segunda-feira, 30 de junho de 2014

Quando a cidade mora na pessoa

Por Adeildo Vieira

Romualdo Palhano
Conheci Romualdo Palhano no início dos anos setenta quando comecei a cursar o ensino fundamental no Colégio Estadual de Itabaiana. Garotos com pés nos primeiros degraus da adolescência, vivíamos o exercício de explorar as possibilidades lúdicas da cidade, de prospectar as minas de alegria nos recantos mais recônditos dos sítios sem cerca ou dos estádios sem fronteiras na areia do rio, onde realizávamos copas do mundo de dentro. Para os jogos de sonhar eu era sempre escalado. E muitas foram as vitórias dos campeonatos contra a tristeza e a desesperança, momentos em que, sem saber, projetávamos um futuro de glórias.
Aquele foi o cenário onde construímos nossos castelos oníricos, de bases sólidas, frontispícios elevados e janelas escancaradas para o mundo. Depois daquelas experiências vivenciadas na adolescência, tudo o que fizemos em outras paragens na vida foi reformar aquele castelo, jamais alterando as estruturas montadas pelas cenas que deram sentido à nossa caminhada de viver. A alma de quem se dá aos movimentos da infância é vestida por malha tecida de esquinas e colorida por jardins e quintais. Hoje sabemos o quanto aquelas ruas de Itabaiana – ora de trajeto infinito, ora aparentemente sem saída, nos deram substância para sentir o mundo e o quanto nos ensinaram para viver este sentimento. Eu, nascido em Itabaiana, deixei minha cidade aos quinze anos incompletos. Romualdo, natural do Rio Grande do Norte, viveu na Rainha do Vale do rio Paraíba por doze anos, de 1969 a 1981, período suficiente para batizar sua vida nas águas daquele rio.
Não bastassem as cenas de rua no traçado de seus cometimentos lúdicos, Romualdo foi um dos fundadores do GETI – Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana, onde exercitou suas primeiras experiências teatrais junto a aventureiros incorrigíveis que insistem em moldurar a vida com poesia e de se embrenhar na luta de resistência contra os dragões do mal que vivem de sujar as vitrines da aurora. Ali o jovem ator encontrava a fornalha com que iria formar a matéria prima de seus dias, definindo sua profissão e sedimentando sua devoção pelo teatro. Depois de 33 anos que deixou a terrinha, foram dezenas de trabalhos realizados pelo artista, tanto no teatro como na literatura. A Itabaiana dedicou três livros que investigam a história da cidade em seus acontecimentos mais importantes, sobretudo no que tange às questões culturais que desenharam o seu perfil na linha do tempo.
É muito animador saber que há pessoas capazes de reconhecer a grandeza do lugar que montou o quebra-cabeças de viver no tabuleiro da infância. Melhor ainda é ver a contribuição que dão quando se debruçam no seu passado, ajudando-nos a conhecer as belezas conceituais já vividas e lamentar os novos conceitos que trocaram árvores por cimento, fecharam cinemas e teatros, viraram as costas para os personagens da cultura de raiz e flor, que roubam a areia do rio e que convidam o cidadão a abandonar sua terra em busca de outros horizontes.
Na semana passada fiquei muito feliz ao reencontrar amigos ativistas culturais da minha Itabaiana no lançamento de duas obras emblemáticas na busca do reconhecimento da cidade. Falo dos livros “Itabayanna – Entre Fatos e Fotos”, de Romualdo Palhano e o livro biográfico “Artistas de Itabaiana”, do jornalista, escritor, compositor e dramaturgo Fábio Mozart. São obras de afirmação cultural e política daquela que me deu a régua e o compasso composto no qual traço minhas canções.
Radicado no Amapá há vinte anos, Romualdo Palhano prova que há muito saiu de Itabaiana, mas a cidade que pintou sua adolescência nunca saiu de seu coração. Junto-me a ele e a todos que sabem reconhecer a grandeza do nascedouro da água pura.




domingo, 29 de junho de 2014

POEMA DO DOMINGO


Laranja-romã

Lugar de predição, auguratório,
meu prato me apresenta essa toranja
ao lado de outra comum laranja,
volátil e doce prestidigitação
da natureza que cria limão
em mil facetas do seu repertório.

