quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A ÚLTIMA CRÔNICA DO ANO


Neste blogue não falo de assuntos privados. Se falasse, diria que tomei uma atitude para 2016: vou repetir a agenda. Explico: usarei a mesma agenda de 2015, percorrendo os mesmos dias, revendo as anotações, os compromissos, aniversários de amigos, pseudos vitórias e derrotas, ganhos e perdas, contas a pagar e compromissos. 

Talvez seja este o último dia da criação. Temos que provar por A mais B, o que mesmo? “Você está preparado pra morrer?”, perguntou o Testemunha de Jeová na manhã ensolarada e materialista. Devido a causas misteriosas e não ao subdesenvolvimento, milhares de crianças estão morrendo neste último dia do ano, e eu só quero saber do que pode dar certo. Num clima de angústia e embuste, milhões fingirão alegria e comemorarão a passagem do ano. Não vou abafar minha sensação de culpa, porque culpa temos no cartório. Minha agenda mostra anotações de muitos erros, alguns acertos. Vou repetir a agenda para não repetir os erros, as hipocrisias. Acha que vai dar certo? Eu penso que não. Porém, querendo ou não, temos que continuar, no erro ou no acerto. 

Na última crônica do ano, anotar que homens astutos e mulheres mecânicas estão planejando seus podres projetos.  Lá no fundo, uma voz grita que não estamos completamente perdidos. Somos todos amadores, sem planejamento sofisticado. Melhor seguir o trajeto anterior, remarcar a agenda, para continuar sendo a fina flor da ética e do saber na sociedade, sem o perigo de marcar novidades numa folhinha nova. Refazer a vida, trilhar os mesmos caminhos, apagar as anotações chocantes, na nossa missão de vermes insignificantes que somos. 

Também lembrar de rasgar os pedacinhos de papel, jogar no lixo uma partícula de bosta, alguns pedaços de miolos de cérebro, sinal de vida coagulada, um riso partido, um santinho, um talo de capim, uma pena de pavão, uma prece, uma conta a quitar, um chiclete, uns fios de cabelo, uma asa de inseto não identificado, uma foto do amigo que morreu e um fio de pensamento à procura de Deus.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Valdo Enxuto, embaixador da alegria

Enxuto (de branco) com o blogueiro em reunião dos poetas de cordel

Valdo Enxuto atravessou meio século como empregado dos Correios e Telégrafos. Nesse tempo todo, reza a lenda que ele produziu, se muito, uns dez anos para a empresa. O restante ele recompensou com doses maciças de animação e entusiasmo, como um rapaz divertido e dinâmico que sempre foi. Acertando ou errando, mas sempre sincronizado ao coração dos amigos, Enxuto vai deixar marcada sua passagem sobre a face da terra como uma pessoa aprazível, um sujeito folgado, com fulgor de cometa luminoso e radiante.

Senhor absoluto do seu papel de embaixador da alegria, Valdo é figura indispensável nas caravanas de trabalhadores postais que vão a Brasília negociar com os poderes algumas vantagens para essa classe. Numa audiência com o Ministro das Comunicações, Valdo permaneceu caladão durante a tensão das negociações. Em determinado momento, sentindo que a excitação elevava a temperatura no ambiente a níveis máximos, soltou uma sonora gargalhada.

--- Posso saber de que o nobre amigo está rindo? – indagou o Ministro.

--- Nada não, eu tava me lembrando de um galo de briga que eu criei em Itabaiana, minha terra natal, lá na Paraíba. O nome dele era Ferrolho, um galo notável! Ficou cego numa briga com um galinho medíocre, tive que levar o bichinho pra panela! --- contou Valdo.

Os olhos do Ministro brilharam na hora. Contou que também era galista, criava e preparava galos de briga na sua Bahia de todos os santos e todos os combates. Os dois começaram a trocar impressões sobre a arte de botar esses bichos para se confrontarem, para lazer dos criadores. Finalmente, a rinha em que estava se transformando a audiência virou confraternização de irmãos.

Na saída da reunião, um carteiro indagou de Enxuto:

--- Valdo, és mesmo criador de galo de briga? Sabia não! Pensava que teu esporte era só o futebol.

--- Rapaz, eu gosto de galo de briga não! Inventei aquilo porque fiquei sabendo antes que o Ministro era chegado a uma briga de galináceos – responde Enxuto, do alto do seu caradurismo.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Livro merece respeito

Sem querer anatematizar meus patrícios, mas vou dirigir esse recado censório para os que se utilizam do projeto que expõe livros para consumo de graça no Espaço Cultural em João Pessoa.

