quinta-feira, 31 de março de 2016

Branco do Povo é o nome mais cotado para vereador em Itabaiana e Preto não foi citado


Vou logo avisando à galera da toga que não se trata de pesquisa eleitoral, e sim, mero levantamento de opiniões sem controle de amostra, sem método científico, sem peita e sem segundas intenções. É uma enquete do site www.vereador2016.com

Nesta enquete, um tal Branco do Povo, que não conheço, leva vantagem sobre os outros nomes citados pelos internautas, que são, pela ordem: Marcinho Tow Lah, Ismael Freitas, Rosane Almeida, Ubiratan, Pastor Ronaldo, Welingson e Isabel Agente de Saúde. O atual vereador Preto não foi citado, o que se configura gritante preconceito racial.

Fuleragens à parte, e respeitando as pessoas que entram nessa seara de vereança, informo aqui a definição de vereador que saiu na Desciclopédia: “Vereador é um cara de pau que se fantasia de ajudador do povo e vai para a rua pedir votos, bastando apenas saber escrever o próprio nome, contribuindo com o entretenimento da população aparecendo no horário eleitoral com seus trejeitos e sua estupidez, tornando-se sub-celebridades em pleno uso do seu QI de chimpanzé com Alzheimer."

Candidato a vereador, aquele pastor de igreja “pegue pague” diz que é enviado de Deus. Recolhe o dízimo dos fiéis e pede seus votos para também roubar a Prefeitura.

Outro candidato a vereador muito encontrado é aquele que quer seu voto para fazer o que ele é pago para fazer. Normalmente, médicos, dentistas, enfermeiros, motoristas de ambulância, entre outros.

O povo, essa entidade tão falada, maltratada e safada, esse quer saber é de vantagem imediata para votar no candidato. E tome promessa dos candidatos, e tome toco, esmola, ajuda, favores, agrados, propinas e mel de tubiba. 

terça-feira, 29 de março de 2016

Perdidos no diálogo de surdos


Ontem, gravamos o programa MULTIMISTURA para as rádios Zumbi, Cuiá e outras mídias eletrônicas. Quando cheguei ao estúdio, rolava o papo sobre a crise política atualmente no Brasil. Na cadência ritmada dos cultores da esquerda ainda no poder, meus compadres Marcos Veloso, Dalmo Oliveira e Beto Palhano defendiam o governo Dilma e repetiam, sem muita profundeza, as teses das alas jurídicas, políticas e jornalísticas em favor da Presidenta.

Confesso que o tema me entedia. Sou um libertário que anda enjoado desse falatório sobre esses podres poderes e seus asseclas. Sem tirar a angústia de antever dias muito putrefeitos, com nossas vidas sendo controladas por um grupo de funestos senhores, bonecos controlados pelas grandes corporações nacionais e internacionais, que é quem realmente manda no país.

Abstenho-me de forcejar qualquer resistência. O partido no poder acabou apodrecendo e não tem nada para por no seu lugar. Jô Soares refletiu: “Não é que não tem luz no fim do túnel, não tem é túnel.” É um estranho afligir. “Um vão desejo de fuga, sem ter pra onde ir”, conforme o verso do poeta guarabirense João Milanez da Cunha Lima.

O temor é tudo isso descambar para soluções fascistas, tipo estupros militares à democracia. A liberdade é um gênero de primeira necessidade, mas um povo sem pão, sem manteiga e sem rumo pode ajudar a empurrar a nação para trás. Sem vaselina.

Importante anotar que os rapinantes do PMDB acabam de desembarcar do navio à deriva, onde resiste a Dilma com seu casaco de general e sua coragem de guerrilheira. Esmagados por uma realidade forjada nas salas de reuniões das grandes empresas multinacionais e nas redações da chamada grande imprensa, somos apenas seres humanos reagindo. Então, perdoem nossas fraquezas. Somos capazes de momentos de grandeza e pequenas indecências. Todos nós, os “coxinhas”, os “petralhas” e o resto da família. Sejamos complacentes diante das paixões políticas mal explicadas. Nada de xingar a tia nem apontar o dedo suspeitoso para o irmão, defendendo pena de morte para os corruptos. Seria um massacre geral. Chegamos a um estágio onde as discussões racionais e bem comportadas são evitadas.