Com base nesse dado objetivo,
só posso simplesmente achar
que o despropositado estar
fecundo entre desiguais
como se fossem frutos naturais
está acima do comum cultivo

e da biologia vegetal.
Ao descobrir assim esse pomelo
Inesperado, explanatório e belo
como improviso de um gênio louco,
meu pensamento comovido é pouco
para entender o sobrenatural

que aparece assim tão radical
em grapefruit tão surpreendente,
fora dos moldes, forte simplesmente
em sua cor linguagem escarlate,
exata forma inadiável e bate
com o projeto orgânico original.

Se foi manipulada a semente,
mistura de citrino e de jamboa,
comove saber que assim destoa
da verticalidade ocidental
em imutável tom celestial.
Disjunção da vida, simplesmente.

F. Mozart


sábado, 28 de junho de 2014

SEM ASSUNTO


Que assunto me ocorreu hoje pela manhã, ao acordar e tomar o suco dos dois limões regulamentares? Nenhum. Em que pensei distraidamente enquanto ligava o computador para ler as notícias? Em nada.
E preciso arrumar urgentemente um tema para a crônica de hoje da Toca do Leão para não passar vergonha diante dos meus seis ou sete leitores diários, entre eles meu considerado doutor Rômulo Bezerra, filho do ilustre dramaturgo José Bezerra Filho. 
Tem o caso de Rômulo, o gordinho sinistro que saiu do roçado dos girassóis e voltou ao seu ninho tucano. Rômulo e Remo, os dois meninos que mamavam nas tetas da loba italiana, sabe a lenda? Quando um peito secava, os garotos trocavam de teta. Mas, isso não dá sustança de crônica, assunto que causa ânsia de vômito na maioria dos dignos moradores da Paraíba velha de guerra e de safadezas.
Não vou ver o jogo no telão ou no bar. Não gosto de algazarra. Na remota juventude, apreciava ver a Copa tomando mel de tubiba. Hoje, não. Cumpro garbosamente as normas regulamentares para quem tem problemas com colesterol, fígado e esôfago. Nada de álcool. Verei meu Brasil varonil ganhar dos chilenos, ou não, na maior sobriedade. Caindo o Brasil, heroicamente tentaremos sobreviver, enfrentar a decepção como bravos patriotas de meia tigela. Se ganharmos, vibração por mais uma vez provarmos ao mundo nossa supremacia sobre todos os adversários na arte de fazer com o pé o que não conseguimos realizar com a mente. Somos uns bocós, mas, bons de bola.
Sim, adiei mais uma vez meu retorno às caminhadas, mesmo com o joelho doendo de artrose. Vou comprar meu novo tênis hoje, pra começar segunda-feira. Lembrei disso lendo meu compadre Bebé de Natércio: “Tava brincando com meu cachorro quando uma mulher, que eu não conheço, disse que eu precisava fazer regime pro cachorro que está gordo. Uma sociedade que se preocupa em fazer regime em cachorro, alguma coisa ta errada”.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O Fuleco é nosso, ninguém tasca


Quem pensa que a vida do blogueiro é mole está muitíssimo equivocado. Esse pobre profissional de porra nenhuma tem por obrigação moral escrever qualquer besteira todos os dias para postar no seu bendito blog. Postar não, publicar. Postar é referente ao ato de botar carta no correio, coisa que não se usa mais.
Espero a compreensão dos leitores nesse dia branco, para com este viciado em futebol. A Copa parou! Isso me dá um branco total. Só vai clarear amanhã, quando recomeça a Copa. A política da Paraíba tem tudo para ser alvo de mil comentários, debates, mesas redondas e quadradas e coisas e tais. Entretanto, não quero saber de nada além de futebol. Se não tem futebol, não tem assunto. Só vou arejar o juízo para outros temas nos meados de julho, quando acaba a Copa.
O Prêmio FIFA Fair Play será entregue à seleção com o melhor retrospecto disciplinar do torneio. Somente equipes que chegarem à segunda fase concorrerão ao prêmio, que foi vencido pela Espanha na África do Sul 2010. Uma pena, porque eu daria esse prêmio ao Didier Drogba, da Costa do Marfim, que fez uma “vaquinha” entre os colegas e juntou dez mil reais para dar de gorjeta aos empregados do hotel onde ficaram hospedados no Brasil. Outro africano também merecia o prêmio “Humanidade”, o camaronês Samuel E’too que abraçou chorando um garotinho negro brasileiro de dez anos de idade. Falou alto a ancestralidade. O craque não conseguiu mostrar seu futebol na Copa por conta de contusões, mas deixou sua marca de bom caráter.
O Troféu Jacaré vai para Luis Suárez, do Uruguai. Ele já pode se considerar um veterano na arte de morder o próximo. O italiano foi o terceiro que Luis morde em campo. Humilhou seu país e decepcionou seus fãs. O cara já tem um retrospecto de mau caratismo. Andou se envolvendo em episódios racistas na Inglaterra, onde joga. Tomou um esbregue da Fifa e foi expulso da Copa. Florindo o lance, tasco citação de Cervantes: “Para morder o próximo, é mais próprio a boca de uma velha desdentada do que os formosos dentes da mais florida juventude.”
Agradeço penhoradamente aos raros visitantes da Toca, esperando voltar sem maiores incidentes, carregando o Fuleco que vai ser nosso de todo jeito, segundo comentam nas rodas dos apreciadores da teoria da conspiração.