Pegue um livro e deixe outro se quiser. Assim funcionam as bibliotecas de rua, uma ideia que veio com um casal de São Paulo e funciona no Espaço Cultural. A estante é abastecida pelos que dela se utilizam, mas aqui em João Pessoa, não sei se em outros lugares, o incentivo à boa leitura tem se transformado em depósito de lixo. As pessoas despejam lá os livros didáticos, revistas velhas, catálogos antigos, apostilas técnicas, listas telefônicas, almanaques ultrapassados e outros entulhos literários. Resultado: sobra lixo e faltam livros. Outro dia, estava lá uma agenda de 2002, de uma estudante de Bayeux. Pior: completamente vazia, sem nenhuma anotação a não ser o endereço da moça e seus números telefônicos de contato. Se ao menos tivesse alguma literatura, um poema, um recado original. Nada! Levei para reutilizar em 2016. Foi o que encontrei na estante, onde deixo em média dez livros semanalmente, e só raramente consigo levar um livro decente para ler.

Sejamos civilizados! Se você não tem ou não quer se desfazer dos seus livros, pegue um livro na biblioteca de rua, mas não deixe exemplares da Veja de seis meses atrás ou o Almanaque Capivarol de 1998. Acho asqueroso esse nosso jeitinho de querer levar vantagem em tudo. Encontrei seis sacos repletos de papeis velhos, ao pé da estantezinha. O cara fez uma limpeza no seu quarto de despejo e levou o lixo para o Espaço Cultural.

Eu sei que a ideia é não ter controle sobre o projeto. Entretanto, sugiro ao pessoal responsável pelo setor de biblioteca da Fundação Espaço Cultural que façam uma campanha de conscientização, para que os usuários parem de colocar lixo na estante. Um funcionário durante alguns dias nas proximidades da estante, para orientar os doadores sobre o que deve ser deixado no local. E também abastecer com duplicatas da Biblioteca do Espaço Cultural, onde se acumulam mais de cem mil títulos.

Vou continuar a deixar livros no Projeto. Livro é pra circular, e as pessoas levam o material exposto. Sinal de que alguém está lendo, ainda mais nesse momento que o livro concorre com internet e outros espaços. É também uma forma do autor paraibano ser conhecido fora do seu próprio círculo literário. Invisto nisso. Faço minha parte.


domingo, 27 de dezembro de 2015

POEMA DO DOMINGO



POENAVO


Tudo passa. Tudo Passará.
Tudo o que é solido explode no Ar.
Porém & talvez, só a memória ficará!
Como a Prosa é Irmã siamesa da Poesia;
e por isso não podemos deixar que:
O antagonismo vença a colaboração.
A retórica vença a dialética.
O ódio vença o amor.
A mentira e a infâmia vençam a verdade.
O esquecimento vença a memória.
O medo vença a coragem e a esperança,
de que é a fé que remove montanhas...
O cinismo vença a hombridade.
A ética seja negociada e relativizada.
A dignidade seja imolada...
A crise vença e inviabilize a imaginação e a criatividade.
O poder econômico vença o Poder Político.
A concentração vença a Socialização.
O egoísmo e o individualismo vençam a alteridade e a solidariedade.
O obscurantismo vença a indignação,
o progresso intelectual e material,
e os avanços e as necessárias mudanças.
O Globalitarismo (Globalização Totalitária);
vença a o Globalidarismo (Globalização Solidária)
Os interesses do mercado vençam os interesses das Nações & Povos.
A Guerra vença a Paz.
As Redes e o Tecido Social sejam dominadas pelas forças do retrocesso...
É tempo de unir forças; fazer compartilhamentos;
e envidar congraçamentos
para vencermos os que querem
que as iniquidades dominem a nossa "Pindorama",
pois ela está prenhe de avanços e mudanças!
Avante. Que a luta é permanente,
e a vitória é dela dependente!

 (Poema para reflexão em todos os natais e anos novos).


Alexandre Guedes

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Quase crônica de Natal


Não faço parte dos enternecidos com o Natal. Não dou nem quero cumprimentos formais. Não compro peru nem cidra Cereser para a ceia. Não uso roupa nova nem dou presentes. Não gasto meu 13º com sinos, cornetas e estrelas. Quero que todos sejam felizes, aqui e agora, hoje e amanhã, mas não me venha com empulhação.
Confesso que me deu vontade de pegar antigos cartões de Natal e enviar para alguns endereços, só pelo simples fato de que não se usa mais esse tipo de mensagem. São cartões pintados por artistas sem braços. Não postei nos Correios porque não sei onde botei os tais cartões, presente de uma pessoa querida.
No Natal, não passe a borracha em tudo por alguns momentos para fingir que deseja “muita paz, muita saúde, muita alegria”. Acho que nem os mais conservadores cristãos aguentam, no íntimo, esse sorriso falsificado e essas frases “criativas”. Cumprimente assim seu inimigo mais ou menos oculto: “Desejo que você seja menos safado e respeite mais seus semelhantes daqui por diante”. E lembre ao seu colega de trabalho que, se possível, ele e você diminuam um pouco a guerra em 2016. Que você e ele deixem de puxar o saco do patrão na luta incessante por melhores posições. Ou, se vai continuar em 2016 as intrigas, fuxicos, injúrias, boatos, puxadas de tapete, que pelo menos tenham o resto de dignidade de não desejar boas festas uns aos outros no fim do ano.
Fico aqui torcendo que 2016 seja um ano de menos encenação social e que se levante o dissimulado manto de feliz natal e próspero ano novo, e os cães e gatos assumam seus verdadeiros papeis, sem falsas emoções.






quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Intolerância bem falante


Eu lendo “Um pé de milho”, livro de crônicas do festejado Rubem Braga, nascido em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, lugar que também serviu de berço para Roberto Carlos. No conto “História do caminhão”, narra o caso de um sujeito que ganhou na loteria e se torna um estranho consumidor. Contrata até duas moças para falarem inglês e francês em sua casa. “É tão bonito se ouvir falar língua estrangeira! As pessoas não entendem, mas é realmente muito bonito”, comemorou a mulher do cara. “A vizinha criticou muito isso, mas está morrendo de inveja, pois tudo o que se ouve em sua casa é português, e assim mesmo com um sotaque paraibano que é uma tristeza”, observa o narrador, que não é outro senão o próprio Rubem Braga.
Ele escreveu isso em 1946. A revista Brasil de Fato publicou em 2013: “A estudante de direito Mayara Petruso clamou, por meio de uma rede social na internet, por um assassinato em massa. ‘Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado!’. A moça proferiu isso por conta da vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais, atribuindo sua vitória ao voto dos nordestinos. A atitude dela, entretanto, apenas traça uma caricatura histórica de alguns setores da sociedade brasileira, especialmente o sulista. É de muito que a infelicidade do preconceito encontra eco nas classes médias e elites do país”.
Rubem Braga foi um sujeito viajado. Viveu em Cuba, Paraguai, México, Moçambique, África do Sul, Índia e Colômbia. Grande mestre da língua portuguesa, Rubem não conhecia seu próprio país. Pelo menos a parte terceiro-mundista da sua pátria “tão distraída”. Repercutiu o preconceito contra os paraibanos, porque essa é a ideia que têm de nós, mesmo as tais “cabeças pensantes”. Testemunho do sociólogo pernambucano Chico Oliveira: “Eu ouvi de Júlio de Mesquita Filho, na minha cara e na cara de Celso Furtado, há quarenta anos, num seminário promovido aqui em São Paulo, dizer que os esforços para desenvolver e industrializar o Nordeste eram em vão, porque o nordestino não tinha mentalidade para a indústria”, conta. Tratava-se, segundo Chico, de uma afirmação, antes de tudo, racial. “Era um líder do jornal Estado de S. Paulo, e o pior é que o Estadão fez a cabeça de metade dos paulistas”, diz.

Assim, construíram o preconceito em relação ao nordestino que explica um pouco o ódio dessas elites por termos eleito um nosso conterrâneo, Lula, Presidente do país por duas vezes. 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015


Demagogia boba, vã e vazia.

Passa o ano todo cagando para os verdadeiros valores humanos, chegando o Natal, enche-se de “bondade”.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Desacontecências de 2015



Sabe aquela besteira de fazer retrospectiva de fim de ano? Pois. Resolvi refletir sobre o que não aconteceu. Puxando do volume morto das deslembranças, mostrarei para meus compadres velhos como gastei, ou deixe de consumir esse pedaço do Bilhete Único que é a vida bela e terceirizada, em sua parte 2015. Aliás, haverei de apenas comentar como experimentei os choques das coisas que não aconteceram, e por não terem se efetuado, emprestaram grande significação para este vivente insignificante.

Mirando nas minhas desacontecências, é de citar primeiramente a mais importante: não chegou a Grande Hora, a viagem causadora de tantos surtos psíquicos nos que não sabem esperar pela grande viagem. Não foi o ano do epílogo desta grande personagem da comédia humana. Pegando o fio dessa meada, também não foi o ano em que meti a faca no bucho de algum perverso irmão das almas safado ou não abri processo contra aquela vaca vigarista que me ludibriou. “A vida de um ser humano, entre outros seres humanos, é impossível. O que vemos é apenas milagre; salvo melhor raciocínio”, ponderou o grande João Guimarães Rosa. Portanto, foi o ano em que sobrevivi dividindo o planeta com patifes e canalhas de toda espécie, sem radicalizar.

Não dei à luz meu livrinho de poesias, o “Laranja Romã”, considerado por mim mesmo e por meu crítico leitor Ameba como a melhor safra da minha bibliografia trovadora. Culpa do editor, um sujeito avaro e desconfiado que só trabalha com money à vista.