Eu, prefiro combater à sombra, tomando suco de abacaxi no estúdio da Zumbi, entrando no planeta sonho, que é o projeto de um obscuro programa de web rádio pregando no deserto, aliás, fazendo munganga num picadeiro para poleiros vazios.  Falar para o vazio é uma maneira de gostar de nossas próprias ideias, segundo Fernando Gabeira. Investir nossas emoções num projeto desse tipo não deixa de ser um ato político, nessa espécie de diálogo de surdos. E o que é o atual debate político no Brasil, senão uma confabulação passional e incoerente?

segunda-feira, 28 de março de 2016

Rádio livre nos Estados Unidos assanha vespeiro da juventude



Vi ontem o filme “Um som diferente”, sobre um rapaz que constrói transmissor de baixa potência e transmite de madrugada a partir do seu quarto. Na sua estação de rádio, o rapaz se abre, fala dos seus e dos problemas dos jovens de sua escola, toca rock e lê cartas dos ouvintes.

O filme é do começo da década de 90, quando não existiam as redes sociais na internet e o rádio era o espaço anônimo onde a galera podia falar o que quisesse. No filme, a rádio “pirata” do rapazinho tímido começou a incomodar a escola onde estudava. Insuflava os alunos contra a diretora ditadora e os professores de uma instituição que não dialogava com os jovens, os quais encontraram uma válvula de escape na voz anônima daquele locutor que pensava como eles. Na sua fala livre, o comunicador refletia sobre sexo, violência, repressão e angústias adolescentes, enquanto rodava fitas e vinis de rock dos anos oitenta.

Chamados para botar ordem na “bagunça comunicacional”, os federais de lá descobrem o estúdio e prendem o rapaz. Antes, ele encontra uma aliada, a mocinha que descobre sua identidade e sai pelas ruas no jipe da família, com o transmissor funcionando em movimento para despistar os identificadores do sinal de rádio, em cenas comuns de perseguição nesses filmes americanos, com viaturas da polícia e até helicópteros no encalço da dupla de subversivos da ordem estabelecida.


A crítica de cinema Amanda Aouad analisa o filme, mas não fala de uma questão importante, e nem o filme se detém nessa informação: nos Estados Unidos não existem concessões nem permissões para o funcionamento de rádios livres, mas estabelecem regras técnicas para proteger essas pequenas estações de rádio dos interesses das grandes corporações de comunicação. A comunidade é quem controla essas emissoras. A população é quem pode pedir seu fechamento, se a rádio extrapolar os limites do razoável. Enfim, são rádios comunitárias de baixa potência monitoradas pelos seus ouvintes, ideia que é a base da legislação vigente no Brasil, mas que não vinga por motivos políticos e culturais. As rádios livres existem desde a década de sessenta nos Estados Unidos. Diferente daqui, lá o poder público reserva uma parte do Dial para essas emissoras de baixa potência, garantindo a livre manifestação do pensamento com um mínimo de regras. 

domingo, 27 de março de 2016

POEMA DO DOMINGO


Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia - (4ª parte) 

O prefeito Hugo Saraiva
Teve que renunciar
Josué de Oliveira
Também correu do lugar
Foram cassados os que tinham
Certo apoio popular.

No ano 68
Outra denúncia se deu
Contra Francisco de Almeida
O regime endureceu
Foi levado a Pernambuco
Outra vez “o pau comeu”.

Numa escola militar
Aprendizes Marinheiros
Chico foi encarcerado
Com mais alguns brasileiros
Cruelmente torturados
Pra confessar paradeiros

De militantes de esquerda
Artistas, sindicalistas,
Gente da oposição,
Estudantes, jornalistas
Quem ousasse contestar
Estava nas suas listas.