Sim, e domingo, 29, Pedro Osmar vai comemorar seus sessenta anos. A homenagem, que contará com a presença de importantes nomes da música paraibana, terá início às 15h na Usina Cultural Energisa, com entrada franca. A ação tem o apoio da Funesc.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Milagre do Papa Francisco com rapadura e moela de galinha

Louise, a noiva, com Arnaud Neto

O Papa Francisco já realizou seu primeiro milagre e está quase obrando outro. Milagrosamente, fui a uma reunião social no mês passado, jantar de casamento do meu filho Maximilien, e nesta quinta-feira irei a outro “comes e bebes”  nupcial, desta vez do outro rebento, Arnaud Neto, no Camarão Grill, praia de Jacaré. É que sou um sujeito absolutamente antissocial, não me prendo a padrões sociais de convívio, tenho horror a essas agendas. Só vou depois de transitado em julgado e ainda com direito a recurso.
Esse Arnaud Neto é um passarinho que eu criei, bom de bico e de sopro. Agora, vai fazer carreira solo na arte de organizar família. Deu de garra de uma mocinha que é feito mercadoria especial em loja de grife.
Não vai ser casamento agrinaldado, apenas um jantar em família, sem muita etiqueta, espécie de sessão de pré-estreia de batizado que já tem moleque encomendado.
Augurando paz e harmonia para os nubentes e alvará de funcionamento de benquerença nesse novo lar da família Costa, faço um brinde aos noivos “em guaraná com assento alegre no Á”, como despacha Jessier Quirino no seu “Papel de bodega”, livro/CD que acabei de devorar e ainda me encontro “palitando os incisivos”. No disco de Jessier Quirino, Arnaud Neto faz uma participação aflauteada na música “Ave Maria das mangueiras”.
Pego carona nesse “Papel de bodega” do cumpade Jessier para anunciar o cardápio do jantar comemorativo casamenteiro:
PRATOS
Pro bom emagrecedor meia salada basta – Pires de alface sem vinagre e sem azeite.
Toda bundeza será castigada – Bunda de tanajura enjoada na manteiga.
Depois do palito com água – Rapadura aos tacos e suco de torneira aos goles.
Fatos complicados – Moela, fígado e coração de galinha ao tormento de cabidela.
Engana q’eu gosto – Galinha de granja servida em penas de capoeira.
Peito de frango à Prestobarba – Frango de primeira barba fatiado na gilete.
Feijoada com complicador de estômago – Requentada & remendada pra viagem.
OPÇÃO – Contas separadas servidas em molho inglês.


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Livro ainda é a melhor fonte de pesquisa


Biblioteca pública de São José dos Ramos

A Biblioteca Comunitária Arnaud Costa, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, tem no seu acervo um livro raro, escrito pelo General Frederico Mindêllo Carneiro Monteiro, nascido em Itabaiana em 26 de maio de 1903, filho do Desembargador e chefe político de Itabaiana, Heráclito Cavalcanti Carneiro Monteiro. O livro “Um magistrado na política” narra a história de vida desse paraibano. Heráclito Cavalcante Carneiro Monteiro foi chefe político de Itabaiana até 1915, quando passou a exercer o cargo de Desembargador. Mas nunca deixou de ser influente no Município. Na revolução de 30, foi perseguido pelos adeptos de João Pessoa. Queimaram a casa de Heráclito Cavalcante em Itabaiana e perseguiram seus familiares.

