelo país de São Saruê
gritando palavras de desordem
e dançando um xaxado amedrontado
com cegos de feira e diabos ingênuos.

No meio do conflito
armamos nossa tenda
passeando pela corda bamba
assim como quem vai ao cadafalso
sem saber dos perigos
mas desconfiando do silêncio na praça.

E era como se o sonho
de arte engajada
nos desse uma estranha força
que não víamos nem perigo nem ruína
andando pela mambembagem
dos sertões e infernos afins
assim como quem vai ao céu
e não lembra de rezar
a oração de louvor
nem a Deus nem ao Diabo.

E nossa arte errante
armou batalhões das sombras
em que dois cabras perdidos
numa noite longa e suja
lembraram de Zé da Luz
e o ABC do calvário
dos doidos despossuídos
na sombra da poesia de feira
e seus volantes atores

Como fantasmas que voam
por sobre casas grandes e ocas
Dos patrões e coronéis
Em invenções de pré-artistas
Aprendizes de visionários.

           ** * 

"Belo registro poético de uma poética juventude, Fábio. Não foi à toa que lhe deram o nome de Mozart, que morreu jovem mas ouviu a flauta mágica."  -  W. J. Solha

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