Não li o romance “Fup”, do escritor americano Jom Dodge, lançado em 1983. “Fup é um  daqueles livros que, no lugar de leitores, conquista devotos”, disse Marçal Aquino, prefaciando a obra. Sou devoto de “Cem anos de solidão”, Gabriel Garcia Marquez, e queria dedicar meu afeto espiritual a “Fup”, mas não deu em 2015. Aceito como presente de fim de ano. Em compensação, li uns 30 livros em 2015 que me deram muitas ideias das nossas imensas possibilidades enquanto seres pensantes e mutantes.

Afinal, não aconteceram tantas coisas iniquas, impróprias, indecentes e improcedentes que 2015 fica sendo o ano em que escapamos ilesos, aqui acolá com os senões costumeiros que fazem parte do jogo do rato, esse maldito esquema que temos que jogar o tempo todo.

“Feliz é o homem sem notícias”, dizia o antigo poeta. Este ano de 2015 foi um ano tão sem manchetes no meu diário que até agradeço por passar despercebido.  Joaquim Ferreira dos Santos é colunista do jornal O Globo, do Rio. Ele escreveu e eu assino embaixo: “Para 2016, eu sugiro a felicidade pelo avesso. No auge da revolução dos jovens, nos anos 1960, Nelson Rodrigues sugeriu: “Envelheçam!”. Hoje, na revolução do estresse, eu atualizo o verbo: “Desaconteçam!”

domingo, 20 de dezembro de 2015

Festa de Natal das letras na casa do professor Arturo



“Galera, neste sábado é a doação dos livros da Biblioteca Tzinacán. Começa pontualmente às 9h. Tem uns quinhentos livros aqui, de várias áreas, a serem doados. Venham mesmo! Vai sair até um cofe breique: pão com margarina.” Este o convite que o professor e escritor Arturo Gouveia deixou no Facebook. Era o “Natal das letras”, como eu chamei a iniciativa do mestre. No dia e hora anunciados, apareci na casa de Arturo e fiz minha festa. Escolhi cerca de 200 livros entre as obras à disposição de quem quisesse levar, sem custo algum, incluindo todos os livros de autoria do próprio Arturo, um dos maiores contistas da Paraíba. “O mal absoluto”, “A farsa do milênio”, “O evangelho segundo Lúcifer” e tantos outros títulos desse mestre estavam lá, junto com diversos autores paraibanos, brasileiros e estrangeiros. No momento, os livros doados estão em fase de higienização para serem acrescentados ao acervo bibliográfico da Biblioteca Comunitária Arnaud Costa.
Passar adiante o conhecimento de uma vida é importante para a evolução das novas gerações. Esse deve ter sido o pensamento de Arturo Gouveia, um sujeito apaixonado pela poesia, teatro e literatura. Dono de vasta cultura humanística, o professor Arturo Gouveia é reconhecidamente um dos principais mestres da Universidade Federal da Paraíba. Que venham mais bocas livres de literatura promovidas por Arturo e que outros bibliófilos tenham a mesma iniciativa, porque livro é para circular, e bendito seja quem aguça a gula pela leitura, quem fomenta o amor pela palavra escrita.
Ave, Arturo! Os que vão morrer e viver nas páginas dos teus livros - começando por este Leão Coroado - te saúdam! E para não perder o tom, lá vai a indefectível estrofe de Castro Alves:
Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!

sábado, 19 de dezembro de 2015

Hoje tem Multimistura na Tabajara

Jacinto Moreno, eu e Marcos Veloso gravando o Multimistura. Reparar na cara dupla de Veloso.

Eu sou um cara da cultura alternativa. O que vem a ser isso? Mais ou menos é o elemento que produz arte num espaço marginal como as rádios comunitárias, os fanzines do tempo do mimeógrafo ou o teatro amador de periferia. Brigo pelo direito à liberdade de expressão, pelo humor e a valorização das coisas simples. Subverter a lógica do mercado, não só nos conceitos estéticos. É assim que eu me vejo e é nessa trincheira que me engajo, nessas utopias onde a gente até sonha que está sendo levado pela torrente das tais forças progressistas, como eternos ingênuos que sempre seremos.

Longa é a arte e breve é a vida, diziam os gregos. Por que estou escrevendo isso? Por nada. É que estou atrasado na atualização da Toca, e resolvi escrever essas coisas, falar do nada e do tudo. “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”. Isso é do Guimarães Rosa, um sujeito definitivo na literatura de todos os tempos no Brasil.