Heráclito foi o criador do Orfanato Dom Ulrico, em João Pessoa. Esta associação filantrópica ainda hoje existe na Avenida João Machado, embora deserdado de boa parte de seu terreno, que foi vendido em transações misteriosas a uma empresa funerária. “Dizem que a transação envolve Cícero Lucena”, informa Drika Rocha, uma moça que morou dos seis aos dezesseis anos no orfanato e que agora está fazendo um trabalho acadêmico para final do seu curso de Arquivologia na UEPB, sobre o Orfanato. Está tentando reunir documentos sobre a história do Dom Ulrico e soube que temos esse livro do filho do Desembargador Heráclito, o grande patrono da instituição filantrópica.
Drika 
Drika lamenta que árvores frutíferas centenárias tenham sido cortadas na área que foi vendida à casa dos mortos. Foram plantadas pelo próprio Heráclito, precursor do conservacionismo dos recursos naturais. Em Itabaiana, ele arborizou toda a cidade com os famosos ficus benjamina e acácias. Na época, a cidade comemorava todo ano sua exuberância botânica com uma festa das rosas nos seus caramanchões e no coreto, obra mandada vir da Inglaterra pelo próprio Heráclito em 1904.
Drika ainda lastima que João Pessoa, a cidade, não conheça a “edificante história do Desembargador Heráclito”, que teve seu nome escondido das crônicas oficiais pelos áulicos do Presidente João Pessoa depois de sua morte. Em Itabaiana, sua terra natal, ele não é nem nome de rua, embora tenha sido uma figura de destaque na história da Paraíba, tanto que é homenageado no Recife, dando seu nome a um logradouro na capital Pernambucana.
O livro “Um magistrado na política” está emprestado ao departamento de comunicação do Tribunal de Justiça da Paraíba, que faz um trabalho de pesquisa sobre a vida dos desembargadores que por lá passaram e deixaram sua marca. Quando for devolvido, repassarei para a estudante Drika Rocha, cada vez mais consciente de que o livro, qualquer livro, é de fundamental importância para o desenvolvimento das sociedades e para o crescimento intelectual do indivíduo, lamentando que na terra de Heráclito Cavalcanti não tenhamos uma biblioteca pública decente, equipamento que a novíssima cidade de São José dos Ramos e a bicentenária Pilar, nossos vizinhos, têm para servir às suas populações.




terça-feira, 24 de junho de 2014

Carta do meu compadre Evanio Teixeira


Entre inúmeras mensagens dos mais ilustres amigos que com certeza meu compadre Fábio Mozart deve ter recebido, com votos de felicitações pela grande festa no lançamento do seu livro "Artistas de Itabaiana", quero registrar minha humilde opinião, dentro desse contexto cultural onde sou um eterno aprendiz que diariamente procura uma fresta em meio a esse emaranhado nem sempre compreendido por quem deveria compreendê-lo, procuro sempre buscar e reconhecer o verdadeiro valor, reconhecer a grandeza do humilde e a simplicidade de quem sempre busca fazer o bem.  Quero parabenizar a você, Fábio, pelo esforço e pela força em levantar essa bandeira. A bandeira da cultura e da cidadania, pois através da leitura nos tornamos mais cidadãos "conscientes".
Confesso que fiquei com uma pontinha de inveja por não ter tido o prazer de estar presente ao evento, em decorrência de compromissos com a Universidade. Quem me dera que aqui em Pilar tivesse pessoas do seu quilate, que pensasse sempre no bem coletivo, que não colocasse sempre o individualismo na frente de tudo. Pode ter alguns, mas, com certeza, encontram-se oprimidos, buscando uma chance de mostrar seu valor.
Mais, voltando ao que importa. Estendo os votos de felicitações a todos que compõem o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, verdadeiros heróis que se preocupam em tornar viável o que pra muita "gentinha" é tido como bobagem e até fazem pouco caso por não ter uma visão humanista das coisas. Finalizo com um imenso abraço ao compadre e amigo Fábio Mozart, reafirmando minhas sinceras felicitações.

Evanio Teixeira
Pilar/PB


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Por que Itabaiana não evoluiu?

