domingo, 23 de agosto de 2015

POEMA DO DOMINGO




Não fotografei você na minha Rolleiflex

Não perdi um só segundo
Mapeando minha dor
Um terno e poético mundo
Que a natureza criou.

Revi toda Itabaiana
De norte a sul, leste, oeste,
Solvendo o que mais me ufana:
A beleza que a reveste.

Todinha fotografei
Do seu centro aos seus recantos
E as fotos que tirei
Eu as revelei em prantos.

Só uma não revelei
A sonhada e derradeira
A única que não tirei:
Minha velha gameleira.

E daí vem o conflito
Maior daquela omissão,
Onde o poeta, contrito,
Pede a sua remissão.

É que a sonhada figueira
Não quis posar para mim,
Ela que fora altaneira
Bela, frondosa, um jardim!

Desgastada pelo tempo,
Assim como os sonhos meus,
Inda teve o sentimento
De me sugerir: “adeus”.

De tal maneira orgulhosa
Como toda majestade,
A quaxinduva mimosa
Negou-me a intimidade.

Não quis o “flash” luzente,
Ser assim fotografada,
Pra não soar decadente
Quem já fora decantada.

Mostrava-se ali chorosa
Na reflexão dos idos.
Alta, incólume, grandiosa,
De bons tempos bem vividos.

De forma que quando eu
Minha máquina acionava,
O mundo ficava em breu
E a figueira se afastava.

Com insistência eu tentei
Poeticamente um valor,
Mas, por fim, eu me cansei
E a máquina se quebrou.

Então tive a consciência
Que a forma é um acidente,
Que, ocultando a essência,
É poética eternamente.

Eliel José Francisco




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