Se estou desencantado? Tantinho assim. Cada ano que se passa, a gente vê o deslocamento do foco de nossa luta. Não luto mais contra o poder burguês, mas contra a força da gravidade que vai corroendo as cartilagens do meu joelho. E o pior: com a velhice, vamos nos tornando autoritários, repressores mesmo. Ditar leis e querer que todo mundo seja igual a nós, é uma tendência geral, com o passar dos anos. Velhinhos intolerantes manejando suas bengalas por aí, esquecendo que passou a vida toda querendo pleno direito para o ser humano, buscando uma sensibilidade maior nas relações humanas.

Apesar do poder coercitivo do sistema que sempre pretende controlar a galera, a gente ainda acredita em propostas não oficiais de cultura, ocupando espaços onde der, nesse corpo-a-corpo maluco feito minha mania de levar livros para espaços públicos, na esperança de que as pessoas venham a ler. Atos isolados como produzir programas de rádio web com equipamentos toscos e esquemas de divulgação ridículos, quem sabe, para dar alguma chance de pautar temas de e sobre as periferias silenciosas e invisíveis.

É este o propósito do programa Multimistura que eu faço toda semana com Dalmo Oliveira, Jacinto Moreno, Ivaldo Gomes, Beto Palhano e Marcos Veloso para a Rádio Web Zumbi dos Palmares. A propósito, hoje, sábado, 19 de dezembro, vamos produzir o último programa “Alô comunidade” na Rádio Tabajara da Paraíba AM, às 14 horas, e nesse programa de fim de ano rodaremos alguns trechos do Multimistura.

Quem quiser nos dar a honra de nos ouvir, estaremos neste link às 14 horas:


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CONCURSO LITERÁRIO DO PONTO DE CULTURA CANTIGA DE NINAR E JORNAL EVOLUÇÃO


Fermentou o negócio do concurso de redação do jornal EVOLUÇÃO na Escola Municipal Antonio Batista Santiago, em Itabaiana. O justo que pagou pelos pecadores da falta de noção fui eu. Esses tais pecadores são uns locutores de rádio da cidade que espalharam besteiras no ar, entortando mensagem que publiquei aqui na Toca.

Mas, tudo em paz agora. Tudo esclarecido, vamos entregar os certificados à galera, com a velha sensação do dever cumprido nessa seara humanística e educacional, com a mesma fé daquele beija-flor que carregava no bico os pingos de água para apagar o grande incêndio da floresta.

Parabéns aos participantes: Evandro Vicente, Cristiane Evangelista, Daniel Umbelino, Jardel César, Diana Laurentino, José Francisco, Lindinalva Guedes, Thalia Kaline, Maria Gabriela Cândida e Lanesso Nunes.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Ruído na comunicação deu rebu na escola


Ontem, terça-feira, postei uma nota sobre o aluno que ganhou o concurso de redação do jornal EVOLUÇÃO. Na mensagem eu afirmava que “vazou o nome do estudante ganhador do certame literário”, citei o nome da escola e acrescentei: “Tem uma lenda urbana rolando por aí, segundo a qual o estudante atualmente não sabe ler nem escrever direito, por falta de estímulo. A língua escrita realmente é um problema para quem não lê. Mas, sempre tem as tais exceções que justificam a regra. Parabéns ao Evandro.”

Essa mensagem foi lida em programas de rádio em Itabaiana, causando revolta entre colegas e professores do estudante. A diretora da escola me ligou, exigindo explicações. Primeiro, ela não gostou do termo “vazou”, uma expressão de linguagem jovem, significando que foi publicado, que veio à tona. Depois, confessou que estava revoltada porque eu disse que o estudante não sabia ler nem escrever e a culpa era dos professores que não o estimulavam.

Expliquei à diretora que, quando falei em estudante, estava me referindo ao conjunto dos alunos brasileiros, e não ao rapaz que fez a redação. Ocorreu aí um típico problema de “ruído na comunicação”, que é qualquer elemento que interfere no processo de comunicação de uma mensagem de um emissor para o receptor.

Os especialistas citam quatro tipos de ruídos na comunicação: físico, fisiológico, psicológico e semântico. No caso, acho que se deu ruído de comunicação por problema semântico. As pessoas leram uma mensagem da qual não conseguiram entender o seu contexto.

A diretora pediu desculpas. O rapaz também se manifestou, entendeu minha justificativa.  Eu, de minha parte, acho que também deveria ter exposto melhor a ideia. A mensagem foi mal elaborada e pior recebida pelo receptor. Resultado: consumiu energia em vão, causou dissabores porque a comunicação não fluiu com clareza.



terça-feira, 15 de dezembro de 2015

ETC & ETC


AÇÃO TRANSFORMADORA

Na próxima quinta-feira, dia 17, estarei no mini-auditório da Estação de Artes Luciano Agra, prédio anexo à Estação Ciência, em João Pessoa, para o lançamento do livro “Ação transformadora”, do meu confrade Dunga Júnior, que é da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Poderíamos dizer que Dunga Júnior é um sujeito popular e erudito ao mesmo tempo, sendo uma das figuras exponenciais de nossa academia, por isso merece toda consideração e respeito.

