segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Morreu o poeta Eliel José Francisco


Estes poemas lindos e debochados, mesclados com amor à sua querida Itabaiana, terra também do meu pai, estes versos são característicos do meu sempre cunhado, divorciado da minha irmã, sua primeira esposa. Eliel José Francisco foi o meu inspirador no gosto pela língua inglesa, por meu bacharelado em Direito. Agora, vamos sentir saudades porque ele se foi para descansar dos fardos terrenos em outro plano. Adeus, meu cunhado, amigo e ídolo”. – Regina Maria Queiroz de Lima.

Foi através desta mensagem que fiquei sabendo da morte do poeta Eliel José Francisco, a quem Itabaiana fica devendo uma homenagem.
Para relembrar, publico hoje resumo de duas crônicas que publiquei sobre Eliel aqui na Toca:

Nenhum poeta de Itabaiana cantou mais sua terra do que Eliel José Francisco. O afamado vate matuto Zé da Luz tem belos poemas sobre seu universo itabaianense.  Eu próprio escrevi um cordel com 380 sextilhas sobre a história de minha pátria adotiva. Entretanto, Eliel vence pela quantidade, sem nunca haver publicado um livro em sua vida. Quase todos os dias, Eliel se debruça sobre uma folha de papel almaço e escreve com letras de imprensa um poema de amor e saudade alusivo à sua Itabaiana querida. E isso ele faz a mais de trinta anos, quando foi morar no Recife, perseguindo o sonho de se especializar na língua inglesa. Hoje é professor aposentado, de inglês, na rede pública de Pernambuco.

Eu e Eliel fomos crianças e adolescentes juntos em Itabaiana dos anos 60/70. Lembro de Eliel dedicado ao estudo do inglês, uma obstinação extraordinária, dessas que fazem as pessoas se incluírem nessa designação geral de “malucos”, porque “quem tem idéia fixa é doido”, conforme o ditado popular. Lembro dele agarrado à gramática inglesa na beira do rio, dia e noite estudando e praticando uma pronúncia improvável, porque não havia com quem falar o idioma de Shakespeare. Até que apareceu um cidadão americano na casa da professora Nel Ananias. Eliel foi prontamente designado como intérprete.

Além dessas recordações, tenho pastas contendo centenas de poesias de Eliel. Uma pasta intitulada “Itabaiana” guarda a produção dos seus poemas de amor e saudade itabaianense. O poeta sempre enviava pelo correio, de sua casa em Paulista, Pernambuco. Há mais de dois anos deixei de receber os seus poemas. De alguma forma eu me sinto responsável pela guarda de um material valioso, e até me culpo por não ter me empenhado mais para divulgar a obra de Eliel.


A volta do poeta fluvial

Eliel José Francisco veio de Paulista para visitar Itabaiana, sua querida terra natal. Chegou trazendo debaixo do braço um catatau de versos que traduzem seu bem querer nativista, invocando o passado e tomando cachaça nas barracas do Carretel e do Cochila. “O passado é uma carga pesadíssima, e para carregá-lo tem que tomar cachaça com caju e pitomba”, acredita o poeta Eliel. De vez em quando ele sente a urgência de visitar Itabaiana, ver seu rio Paraíba onde nadou feito piaba nas cheias de antigamente. 

Como nas epopeias antigas, Eliel quer perpetuar em seus poemas, por todos os tempos, o destino de um povo sem muito destino. “Minha poesia é ‘Os Lusíadas’ do pé-rapado, do fuleiro que toma cana e leva tapa da polícia, do zé-ninguém que leva chifres da mulher e se vinga no mel podre da ponta de rua”. Mas ele é capaz de fazer versos tão bonitos como este:

“...foi em legítima defesa
Que eu matei a saudade...”


Professor de inglês, Eliel José Francisco fala mesmo é a língua da Maloca, do Cochila e do Apertado da Hora. “Passei a escrever versos fesceninos, porque em geral o povo gosta de sacanagem”, explica o poeta. “A prova disso é que votam sempre nos mesmos políticos feladaputistas”, raciocina. Eis alguma coisa nesse gênero:

Que saudade da Quixola
Lá do alto do Cochila
Aonde eu jogava bola
Com o nome de “Quizila”.

É a ausência do gosto
Da boceta de Maria
Que esfregava no meu rosto
O bocetão todo dia.

