sábado, 27 de dezembro de 2014

Memorial Sivuca e a arte conceitual

Instalação de arte conceitual – autor desconhecido

Estou lendo na revista “Cadernos de cultura”, de junho de 2010, editado pela então Subsecretaria de Cultura do Estado, uma matéria onde se anuncia a implantação em João Pessoa do Memorial Sivuca, com apoio do Ministério da Cultura. O próprio ministro Juca Ferreira disse que o memorial haveria de ser uma coisa grande, à altura de um dos maiores músicos do século XX em todo o mundo. Tanto que o projeto original teve que sofrer alterações para se adequar às necessidades de atender às questões de ordem museológica, além de arte educação.

Esse Memorial Sivuca seria coisa de primeiro mundo, uma instalação até futurista, com acervo físico, conteúdo digital, enfim, um complexo de cultura que seria localizado em um casarão na Praça da Independência, ao lado da Casa do Artista Popular. Um espaço único, com teatro, biblioteca especializada, salas para cursos, sala para leitura das partituras do Mestre Sivuca, museu, cafeteria, salas audiovisuais em alta definição, espaço para eventos nos jardins externos, para documentar, difundir e celebrar a obra e a memória do grande artista itabaianense, “tudo orientado pelas técnicas mais avançadas da museologia e da museografia contemporâneas.”

No memorial seriam instalados equipamentos audiovisuais com emprego de grandes monitores de LCD de alta definição, aparelhos de multivídeo panorâmico e todas as possibilidades de reprodução e ampliações fotográficas, com rica pesquisa iconográfica, documental histórica, de objetos, audiovisual, material didático, etc.

Antes, em 2009, o subsecretário de Cultura do Estado, David Fernandes, garantia que a implantação do Memorial Sivuca seria na cidade de Itabaiana, terra natal do grande artista paraibano. O local seria o prédio onde funciona a Loja Maçônica. “Fazer esse Memorial é uma das prioridades do governo, e vim apenas conhecer o local e anunciar ao povo de Itabaiana as palavras do governador José Maranhão, que o Memorial Sivuca vai ser feito aqui”, disse o subsecretário de Cultura.
Neste mesmo ano, o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, em entrevista exclusiva ao site ClickPB, revelou que o mais breve possível será construído na cidade de Campina Grande, um memorial em homenagem a Sivuca. “O anúncio foi feito em 10 de julho de 2009, nas presenças do secretário estadual de Educação, Sales Gaudêncio, e do secretário estadual de Cultura, Flávio Tavares. “Na luta pela escolha entre o agreste e o litoral, nossa preferência será por Campina Grande. Não que João Pessoa não mereça, mas a musicalidade de Sivuca está mais ligada à Serra da Borborema, pois as nascentes de culturas musicais polarizam aquela região”, explicou o Secretário, adiantando que “é pra ontem a execução do projeto.”
No ano seguinte, a revista garantia que o Governador José Maranhão seria o maior entusiasta do projeto Memória Sivuca, mas em João Pessoa. Pelo menos assim parecia em janeiro de 2010. A gente ousa perguntar: o que foi feito desse projeto tão grandioso e que seria a “menina dos olhos” do governador e até do Ministro da Cultura? Para onde foi destinada a verba desse suntuoso memorial?
Meu nobre amigo Valdemir Almeida, cônsul honorário da nossa Itabaiana em terras tabajaras, grande amigo do ex-governador José Maranhão, nas suas conversas com ele, poderia indagar a respeito disso?

Os artistas são seres despreocupados com o tempo. Consta que o artista plástico italiano Guglielmo Cavellini saía em seu iate do cais, sem se preocupar com o lugar para onde ia, ou quanto tempo duraria a viagem. Nessas viagens sem compromisso, levava convidados que depois quase enlouqueciam por perder compromissos, viajando em alto mar sem destino. Para Cavellini, o tempo e o espaço eram coisas do acaso. Tanto que, em 1994, programou um evento para o século seguinte, antecipando um acontecimento em que não estaria presente, em vida. Penso que é assim que funciona a burocracia oficial. Sem nenhum compromisso com o tempo. Esse projeto, tão urgente em 2010, vai fazer cinco anos em janeiro próximo sem que um único tijolo tenha sido assentado, seja em Itabaiana, João Pessoa ou Campina Grande.

Sem sair do tema, poderíamos supor que esse Memorial Sivuca seria uma espécie de arte conceitual, onde se valoriza mais a ideia da obra do que o produto acabado, sendo que, às vezes, este (produto) nem mesmo precisa de existir.

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