domingo, 3 de abril de 2016

POEMA DO DOMINGO


Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia (Epílogo)

Autor: Fábio Mozart

As garras da repressão
Chegaram até na Holanda
Onde descobriram Chico
Em estratégia nefanda
Por meio de livraria
Que fazia propaganda

Dos seus fregueses fiéis
Ao acervo esquerdista
Os quais assinavam livro
Deixando então uma pista
Pela qual a ditadura
Flagrava a gente malvista.

Em certa fase da vida
Francisco encontrou Nevinha
Namorada adolescente
Uma amável senhorinha
Com quem casou no cartório
Pois muita honra ele tinha

Já que ela estava grávida
Ele se viu no dever
De assumir o conúbio
Mesmo sem absolver
Os rituais da união
Conforme o jeito de ser.

E foi dessa adequação
Que se gerou a Tabira
A única filha de Chico
A quem ela admira
Como um herói das antigas
Por quem a moça suspira.

Mas o seu grande amor
Ele deixou no estrangeiro
É Tereza Van Der Piul
O apego verdadeiro
Ela que bem conhecia
O nordeste brasileiro

Porque aqui trabalhou
No cargo de enfermeira
Onde conheceu Francisco
Sua ideia altaneira
E seu apego fraterno
À razão, sua bandeira.

Tereza ficou na Holanda
No ano setenta e sete
A Polícia Federal
Em seu lar já fez piquete
Naqueles tempos sombrios
A regra era o cassetete.

Começar uma vida nova
Era o sonho de Francisco
A coibição e medo
Proibiram seu aprisco
O terror do despotismo
Fez do ideal o confisco.

Com saudades do Brasil
Para fugir do bloqueio
Chico volta à Paraíba
Ainda com muito receio
Da realidade atroz
Pois o negócio era feio

Enquanto isso, na Holanda
Tereza junta dinheiro
Para chegar ao Brasil
E ligar-se ao companheiro
Quando comprou a passagem
Soube do fim derradeiro

Pois recebeu a notícia
Da morte do ativista
Que deu fim à própria vida
Numa atitude imprevista
Para comoção geral
Do pessoal esquerdista.

Enfim, quero terminar
O meu humilde folheto
Exaltando o talento
Desse Chico irrequieto
Cujo trabalho elevado
Ele deixou incompleto.

Ele foi um pioneiro
Em cinematografia
Na Paraíba do Norte
Fazendo a apologia
Do cinema social
Sendo de sua autoria

Um curta documentário
Que rodou lá em Princesa
No sertão da Paraíba
Em arrojada empresa
Sobre a vida de quilombos
E sua cruel pobreza

O guerrilheiro do verbo
Foi autor e roteirista
E agitador das massas
Com sua fé bolchevista
Ensinando ao povaréu
A premissa comunista.

Morreu em sete de abril
Do ano setenta e sete
Sumiu e não se entregou
Erguendo seu galhardete
Pois à cruel tirania
Ele não se submete.



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