Eu que não era um jumento
Era apenas um menino
Até hoje inda lamento
Dessa boceta o destino.

Porque eu amo a xoxota
E o gosto do perino!
Como qualquer poliglota
Que não é fresco ou cretino.

Também em louvor à dona vulva, Eliel gosta de declamar:

Diz Eliel lá na feira:
Não és tu, Deus, que governas,
É essa caranguejeira
Que a mulher tem entre as pernas.

Rezando na matriz da Conceição, o poeta pediu:

Ó milagroso Jesus!
A vós só peço justiça.
Fazei com que minha cruz
Seja feita de cortiça.

Nessa última visita, o poeta mandou ver umas estrofes me elogiando, que eu fiquei até tomado por sentimento de gratidão pelas palavras do Eliel, pois o Estatuto do Idoso permite ao velho receber bajulação explícita e caridosa sem ficar acanhado. 

Disseram que eu sou poeta
Amante da poesia
Um rimador e esteta
Perfeito na ritmia.

Entretanto, ao ler os versos
Do grande Fábio Mozart,
Nos ritmados processos
E de rima singular,

Pensei: sou meio poeta
Das liras de Itabaiana
Ou, na verdade, um pateta
Que com versalhada engana.

Mas seja lá como for,
Na limitação da lida,
Eu canto com muito amor
Itabaiana querida.


domingo, 29 de novembro de 2015

POEMA DO DOMINGO


ALGUÉM

É um boi que passa
clínico
metafísico
por dentro do ônibus

Pasta uma baba lepra
lambe um silêncio triste
e um chuncho
e um baque

Quantos quilos?
Rabo ou pata?
Tratar com Biu de Malaquias
preço a combinar.


Pedro Osmar

sábado, 28 de novembro de 2015

Poeta de Araruna está no “Alô comunidade” de hoje

Jairo Lima desce a serra hoje, sábado, dia 28 de novembro, para participar do programa “Alô comunidade”. Jairo é autor do livro “Versos cinzentos” e vários folhetos de cordel, metido em performances de poesia visual, agitador cultural da terra das araras negras, no Curimataú da Paraíba do Norte.

“Alô comunidade” é um programa da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba AM – Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos, Sociedade Cultural Posse Nova República. Começa às 14 horas. 

Ouça em tempo real pela Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares:
Ou pelo site da Rádio Tabajara da Paraíba AM (1.110 KHZ):


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Crise? Que crise?


Um tal Wilson Cano, que nem sei de quem se trata, disse que “estamos numa crise que já conta 35 anos de idade”. Presos no auge da glória de sermos pobres de marré marré, temos a honra e o poder de afirmar que não conhecemos crise, porque nossas vicissitudes vêm do berço desvalido. Perder tudo de um dia para o outro, cair no fosso da escassez tendo experimentado a riqueza, isso sim é desgraceira digna de um salto para o aniquilamento. Pobre vive faceiro e exultante no seu mundinho humilde, onde cada pequeno triunfo se enche de brilho.

No decorrer do ano da graça (ou da desgraça, para muitos) de 2016, esse que aqui vos fala, retirado do mundo do consumo por força de sua aposentadoria ínfima, planeja altos esquemas e mira grandes vitórias no seu universo austero, porém honrado. Começando por me dar um presente de fim de ano. Com a bufunfa que irei receber do Sesc por ter ministrado oficinas de cordel, pretendo comprar uma bicicleta de segunda mão, 18 marchas e de alumínio. Quando chegar o ano de 2016, vou ver se arrumo arame emprestado do Governo para montar uma gráfica, um estúdio de rádio e um auditório. É pouco? Já tenho quase garantida a publicação de um livro de poesias, outro de fofocas e cinco edições de jornal literário. Nessa economia vacilante, ainda quero montar uma peça de teatro para comemorar os quarenta anos do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana e bancar várias exposições do pintor Otto Cavalcanti.

Não é por acaso que me chamam “o vitorioso”. Pobre, porém dinâmico e arrojado. Fale quem quiser do meu jeito um tanto assim pretensioso. Os rancorosos, os bandalhos que ladram atrás de nossa caravana, que voltem a bater o ponto no seu mister de subservientes e incapazes. Eu seguirei em frente, com um ou dois companheiros devotados e firmes em nossa missão de vida.