Humilhado, processado,
Réu fichado e sem defesa,
Resolveu Francisco Almeida
Da vida virar a mesa:
Foi conhecer outros mundos,
Robustecer as certezas.

Países socialistas
Receberam o militante.
Na Rússia foi aclamado
Como um “Cavaleiro Andante”
Arauto da “nova era”
Que não estava distante,

Onde o povo oprimido
Assumiria o destino
Extinto o capitalismo
Causador do desatino
Para isso é que lutava
O filho de Zé de Zino.

Na Faculdade Lumumba
Ele foi matriculado
Para estudar a ciência
Do povão organizado
E estreitar bem os laços
De quem já era aliado

Dessa tal filosofia
Que pregava igualdade.
Do ensino e da pesquisa
Nessa universidade
Ilustravam as lideranças
Com ensino de qualidade.

Na volta para o Brasil
Foi grande a dificuldade
O regime não aceitava
Dentro da formalidade
Não reconhecia o curso
Diploma sem validade.

Chico voltou ao estrangeiro
Para estreitar amizade
Com povos de todo mundo
E pesquisar a verdade
Da chamada “guerra fria”
E sua brutalidade.

Naqueles tempos nefastos
Foi usado por canalhas
Traído e pisoteado
Em degradantes muralhas
Sacrificado ao fogo
De afrontosas fornalhas.

Quem assim dá testemunho
É Unhandeijara Lisboa
Gravurista que era amigo
Daquela forte pessoa
Que sacrificava a vida
Em movimentos de proa.

“Meu amigo Chico Almeida
Foi um jovem censurado
Até pelos próprios amigos
Foi torpemente julgado”,
Conforme Unhandeijara
Declarou emocionado.

Na sua volta ao Brasil
Sempre muito perseguido
Foi morar com Unhandeijara
Seu aliado querido.
“Ele foi como um irmão,
Verdadeiro e aguerrido”.

Morou em Amsterdam
A capital holandesa
Onde fez uma imersão
Na cultura e na beleza
Dos fortes Países Baixos
E sua imensa riqueza.

Em Portugal foi à festa
Daquele povo irmão
Comemorando nas ruas
A grande Revolução
Em 25 de abril
Brindando à transformação

Social dos portugueses
Que ganharam a liberdade
Derrubando a ditadura
A qual tinha afinidade
Com a opressão no Brasil

E sua bestialidade.

