domingo, 15 de novembro de 2015

POEMA DO DOMINGO

Arnaud Costa, Chico Veneno, poeta Neco Friso e o deputado Teotônio Neto, fundador do jornal Correio da Paraíba)

Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia - (2ª parte)

Uma pátria igualitária
Sem rico ou pobre de Jó
Cujo espelho era uma ilha
Sem ser a de Marajó
Sendo Chico o comandante
Na guerra de um homem só

Porque poucos se arriscavam
A sonhar com essa porfia
Na terra dos coronéis
Em cuja ideologia
Quem disputar seu poder
Vai morar na cova fria.

Chico entrou para o Partido
Comunista Brasileiro
Com a missão de acender
E espalhar o braseiro
Da doutrina igualitária
Onde era seu terreiro.

Só que nesta região
Do vale do Paraíba
O clã dos Veloso Borges
Mandava em baixo e em riba
“O eleitor pobre apanha,
O rico morre ou arriba.”

Contra tal dominação
Chico levantou a fala
Andava pelos roçados
Carregando numa mala
Os livros do stalinismo
Doutrinando a “senzala”.

Isso despertou o ódio
Do patrão, do usineiro
E do latifundiário
Provocado em seu terreiro
Pelo Chico “agitador”
Espalhador de braseiro.

Em entrevista comigo,
Unhandeijara Lisboa
Disse que a fama de Chico
Entre a massa era boa.
“O rapaz tinha carisma,
Ele não foi líder atoa.”

Portanto, a fera assanhada
Com medo do horizonte
Vendo Chico e os “sem camisa”
No seu tom esquerdizante
Pedindo reforma agrária
Procurou matar na fonte

Aquela grave ameaça
E sua ação abusiva
Foi então que os militares
Assumiram voz ativa:
Implantaram a ditadura
Em ação muito agressiva.

Isso em 64
Veio o verdugo e algoz
Da frágil democracia
Deixando todos sem voz
Quem insistisse na luta
Tinha destino atroz.

Porém Chico, incansável,
Com gênio de carrapato,
Não deixou o seu combate
Ainda andava no mato
Construindo a resistência
Porque a guerra era um fato.

Travando luta constante
Fundou até um jornal
Era o “Evolução”
Para combater o mal
O golpe liberticida
Do gorila general.

Entrou no MDB
Partido de oposição
Brigando com a Arena
Fazendo provocação
Denunciando as mazelas
No jornal “Evolução”.

Foi quando as forças armadas
Prenderam Chico Veneno
Apesar de mil suplícios
Sempre esteve sereno
Jamais delatou alguém
Não fez sequer um aceno.

As torturas suportadas
Não abalaram a moral
Chico voltou para a luta
Com fé no seu ideal
De libertar o seu povo
Da opressão e do mal.

Professor Israelzinho
Que dele foi camarada
Nos conta que Chico, preso,
Foi de uma firmeza danada:
Por mais cruel o suplício
Ele não falava nada.


(Do folheto inédito “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia”, de Fábio Mozart – Continua no próximo domingo)

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