AJUSTAR AS VELAS

Pois chegou o dia, a data, a hora, o ano em que tudo deu errado. Sempre chega. Do meu ponto de vista, não existe outro cara no sistema solar que possua as qualidades do velho Leão do Cuiá, mas nem todo jogo se ganha. Tem o dia em que precisamos reconhecer que perdemos a parada e ter a humildade de deixar o campo.

Estou deixando esses mares, já estudando os mapas para novas aventuras, sem frustração, sem indignação. Vou então centrar o astrolábio em novas coordenadas. É só o tempo de ajustar as velas e tocar o barco de novo. Sou um sujeito resiliente.

MUDAR O JOGO

Está em jogo a soberania popular. E mais claro fica para nós a necessidade de superar a democracia parlamentar pelos mecanismos de poder de participação popular. A esquerda brasileira deve parar de fazer alianças com políticos fisiológicos tipo Michel Temer e defender seus projetos que só interessam ao capitalismo monopolista. Razão tem meu compadre Jerry Oliveira: “Estamos contra o golpe, mas  o Governo deve ter a coragem de fazer alianças com os movimentos populares de resistência, como as rádios comunitárias”.

VAZOU

Vazou o nome do estudante que tirou em primeiro lugar no concurso de redação do jornal EVOLUÇÃO, de Itabaiana. Trata-se de Evandro Vicente. O rapaz estuda na 8ª série da Escola Municipal Antonio Batista Santiago. Seu trabalho será publicado no jornal, edição de janeiro de 2016. Tem uma lenda urbana rolando por aí, segundo a qual o estudante atualmente não sabe ler nem escrever direito, por falta de estímulo. A língua escrita realmente é um problema para quem não lê. Mas, sempre tem as tais exceções que justificam a regra. Parabéns ao Evandro.

ESPIRITUALIDADE

Hélio Leite, que é artista plástico, assim explica: “a espiritualidade não está dentro das igrejas, nem dentro das religiões, dentro dos livros e muito menos dentro das latinhas. A espiritualidade está dentro de nós e o caminho é vós.” Esta citação vai para você que teve fé no irmão que deu uns passes e curou seu joelho bichado.

DESIMAGINEM

Um desengraçado palhaço metido a brabo meteu a mão fascista no colega de-puta-do. O palhaço Tiririca, com sua mão leve de palhaço tico-tico, escreveu a carta para dona Dilminha aprender a colher gerânios em jardins improváveis, nesse pantanal cheio de jacarés de sonhos minúsculos.

VAI SAIR

Meu livro “Laranja Romã” ta uma gracinha e vai sair, para o bem de todos e felicidade geral da nação dos improváveis. Está sendo produzido na forma de cooperativa: cada leitor compra seu exemplar antecipadamente e ganha seu nome na folha de rosto do livro. Eu confesso que usei e abusei da boa vontade de meus amigos e amigas, pedindo a colaboração, mas vou retribuir a atenção, convidado a todos para tomarem vinho comigo no lançamento, que será em janeiro vindouro.







sábado, 12 de dezembro de 2015

POEMA DO DOMINGO


Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles


Artista mogeirense destaca aniversário da cidade em programa de rádio na capital

O cantor e comunicador Marcos Adriano, natural de Mogeiro e radialista em Itabaiana, estará no programa “Alô comunidade” às 14 horas deste sábado, na Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ). Entre os assuntos que serão abordados estão a sua atuação no rádio e na área musical, além da história de sua cidade, Mogeiro, que hoje comemora aniversário de emancipação política.

O programa “Alô comunidade” está prestes a comemorar cinco anos no ar, levando a pauta que vem das comunidades e rádios comunitárias espalhadas no Estado, com produção e apresentação de Fábio Mozart, Dalmo Oliveira, Roberto Palhano e Marcos Veloso.

“Alô comunidade” é um programa da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba AM – Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos e Sociedade Cultural Posse Nova República.
Ouça em tempo real às 14 horas pela Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares:
Ou pelo site da Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ):

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Comeram a rainha do milho e o suspeito é o Visconde de Sabugosa


Eu aqui lendo “Os grandes julgamentos da História”, um livro capa dura sobre um alto funcionário do rei da França, nos tempos de capa e espada. O rei Carlos VII manda prender o superintendente real, Jacques Couer, o homem mais rico do reino e de toda a Europa daquele tempo. Tipo assim o dono da Odebrecht que foi fazer curso de leão por causa de uns escandalozinhos. O Rei, para se ver livre das dívidas, manda julgar o seu assessor direto que lhe emprestava dinheiro. O pretexto: a amante do Rei morrera de parto, e o bicho cismou que o seu genial agente financeiro foi o responsável. Acusado de bruxaria, o Jacques Couer foi julgado por um tribunal especial escolhido a dedo pelo Rei. O soberano absoluto tinha essa prerrogativa. Claro que o réu foi decapitado e sua riqueza dividida entre os juízes e o próprio Rei Carlos VII.