sábado, 26 de março de 2016


As meninas de Itabaiana

Viajo para ver, ouvir, rir e rever, constatar que passam os estilos, o tempo, enfim, tudo. O Nordeste, por onde caminhei e caminho, tem muito de um tudo desse Brasil.
De São Paulo para Recife, pesquisando, vou para João Pessoa, e de lá, indo para Campina Grande, vou para Pilar e entro em Itabaiana, cidade importante na era dos trilhos. Quero rever a estação de trem, famosa no começo dos anos passados, ver a cidade em que Zé Lins estudou e assim sentir o cheiro de terra, salpicos do rio Paraíba, ora enchendo com as chuvas.
Com o amigo Anselmo, chego em Itabaiana, vamos à casa das meninas, como assim são chamadas na cidade: “ii” e “nenén”, digo, Ivone e Margarida. Lá as encontro como que dormindo sobre o tempo, com uma lisura de humanidade  que pouco se vê, muito pouco. Eram três as filhas de Nazinha – irmãs que roeram e roem o tempo: uma faleceu, professora Clotilde, chamada Tide; ficaram as duas das pontas, Margarida (nenén), a mais velha, e a mais nova, Ivone (ii). São duas mulheres de aço que resistem ao tempo: moram sozinhas, solteiras; a família se resume a primos – Anselmo é um deles. Sentados, na cozinha, tomamos café e falamos sobre a vida e, dentro disso, dos poetas, do pastoril, do Colégio do Prof. Maciel, em que Zé Lins do Rego estudou e do qual Tide foi diretora, das festas de fim de ano, dos picolés de D. Dozinha.
O tempo passou, mas o mascaramento da vida permanece, diz ii, “os tempos mudaram muito, dá um enjoo grande, mas a vida é assim, temos que aguentar como o tempo é, mas reclamar não custa nada… a televisão não me engana mais, melhor ouvir os versos de cordel, e ver o menino assaltando outras velhas e fechar a janela e engolir o susto”. Reclama das plantações de grama, ocupando o pasto dos bois e sendo vendidas para os campos de futebol, verde mentiroso. Assim diz ii, e olha para nós, fita meus óculos e diz: “Bonito, parece os óculos de antigamente”; e prossegue: “Você é jornalista, né? Leu muito, então conhece Jeca Tatu?” Eu respondo: “Faz tempo”, e ela: “Leia, ainda tenho aqui na minha estante empoeirado, era de Tide, mas li outros, os poetas do cordel, as novenas, os almanaques, Zé da Luz.”
O caso levou-me para Lobato no seu Jeca, em que mostra um país dividido, por tanto e quanto, por um lado travestido de chique, de bacana e rico e, no entanto…
“Nossas casas não denunciam o país. Mentem à terra, ao passado, à raça, à alma, ao coração. Mentem em cal, areia e gesso, e agora, para maior duração da mentira, começam a mentir em cimento armado. Dentro dum salão Luís XV somos uma mentira com o rabo de fora. Porque por mais que nos falsifiquemos e nos estilizemos à francesa, Tomé de Sousa e os quatrocentos degredados berram no nosso sangue; Fernão Dias geme; Tibiriçá pinoteia e Henrique Dias revê o seu pigmentozinho de contribuição.”
(Monteiro Lobato, em Ideias de Jeca Tatu)

Melhor olhar o coração de Jesus, de nenén, em Itabaiana, tomando o café de Ivone.

*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária em universidades privadas e consultor editorial da área de Literatura, além de contista e poeta com livros publicados (paulovasconcelos@brasileiros.com.br).

quinta-feira, 24 de março de 2016

Minhas cinco mulheres

         
"Cinco mulheres na rua", de Ernst Kirchner 

Recebi mensagem que rola na net pedindo para listar os nomes de cinco mulheres que marcaram minha vida, “de uma forma ou de outra”. Eis o rol de minhas musas inspiradoras:

01 - IRACI MARINHO DE MELO – Essa é hors concours, isto é, sem competidor. É mãe do velho Fabinho, uma heroína igual a todas as mães, com a diferença de que esta é perfeita, com a perfeição intrínseca dessas santas que o meu compadre Romualdo Palhano chama de geratrizes.


02 – GILKA – Não se lembra de mim, certamente. Nem sei se ainda vive. Foi minha professora de música, no tempo em que se ensinava música na escola pública, e por tabela transmitia-se sensibilidade e elementos de pura poesia, tão importantes para a formação das pessoas. No lento ondular das valsas tocadas por ela no velho piano do Ginásio Estadual de Itabaiana, viajei na expressividade do som e da fantasia. Ela deu o tom e o ritmo de minha pré-adolescência.


03 – BENEDITA LUIZA – No mesmo tom de nostalgia, lembro de Benedita Luiza como uma senhora de alma nobre e generosa, que viveu na cidade de Mari, onde também morei por doze anos e rosa, que viveu na cidade de Mari, onde tamba que me ensinou caram minha vida, "que me ensinou noções de dignidade e amor ao próximo. Morreu de câncer no seio. Fundei com ela o partido político, as associações de bairro e a rádio comunitária. Lutei com ela para amenizar a fome crônica das crianças pobres, com as campanhas para nutrir os meninos da Pastoral da Criança. Uma pessoa iluminada.


