segunda-feira, 11 de abril de 2016

Abram alas para o trovador de Pilar

Ainda existem trovadores neste país de altos negócios escusos e altas politicagens. Ainda temos corações e mentes que trabalham o lirismo na arte de poetizar. Um deles é o trovador Antonio Costta, produtivo vate pilarense que nos presenteia com seu livro de quadrinhas. Cheio de emoção, entusiasmo e ardor, Costta reverencia a trova popular em seu mais novo trabalho literário.

As quadrinhas nos remetem aos primeiros devaneios poéticos na adolescência. Para as meninas, as quadrinhas circulavam como mimosas formas de mensagens amorosas. Os garotos, esses gostavam mesmo era das quadrinhas licenciosas, agressoras das normas sociais, subversivas em seu discurso pornográfico. As que tratavam das relações de namoro viviam nos cadernos cor de rosa das mocinhas, muitas copiadas de livros didáticos, ilustradas por coraçõezinhos e inocentes cupidos. As quadrinhas “pervertidas” eram nervosamente escritas nas paredes dos banheiros ou passavam de mão em mão, clandestinamente.

Nas nossas ruas de então, cedinho da noite, as meninas se juntavam em rodas para cantar e fazer aquelas danças circulares tão próprias de uma época onde as pessoas gostavam de se relacionar, as crianças brincavam dizendo versos. Quem não soubesse de uma quadrinha de cor, ou criasse na hora, sairia da brincadeira. Nessa história de jogar versos, muitas meninas dedicavam às companheiras suas quadrinhas decoradas. As mais afoitas se inspiravam nos namoradinhos.

Diz que a quadrinha nasceu com a língua portuguesa no século XII, para prestar culto aos santos. A produção de Antonio Costta remete muito ao sacro, com muitas quadrinhas dirigidas à sua divindade, cristão fervoroso que é. Mas, como é da tradição das quadrinhas, o lírico é a tônica. No geral, o trabalho de Costta enfatiza sua identidade enquanto cidadão, sua visão de mundo, crenças e valores, com forte influência de seu território sagrado, a velha Pilar de Zé Lins e Manoel Xudu:

Quem nunca escreveu um verso
Em Pilar fica inspirado,
Contemplando o universo
De Zé Lins com seu passado.

Com esse DNA cultural, Antonio Costta passeia no mundo da trova ou quadrinha, poema de quatro versos e sete sílabas em redondilha maior que tem um nome feio: poema monostrófico. As quadrinhas não têm títulos. À coleção de Antonio Costta, que ele publica agora, eu daria o título de “Cantigas de amor e fé de um nobre cavalheiro e menestrel da paz”.

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