Pode faltar numerário, mas aqui nesta Toca não falta aspiração e inspiração. E de que é feito esse mundo, senão de sonhos? 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Há 170 nascia o genial poeta escravo Ignácio da Catingueira

Praça Ignácio da Catingueira
A Paraíba tem três poetas fundamentais: Augusto dos Anjos, Leandro Gomes de Barros e Ignácio da Catingueira. Augusto demarcou a transição da literatura brasileira para o modernismo. Leandro Gomes de Barros é considerado o pai da literatura de cordel e Ignácio da Catingueira foi o primeiro poeta repentista a ser consagrado pela sua genialidade. Era analfabeto, mas seus versos ficaram na memória do seu povo.
Augusto dos Anjos tornou-se um dos poetas mais lidos do país, sobrevivendo às mutações da cultura e a seus diversos modismos como um fenômeno incomum de aceitação popular. Leandro Gomes de Barros é considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, tendo escrito aproximadamente 240 obras. Foi chamado de "Príncipe dos Poetas" por Carlos Drummond de Andrade, em crônica publicada no Jornal do Brasil, em 9 de setembro de 1976. Ignácio era um negro escravizado que ficou nos registros históricos como um genial poeta repentista, em um tempo onde nem se usava a viola como acompanhamento nos desafios. Ele cantava tocando um pandeiro rudimentar.
Esses monumentos monumentais merecem um pleonasmo magnificente e de vera, em suas cidades, todos eles são mais ou menos lembrados, não como deveriam. Porque Augusto dos Anjos era para ser matéria obrigatória nas escolas públicas de Sapé. Os folhetos de Leandro Gomes de Barros constituiriam o orgulho e o conteúdo escolar também na cidade do Pombal. O escravo cantador Ignácio da Catingueira tem sua estátua na entrada da pequena cidade da micro região de Piancó, no sertão da Paraíba do Norte, com seus quatro mil habitantes, vaidosos da fama de seu cantador.
O Padre Manoel Otaviano, estudioso do folclore, diz: “Inácio morreu moço, aos trinta e dois anos ou trinta e três anos de idade. Dizem que ele nasceu em 1845. Segundo uns faleceu em 1881, 1882 segundo outros. A causa da morte foi forte pneumonia apanhada em trabalhos de roçado, queimando uma broca. Foi cativo também de Francisco Fidié que o herdou de seu sogro Manoel Luís, em 1875, quando tinha ele trinta anos completos. No inventário de Manoel Luiz foi avaliado por 1.200$000 na moeda do tempo.”
No tempo de Ignácio da Catingueira, a Igreja ainda discutia se negro e índio eram gente, se tinham algum tipo de alma. O Diabo católico era negro horroroso. Os escravos eram considerados animais irracionais. Sua religião fetichista do Candomblé ainda hoje é considerada “coisa do demônio” por brancos ignorantes. Na própria literatura de cordel, a figura do diabo é sempre um negro de olhos vermelhos. Foi nesse contexto que Ignácio da Catingueira infundiu respeito dos seus contemporâneos como o maior entre os maiores cantadores repentistas. Vencendo o preconceito racial e social, Ignácio virou mito com seu talento e originalidade.
Diz a lenda que o poeta escravo travou um desafio com Romano da Mãe D’água, a “besta fera” do repente naqueles idos. Foram oito dias e oito noites de contenda na rua principal de Pombal, com vitória de Ignácio no final do conflito poético. Até hoje, cantadores ainda torcem a cara para cantar com colegas negros ou com mulheres. Claro que antigamente, o preconceito era muito maior. Daí se tira a importância dessa porfia no inconsciente coletivo. Um escravo vencendo um poeta branco em praça pública, no século 19. Os versos do poeta analfabeto foram se propagando de geração em geração, resgatando o valor e a dimensão da arte desse Ignácio, que não tem o mesmo merecimento no panteão dos nossos poetas imortais.
Pelos registros históricos, Ignácio da Catingueira completa 170 anos de nascimento neste ano da graça de 2015. Leandro Gomes de Barros teve seu sesquicentenário bem lembrado durante todo o ano. Faltou alguém ressaltar a importância de Ignácio da Catingueira e, junto com seu engenho e extraordinária capacidade inventiva, abordar a presença das culturas de povos africanos na literatura popular brasileira, notadamente na literatura de cordel nordestina. 