04- JOANA CÂNDIDA DA COSTA – Minha avó paterna, de apelido “Joana da Pólvora” porque em sua casa guardavam-se explosivos usados pela estrada de ferro para abrir cortes para a passagem da linha férrea. Meu avô, que não conheci, era ferroviário. Por ironia do destino, dona “Joaninha da Pólvora” morreu queimada no fogo que se alastrou em sua casa, devido à queda do candeeiro. Foi uma pessoa extraordinária em sua simplicidade.  É nome de rua em Itabaiana.



05 – Essa mulher eu não digo seu nome porque ela não gosta de publicidade. Para ela construí um soneto feito de mel de abelha e frutas de um antigo paraíso onde não consta a árvore do bem e do mal. 

terça-feira, 22 de março de 2016

Não é pelos cinco reais


Essa história parece com a narrativa de Kafka, mas é um lance comum, que acontece todos os dias com quem se acha na necessidade de navegar nas águas dos papelórios oficiais.

Recebi cem reais por um trabalho a ser pago dentro da planilha de custos de um projeto do Governo. Conforme instruções do edital, tirei cópia do cheque nominal e fui na Prefeitura pagar cinco reais do Imposto Sobre Serviço e extrair a Nota Fiscal Avulsa. Levei uma manhã inteira para isso. Cheguei na sede da Prefeitura meio atarantado, com uma bengala apoiando uma das pernas. Naquelas circunstâncias, uma senhora caridosa me pegou pelo braço e me levou na sessão correspondente aos impostos. Tirei a senha dos meio inválidos e esperei meia hora para ser chamado.

Segunda parte: o contador perdeu o original do Imposto Sobre Serviço. Tive que voltar à Prefeitura para pegar uma segunda via do documento. Dessa vez não teve senhora caridosa. Saí manquejando pelos longos corredores, atrás de um servidor que me fizesse o favor de rodar uma segunda via. Encontrei o dito cujo, aliás, uma mocinha de jeito modesto, mas de cara séria, como quase todo aprendiz de burocrata. Ela foi enfática: só poderia fornecer a segunda via depois que eu preenchesse um formulário. Com um detalhe: teria de esperar uns oito dias para ter notícias do despacho.

Dada a entrada no requerimento, espero há mais de 20 dias a resolução desse intricado caso. Enquanto isso, o projeto não pode ser encaminhado para prestação de contas porque falta um recibo de R$ 5 reais, cuja comprovação de pagamento está na Nota Fiscal Avulsa.

A impressão que eu tenho é de que eles fazem de tudo para complicar a vida do cidadão, quando menos, para lembrar que esse pagador de impostos não merece um tratamento digno ao ser atendido com agilidade, para jamais esquecer o seu papel no sistema: um simples, persistente, honesto, submisso e serviçal de uma sociedade incoerente e delirante.

Desde garotinho que escuto a cantilena: “é preciso combater o câncer da burocracia que assola o país”. Criaram até um Ministério pra isso, acho que em 1979. A pasta foi extinta para dar lugar a mais três autarquias, entre elas o Ministério da Administração. Na verdade, o Brasil é um país do cambalacho e da tramoia. Faz parte do nosso “modelo” econômico desde a invasão dos portugueses.



segunda-feira, 21 de março de 2016

Todo mundo grampeado


Durante a ditadura militar, telefone era um equipamento difícil, caro e perigoso. Os milicos grampeavam os telefones, principalmente nas repartições públicas. Qualquer palavra considerada “subversiva” já era motivo para prender o interlocutor.

Hoje, todo mundo tem um celular e a tecnologia da escuta telefônica se sofisticou. Polícia Federal vive escutando as conversas das pessoas. Grampearam até a Presidenta do país, num extremo de ousadia e violência contra o Estado de Direito que nunca se viu, nem nos períodos ditatoriais.

Imagina essa galera no poder!