Tem o caso de dona Dilma que está para ser julgada por ter dado umas pedaladas fiscais, tipo assim tirar grana de um canto e botar em outro, tapar buraco, fazer as tais engenharias financeiras que todo governo fez, faz e fará. Os seus julgadores têm o olho comprido no poder e na possibilidade de deter a máquina da polícia e da Justiça que avança no lamaçal da corrupção, atingindo altas ratazanas de colarinho branco e passado sujo.

Machado de Assis: “A vida é a variação de meia dúzia de situações chaves”. E não é que é mesmo! Pegue os babados de agora e compare com a História do Brasil. Ta tudo lá e continua aqui. Em 1501, um ano após Pedro chegar ao Brasil, navegadores franceses chegam para explorar as quebradas. Exploram o mais que podem e começa a putaria da gente ceder o ouro e receber em troca as miçangas. Em 1530, inventam as capitanias hereditárias, em voga até hoje. Ou você não sabe que apenas seis famílias comandam toda a comunicação do país? E por aí vai. São mais de quinhentos anos com a gente caminhando em círculo. Quando se caminha em círculos, quem vai na frente, quem vai atrás?

Em 1595, o Rei Felipe II assina uma lei que proíbe a escravidão dos índios no Brasil. Dona Princesa Isabel assinou a lei de libertação dos escravos negros sob pressão dos ingleses, donos do mundo naquela época. Os estrangeiros poderosos sempre mandaram nos brazucas. Agora mesmo, falam de um golpe militar. Quem fala? Uns babacas ignorantes, desconhecedores das motivações econômicas e políticas que regem o mundo. Sem aval dos Estados Unidos não tem golpe. E eles estão satisfeitos com a embromação de dona Dilma.

Sim, outra constatação: não existe horário de verão para aposentado. E arroz doce com canela é tão bom! Não sei porque diabo de associação de ideias, me veio esse arroz que não experimento faz séculos. Tem gente que não ta nem aí pra essas pedaladas todas e só pensa num bodezinho assado com cará São Tomé e suco de abacaxi gelado, no que apoio totalmente.

Nota: o título dessa postagem não tem nada a ver. Apenas uma anedota que me passou pela cabeça. Foi mal!

Ainda não recebi nenhum presente de fim de ano. O fato de também não ter planos para dar presentes é o de menos. Presente só tem valor se for de mão única. Não vou te dar um presente, na expectativa de receber outro. “Amigo secreto” é meu ovo direito comprometido. Meus amigos são poucos, mas sinceros e manifestos.
Dito isto, vai a seguir a lista dos presentes que eu receberei de bom grado neste fim de 2015, um ano que vai ser a bússola, o sextante e o GPS de quem quiser ir pras trevas do reacionarismo mais medieval. Pense num ano pra trás!
Esqueçamos 2015, o ano da besta e dos bestas, e foco nas listas de presentes.
01 – Um míssil balístico intercontinental para atingir mortalmente esse vírus que insiste em ocupar meus pulmões e demais vias aéreas;
02 – Uma passagem só de ida para a ilha de Trindade, o lugar mais inóspito do mundo, para meu irmão Eduardo Cunha, o famoso Cunhão, um pé no saco da nação.
03 – Em regime de urgência, uma lei que obrigue todo mundo a saber escrever minimamente para poder postar opiniões no Facebook;
04 - Sou um puro. Ou um otário. Ou as duas coisas ao mesmo tempo. Como cabeça pensante da turma dos “cabeças de vento”, quero comprar fiado uma impressora para rodar jornal de bairro. Preciso urgentemente de alguém que me convença do erro que irei cometer, comprometendo o futuro já bastante avariado.
05 – Que se rompa o círculo vicioso do crime político e que minha cidadezinha consiga abrir os olhos e eleger um prefeito decente, ou pelo menos minimamente aceitável, nos padrões do político comum.
06 – E finalmente meu presente concreto, que seria o pagamento da primeira parcela do meu projeto “Cordel no rádio comunitário”. A promessa é pra hoje, dia 10 de dezembro. Se sair, amanhã tem festa aqui na Toca!