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Desembargador lança livro sobre personagem da história de Itabaiana


O desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque (TJPB) lançou o livro “Desembargador Heráclito Cavalcanti Carneiro Monteiro, um homem dedicado à justiça”, como parte das ações da Comissão de Cultura e Memória do Poder Judiciário, da qual é presidente. O livro destaca a vida do Dr. Heráclito Cavalcanti, que foi juiz de Itabaiana no início do século vinte, onde teve participação marcante na vida cultural, social e política daquela cidade, na época uma das mais progressistas da Paraíba.
O livro foi editado pelo jornalista Valter Nogueira, com a colaboração do também jornalista Fábio Mozart, cujo blog na internet (Toca do Leão) é citado como fonte de algumas informações contidas na obra.
O Desembargador Marcos Cavalcanti é natural de Mamanguape, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e autor de mais de dez obras versando sobre história de várias comunidades e sobre o Poder Judiciário na Paraíba.
Heráclito Cavalcanti foi juiz por dez anos em Itabaiana, e depois desembargador, durante vinte. Como juiz e chefe político daquela cidade, impulsionou o seu progresso e elevou-a, até 1915, a um dos centros comerciais mais importantes da Paraíba, superando até Campina Grande, conforme compara Osvaldo Trigueiro. Sua presença na chefia política ofuscava o administrador legalmente investido no cargo de prefeito.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Jornal EVOLUÇÃO cobrava do Pe. João a abertura do sindicato dos trabalhadores rurais, fechado após o golpe de 1964


Apesar de não ter jamais plantado um pé de maxixe, o Padre João Gomes da Costa (foto) fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itabaiana, no início dos anos 1960. Era uma época turbulenta nos campos nordestinos, onde grupos de esquerda tentavam organizar os trabalhadores em torno das Ligas Camponesas, e os estamentos mais conservadores procuravam ocupar esses espaços, fundando sindicatos sob uma orientação mais moderada. Quando irrompeu a quartelada de 1964, o Padre João recuou e fechou o sindicato, provavelmente temendo ser acusado de incentivar os camponeses a buscar seus direitos trabalhistas, o que era considerada uma conduta própria dos comunistas.
Francisco Almeida cobrava do Padre João a abertura do Sindicato no jornal  EVOLUÇÃO.

“Reverendíssimo padre João Gomes da Costa, eu não sou jornalista, mas conheço o dever da imprensa que é o mesmo do historiador: ´procurar a verdade acima de tudo e apresentar aos seus leitores não o que a política estimaria que eles soubessem, mas a verdade tão profunda quanto ele a tenha podido atingir.` Para cumprir esse dever de procurar a verdade e difundi-la, não hesitarei ao maior sacrifício de minha parte, sabendo que, com isso, poderei arranjar muitas intrigas.

É o senhor sabedor de que, quando aluno seu, fui o primeiro a gritar contra as injustiças que vinha o senhor sofrendo quando diretor da Escola Comercial Dom Bosco. Sempre encontrou em mim um estudante que, a qualquer hora do dia ou da noite, estava pronto a ajuda-lo, bem como à escola. O tempo passou, adquiri minha conscientização política, dentro da lei, ao lado da justiça social e das reformas de base. O Brasil evoluiu muito em sua política social nos últimos anos. Trabalhadores começaram a gritar pelas reformas de base. As forças políticas e econômicas dividiram-se, uma parte contra, outra a favor. As forças reacionárias de nossa cidade viram o senhor fundar o sindicato, registrar, fazer eleições. Os poderosos, os reacionários, os exploradores viram nessa fundação, que considero um grande ato de justiça e luta por um padrão de vida para os menos favorecidos, um ato subversivo. Em certos pontos da cidade, onde os reacionários se encontram, faziam baixos comentários a seu respeito. Maso senhor, sendo ministro Daquele que mataram crucificado, superou tudo, levando o sindicato sempre para frente.