Passei doze dias acamado, com dengue e crise reumática. Li alguns livros, entre eles “Memórias do fogo”, do uruguaio Eduardo Galeano. São contos curtos sobre a América e seus muitos tempos de escuridão.

Uma das narrativas é a lenda da minhoca gigante, dos índios mosetenes. A minhoca não era maior do que um dedo mindinho. Crescia e ficou do tamanho de um braço. Comia corações de pássaros. A serpente devorava corações e crescia. “Quero corações humanos”, disse um dia a serpente, já enorme que não cabia na aldeia. O caçador matou seus irmãos e os povos vizinhos. E a serpente não parava de crescer.

Ninguém se salvou. “A serpente cresceu para o alto e atravessou a noite vazia de corações...”

domingo, 20 de março de 2016

POEMA DO DOMINGO


Sem Fórmula

 
não piso a embreagem,  
piso a paisagem  
e a ponho em primeira,  
segunda, terceira e quarta  
de segunda à sexta.
(às vezes dou-lhe ré, 
mas ela sempre me escapa). 
Aos sábados e domingos 
deixo-me ficar em ponto morto 
diante dessas fotos já sem cor:
paisagens vistas de um retrovisor?
 
 Sérgio de Castro Pinto


sexta-feira, 11 de março de 2016

A fé do artista é comovente


Estava almoçando no restaurante da rodoviária em Itabaiana com Marcos Veloso, quando fui apresentado a uma figura que imediatamente me fez sacar meu caderninho de notas para os temas mais inesperados que surgem do nada, e se encaixam na feição deste blog. No momento inaugurei uma câmera digital que comprei fiado do meu compadre Gilberto Júnior, tirando o retrato da figura. É um rapaz por nome Reginaldo Marques, agricultor ocasional, intérprete e compositor profissional, morador do Porto da Canoa, distrito de Guarita, município de Itabaiana.

Não sabia, mas fiquei sabendo que Reginaldo Marques já gravou um Long Play (os da novíssima geração nem sabem o que significa isso) e quatro CDs de músicas românticas, comumente chamadas de brega. Sua melhor lembrança: fez uma música em louvor da atriz Daniela Perez, assassinada pelo namorado, e recebeu um telefonema de agradecimento da mãe da falecida.

Nosso cantor tem sofrido muito para distribuir seu último CD, obra que contou com a participação de Mó do Acordeão, filho de Pinto do Acordeão, Glauco do “Colo de Menina” e outros cobras da música regional bregueira. O caso é que o público não aceitou o trabalho de Reginaldo. Não ouvi o dito cujo, mas soube que é ruim de correr água, desses que o sujeito recebe de graça e ainda faz cara feia. Outros simplesmente recusam, com a desculpa de que o som quebrou. Mas Reginaldo não desfalece, acredita no seu trabalho e segue conduzindo seu sonho nesse mundo de gente insensível. Para divulgar o CD, paga cinco reais aos meninos dos carrinhos de CD pirata para tocarem o disco pelas ruas. Os safados simplesmente boicotam e não tocam o disco de Reginaldo. “Sai do ar” no momento em que o cantor dá as costas. Por isso ele vive pelas ruas, emboscando os carrinhos, conferindo se o CD está sendo executado.

O artista percebeu meu interesse, procurou saber se eu era radialista. Seus olhos brilhavam enquanto falava da carreira artística. Quando perguntei se era agricultor, vi seu semblante envergonhado. Disse que nas horas vagas cultivava uma terrinha em Pororoca de Guarita, mas sua profissão é cantor e compositor. Nosso artista não é filiado à Ordem dos Músicos nem ao famigerado Ecad, que arrecada direitos autorais. Tem carteirinha, que fez questão de mostrar, da Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais, entidade da qual também jamais ouvi falar.