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Fim de festa

Fim de festa da mocidade independente dos sem noção

De Itabaiana do Norte, mandam me informar que já não existe mais a bagaceira da festa. Pelo menos, não com aquele ar de boemia saudável nas suas noites doentias de muita cachaça com caju, papos de antigamente com velhos e bons biriteiros e seresteiros. A bagaceira é uma espécie de relíquia das festas da Conceição que também foi ultrapassada, enodoada por novos e maus hábitos. Nos antigamente, nossa cidadezinha era mais comedida, singela e poética. Tínhamos mais estilo, se é que me entendem. Hoje, ninguém se importa de ver as partes pudendas da mocinha, do prefeito ou da própria cidade, desmanchada em seus prédios históricos por novos e ignorantes ricaços.

No lugar da bandinha tocando no coreto, botaram o paredão com seu som bate estaca. Eu sendo Secretário da ONU, considerada esse bate estaca como arma de destruição em massa de cérebros. A promotora proibiu a detonação do som em massa nas massas alopradas. Tiraram o paredão, substituído por um padre que pega pesado no quesito picaretagem espiritual. Aí foi que a festa se derreteu mesmo. Nossa antiga bagaceira estremece no túmulo.

“Nenhum homem é uma ilha”. Eu era. Aliás, sou. Velhinho de meia idade, pra mim o que era bom já era. Não vejo a hora de mandarem suspender essa festa de rua como anti-higiênica e decadente, como já se trama aqui na capital da Parahyba do Norte, para desgosto de Nossa Senhora das Neves. Sem uma cachaça pra tomar coragem, quem há de enfrentar a realidade rivotril que se abre aos nossos cansados e saudosos olhos? Uma cidade que perde até o jeito de andar, de beber, de falar e de manter suas delicadezas urbanas, ainda quer apagar a tocha olímpica com o extintor de incêndio da desfaçatez e imbecilidade de meia dúzia de políticos chinfrins.
Festa de rua, todo mundo pode fazer. O problema está na receita: um bocadinho mais de sensualidade discreta, uma pitada generosa de bom gosto e respeito à cultura local, a volta sensacional do jornal “O Gafanhoto” de Socorro Costa, o retorno triunfal das louras e das morenas no pavilhão central, roupa nova e velhos boleros no parque, uma vasta dose de harmonia entre o novo e o sagrado. A bagaceira era sagrada, até ficar sem Valdo Enxuto, José Maria Almeida, Solon Almeida, Josué Oliveira e outros monstros sagrados da vetusta e inteligente boemia itabaianense do Norte. Valdo ainda toma sua cachacinha, mas no terraço de casa, relembrando a zoada do Parque São Jorge e suas eternas canções bregas para as eternas namoradas.

Enfim, cada um com seus fins de festa.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O bêbado filósofo




Era um sábio de bar. É dele a frase: “Beber é uma estupidez; saber beber é uma virtude”.  Chato feito gato de pensão, sabia se impor pela inteligência. “O homem é um ser político e o seu lugar é no bar”, dizia.

O garçom Manoelzinho já estava acostumado com a figura. Gostava de roubar no troco, mas descontava no “choro” do uísque ou do conhaque.  “Eu confio mais em Manoelzinho do que em minha mulher”, costumava confessar.

Para os pedantes que reclamam da sorte, da crise e de Dilma, os eternos oposicionistas de mesa de bar, ele sentencia: “Hitler foi apenas o flagelo de Deus para o castigo do seu povo. Nesse caso, temos a permissão de julgar o instrumento divino? Portanto, não fale mal de quem lhe fode a vida. Você pode não saber porque está sofrendo, mas, certamente, não é de graça que botam no seu papeiro”, ironizava o bêbado filósofo.

O etilista insolente e blasfemo dizia que o homem não passa de um instrumento nas mãos de Deus, um meio de demonstrar suas teses nos duelos verbais com o Diabo. “O Deus do pobre sofredor é o Deus de Jó. A riqueza é um presente de Deus para os capacitados. Dos gananciosos é o reino de Deus”, pregava o ímpio. E mais: “A falta de caráter é a coisa mais revolucionária da História, pois todas as vezes em que alguém trai o Rei e desmancha sua Corte, faz história e muda o rumo da vida. E o que é um traidor, senão um mal caráter?”, afirmava, citando o mais recente membro do clube dos traíras, um tal de Michel Temer, “aquele velhote que gosta de se exibir com uma gostosa da bunda grande, para reafirmar sua posição ideológica”. 

Outras frases do grande e vil homem do bar “Esperança, o último que fecha” (Claro que esse não é o verdadeiro nome do bar. O Esperança é o bar do filme de Marília Pêra e Hugo Carvana, que eu revi ontem no Youtube). Ele deixou de fumar e vivia repetindo uma frase de Luiz Fernando Veríssimo: “Quem deixa de fumar fica intragável”. Só que o bicho era intragável em tempo integral, mas atraente pelas tiradas. “Sou um mambembe não remunerado da cultura de rua. Tenho ímpetos homicidas quando vejo um estúpido cagando regras e vomitando o que mal leu de outros idiotas nas tais mídias sociais”.