Em 1º de abril de 1964, o Brasil foi palco de uma revolução. O novo Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, recebe das mãos do Presidente da Câmara, deputado Raniere Mazzilli, o poder supremo da Nação. Com essa mudança, o senhor tomou uma atitude que é um ponto de interrogação e este é o motivo pelo qual lhe escrevo. Castelo Branco disse em discurso que não era contra as reformas, mas contra a corrupção e desordem. Eis um trecho do seu discursos: “Caminharemos para a frente, com a segurança de que o remédio para os malefícios da extrema esquerda não será o nascimento de uma direita reacionária, mas, os das reformas que se fizerem necessárias”.

Há uns dias, encontrei com um camponês filiado ao seu sindicato. Fez queixas, falou das mensalidades pagas, do sindicato fechado por vontade sua. E agora, Padre João? O seu sindicato não estava registrado, dentro da ordem, do direito e dos princípios democráticos? Por que não continua como antes?

Temos farinha porque o agricultor não duvida diante da mandioca madura; estátuas porque a dúvida não paralisa a mão do artista; ciência, porque o sábio não vacila ao entrar em seu laboratório; poemas, porque o poeta não se detém em discutir a utilidade do seu canto; amor, porque o coração não duvida quando pulsa, nem a virtude quando age. Padre, um só minuto de vacilação pode perder o homem, a moral, a honestidade, a personalidade. O senhor, padre, está vacilando. Ainda está em tempo de decidir. Ou reabre o sindicato ou explica ao povo porque fechou. Coloco nosso jornal à sua disposição para responder, não a mim, mas aos itabaianenses que muito comentam este assunto.

(Francisco Almeida)


sábado, 21 de novembro de 2015

POEMA DO DOMINGO



Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia - (3ª parte)


Voltou a pregar a luta
E a insubmissão
Entre os trabalhadores
Que era a sua missão
Na cidade estacionária
Itabaiana de então.

As “forças reacionárias”
Do primeiro de abril
Trancaram todas as portas
Democráticas do Brasil
Mas Francisco, corajoso,
Se recusa a ser servil.

No jornal EVOLUÇÃO
Continuava a jornada
Fazendo filosofia
Demonstrando, escancarada,
“a pequenez de um tudo
E a grandeza do NADA”.

Outra frase de Francisco:
“Temos poema e encanto
Porque o poeta livre
Falando de paz ou pranto
Não discute a utilidade
E a virtude do seu canto”.

Na cidade Itabaiana
Naquela fase sombria
O Antonio Santiago
Era “autoridade guia”
Chefe supremo da urbe
Quem fazia e desfazia.

O jornalista Francisco
Sem medo e sem covardia
Metia o pau no chefão
No jornal onde escrevia
Apesar de poderoso
Nele de frente batia.

Entre as acusações
Publicadas no jornal
Dizia que Santiago
Trouxe um “sujeito do mal”
Um tal de Tenente Serpa
Só para “baixar o pau”

“Dar surra e prender o povo”
Verdugo da ditadura
Desacatando a cidade
“Mas a fruta ta madura,
Um dia apodrece e cai
Com sua semente impura”.

Cecílio Batista era
Competente jornalista
O “Zé da Silva” afamado
Que d’O Norte era cronista
Filho de Itabaiana
Também entrou nessa lista

Dos que foram espancados
Pelo terrível tenente
Por falar mal do prefeito
Homem muito intransigente
Perseguidor e fascista
Conforme se vê na frente.

Só Chico teve coragem
De denunciar o fato
Por ter um homem de imprensa
Sofrido tal desacato
Narrando no EVOLUÇÃO
Toda vileza do ato.

O Antonio Santiago
Tornou-se seu grande algoz
Reprimindo a liberdade
Sua pena e sua voz
Com denúncias cavilosas
Ao poder supremo atroz

Dos poderosos fardados
Que comandavam a nação
Com mão e testa de ferro
Representando o grilhão
Da dependência econômica
E da vil sub missão

Ao interesse estrangeiro
Conforme a oposição
Que ainda tinha coragem
De falar e dizer “não”
Diante do terrorismo
Da tortura e delação.

Antonio B. Santiago
Foi um ativo informante
Da repressão verde-oliva
Conforme se vê adiante
Registro do EVOLUÇÃO
Daquele tempo inconstante.

Sessenta e duas denúncias
Aos órgãos de segurança
Envolvendo muita gente
Atingidos pela lança
Da delação cavilosa
Onde a memória alcança.

(Do folheto inédito “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia”, de Fábio Mozart – Continua no próximo domingo)