Portanto, quem quiser ouvir o CD de Reginaldo Marques, é só entrar em contato que eu sou o seu mais novo divulgador. Não entro no mérito da qualidade das músicas, que nem cheguei a escutar, mas admiro as pessoas que sustentam um inabalável propósito, por ele vivem e com ele morrem. Pode ser um produto vagabundo, sem qualidade artística, mas agrega os valores da coragem, tenacidade e fé.

domingo, 6 de março de 2016

POEMA DO DOMINGO


Além da rima

Enquanto houver esgoto a céu aberto
o inferno estará sempre por perto.

***
No meio dessa guerra, a curiosidade:
o que muda primeiro, o homem ou a sociedade?

***
A pergunta se insinua no escuro breu:
por que o Brasil não aconteceu?

***
Você percebe o quanto estamos mal
quando em torno de si não há espaço vital.

***
No país de vasta massa humana sem fermento
os jornais publicam o silêncio e o esquecimento

***
Esse mistério me toca:
se Deus está em toda parte
por que os santos só nascem na Europa?

***
Toda luta é vã
os rebeldes de hoje
vão se conformar amanhã.

***
O povo desdentado e feio
vota nos ratos e volta, satisfeito,
para morrer de fome no seu meio.

***
Há uma consciência difusa
de que algo precisa mudar
em nossa mente confusa.

***
Limitou-se a questões formais
do tipo: quem pode menos e quem fode mais.

***
Uma dicotomia que precisa ser vencida:
palco e plateia, morte e vida.

***
Na favela explosiva e ruidosa
predomina a maioria silenciosa.

***
É com imensa dor no velho peito
que engrosso o coro do “nada tem mais jeito”.

***
A maré baixou, a quimera rui

fluxo e refluxo, é assim que a vida flui.

sábado, 5 de março de 2016

A loucura dos doidos move o mundo

Alunos da Escola Professor Maciel com o livro "A Voz de Itabaiana e outras vozes", de Fábio Mozart, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar

Ai do mundo não fora a loucura dos doidos. Vocês do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, com esta loucura febril de fazer com que as coisas deem certo. Certo para o Povo, para as crianças, para a juventude,  para os mais velhos. Vocês abraçam, produzem, reproduzem parindo constantemente uma coisa: o milagre da vida.
Vocês são os encantados que transbordam a vida de sabedoria, graça e encantamento. Eu fico um bobo, babando entusiasmado com a fruição do porvir que vocês sabem com tanta singeleza manufaturar. Ainda bem, graças a Deus, temos a quem admirar.
Pra os outros são verdadeiros loucos os que enveredam por estes caminho. O caminho da arte, da vida, do amor, da paixão, da compaixão. Da solidariedade e da construção permanente da vida, com amor.
Fico encantado por vocês.
Depois de uma paquera, estou namorando com o Cantiga de Ninar, uma turminha lá de Itabaiana que faz da vida uma loucura pra fazer da vida “dos próximos” uma possibilidade de VIDA, com dignidade.

Na linha do trem tem um instrumento de desvio que chamavam “agulha” Pois bem, Fabio Mozart e outros são em Itabaiana, com o Cantiga de Ninar, a AGULHA que possibilitará o ‘desvio’ de dezenas e centenas de vidas que naturalmente, normalmente, são/seriam trituradas, ceifadas, destruídas, massacradas pela máquina de fazer loucura em que vivemos.
O Cantiga ali em Itabaiana, o CeNEP em Nova Palmeira, o neab-í, alí pela UEPB, são iniciativas de loucos. São bússolas, e agulhas que apontam o bom desvio.
Loucos por possibilitar o ‘desvio’ que enleva, eleva e encanta tantas alma que seriam queimadas vivas. . . .
Benjamim – Campina Grande-PB


(Do livro CANTIGAS DE DESPERTAR, inédito)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Os insetos mais perigosos usam gravata


“Não sou a favor de que matem os mosquitos e as mosquitas. Sou a favor da vida. É preciso pensar diferente. O certo é aproveitar a crise e gerar emprego temporário para agentes de saúde no Brasil e desenvolver uma vacina para que as mosquitas não viessem a transmitir essas doenças. Seria um emprego temporário onde cada agente iria ganhar por produção (isto é, cada mosquito vacinado valeria uns 5 centavos). A ideia é do professor Flávio Roberto, do Conde.
Brincadeira à parte, estamos sendo derrotados pelos mosquitos há uns vinte mil anos, pelo menos. Agora é que eles se aperfeiçoam na arte de sobreviver, apesar dos avanços dos venenos e das tentativas de saneamento dos aglomerados humanos. A cada temporada aparece novo vírus injetado pelos bichinhos. Agora, o da vez é o Chikungunya.
Na real, o que nos mata é a incúria dos gestores. Lendo aqui pesquisa do Sistema de Informação da Atenção Básica, vejo que na cidade Itabaiana do Norte, apenas 1.597 famílias dispõem de rede de esgotos, enquanto 5.308 famílias se viram com fossas e 713 famílias ainda vivem como se vivia na Idade Média, com esgotos a céu aberto em suas ruas esburacadas e infectas. Essa realidade tolda o horizonte, obscurece o futuro, mata as crianças e é terreno fértil para a demagogia e o populismo de políticos profissionais agindo como os mosquitos, isto é, aproveitando da fraqueza orgânica do povo para se hospedar e sugar o sangue da população. Tem inseto dessa espécie que se estabelece em bairros humildes, aluga casa, passa a morar vizinho dos seus eleitores às vésperas das eleições para ser confundido com um deles. Antes, claro que ele toma todas as vacinas e demais precauções de quem vai viver em áreas insalubres. Esse é o verdadeiro inseto a ser combatido com a arma do voto. Indiferente ao seu destino, o povo pobre vota nesses pulhas por pura carência afetiva. Humilhado, ofendido, massacrado e espezinhado, o necessitado de tudo se sente orgulhoso por receber em sua casa o político e suas promessas que jamais serão cumpridas. O discurso feito para dominar aquelas mentes emperradas pela falta de educação cala fundo e se reverte em votos.
Enquanto isso, nada de esgotamento sanitário. Tudo para as quadrilhas que exploram os rios com extração mecanizada que causa desequilíbrio ecológico, multiplicando as chances de explosão dos mosquitos matadores. Nada para sanear os córregos infectados, poluídos. O controle das paixões populares com vista ao poder político é a pior Chikungunya, aquela febre que mata o desenvolvimento das comunidades no seu nascedouro.
Sem água potável, sem saneamento, resta sermos devorados por ameba, diarreia, parasitose, dengue e o que mais sair das cloacas, poços, cisternas e lamaçal nas ruas. “Político esperto não investe em saneamento”, diz a cartilha do picareta eleitoral. De acordo com o IBGE, 55,5% dos municípios brasileiros não têm saneamento básico e apenas um em cada cinco brasileiros tem acesso a água tratada. A ideia é que obra enterrada não dá voto. Assim, os bandidos travestidos de políticos continuam matando o povo pobre e botando a culpa no mosquito.


quarta-feira, 2 de março de 2016

Jessier Quirino solto na buraqueira


“Solto na buraqueira” é o nome do novo espetáculo do poeta e declamador Jessier Quirino. Ontem, 01 de março, ele encerrou temporada em João Pessoa, no Teatro Paulo Pontes do Espaço Cultural. Foram quatro dias de casa lotada, um feito inédito, penso eu, em se tratando de artista de sua área, na Paraíba do Norte. Esse espetáculo já passou por Recife e se prepara para estrear em Fortaleza, nessa quinta-feira, dia 3 de março.

O espetáculo tem a participação do multi-instrumentista Arnaud Neto, artista itabaianense, da terra que recebeu Jessier por adoção. Ontem, fui assistir ao recital, com ingresso-cortesia arrumado pelo Arnaud Neto, que por acaso se queixa que é meu filho. Na plateia, a galera da chamada terceira idade