Uma visão de fora sobre a realidade itabaianense
Dalmo Oliveira
Na noite da sexta, 20, a sociedade itabaianense viveu mais um momento de júbilo e glória com a festa em comemoração aos dez anos de funcionamento do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, mantido sob os auspícios da Sociedade Cultural Rainha do Vale. O evento atraiu de volta à cidade personalidades importantes, filhos naturais de Itabaiana, ou pessoas que tiveram suas vidas profissionais vinculadas à terra de Zé da Luz, Sivuca e Jessier Quirino.
O fato é que, o Ponto de Cultura, comandado por Fábio Mozart, completa uma década de resistência cultural, numa cidade que, parece, esqueceu-se de si mesma. Lendo o livro do professor Palhano, “Itabayanna – entre fatos e fotos”, dá para perceber que houve um momento na história que Itabaiana teve tudo para ter se tornado a segunda maior cidade paraibana, suplantando até a Rainha da Borborema: recebeu infraestrutura como energia elétrica e estrada de ferro bem antes que outras cidades interioranas; desenvolveu comércio e serviços atípico para as províncias da época; possui uma elite antenada, letrada, culta e vanguardista. Então se pergunta: porque Itabaiana estancou?
Minha suspeita é porque a elite itabaianense não incluiu o povo em seus planos de futuro. Não planejou a cidade para evoluir, como fez Campina. Pensou pequeno. Se conformou com o título de estância de refúgio para pneumáticos e tuberculosos. Negou a participação popular. Silenciou a cultura negra e indígena. Exportou seus filhos para fora da Paraíba e do Brasil. Não investiu na criação de polo universitário. O resultado foi a derrocada do comércio e dos negócios. A fuga de investidores capitalistas e de talentos em todas as áreas.
Não fosse o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Itabaiana estaria vivendo apenas do seu passado cultural glorioso.
por Dalmo Oliveira
(Jornalista, radialista e blogueiro)



sábado, 21 de junho de 2014

POEMA DO DOMINGO

O poeta Jessier Quirino esteve no lançamento do meu livro Artistas de Itabaiana, onde me deu de presente seu último livro, “Papel de bodega”. “Ao amigo Fábio Mozart, um abraço forte e seguro feito ostra em pé de ponte”, escreveu ele na dedicatória.
Na folha de rosto do excelente livro de Jessier, já vem o humor do poeta:

É melhor ser meio doido do que ser meio tantã
Qualquer dor de madrugada dói bem mais que de manhã
Don Juan era gostoso, mas bem menos que o Tarzan.

Irmã Dulce é bem mais alta do que Claudia Cardinale
Um bafejo na urêia esquenta mais que um xale
Charles Chaplin é mais artista do que 200 Woody Alen.

E como hoje é domingo, vai o poema “Carrossel na chuva”, do mestre Jessier, de quem Rolando Boldrin falou: “é um poeta inigualável”.

Carrossel na chuva

Seria pura alegria
Um domingo de recreio
Camisa nova de malha.
Viagens, lendas, batalhas,
Epopeia aventurosa
Num cavalo de aluguel.

Mas  nem música nem zuada
Nem maçã caramelada
Nem pipoqueiro ou floreio
Nem bombom no tabuleiro
Nem ingressos, nem sucessos
Nem pirulitos de mel...

Foi domingo acinzentado
Sonolento e anuviado
E choveu no carrossel.

Não campeei pelo mundo
Não me amostrei pra Maria
Não me esbaldei na alegria
Não sorri com dente novo
Não fanfarrei com o povo
Não vi o povo girar.

Não conheci Panamá
Nem guerra do Paraguai
Não acenei pra mamãe
Nem dei adeus a papai
Não persegui samurais
Não me alistei num quartel.

Foi domingo acinzentado
Sonolento e anuviado
E choveu no carrossel.

Já fui rei, já fui monarca
Fui campeão de rodeio
Já fui os Três Mosqueteiros
Já fui caubói bom de laço
Já fui lanceiro de aço
Fui São Jorge lá do céu.

Mas domingo foi nublado
Sonolento anuviado
E choveu no carrossel.

Se essa chuva...
Se essa chuva fosse minha!
Eu mandava, eu mandava neblinar
Com neblinas, com neblinas de lembranças
Para o meu carrossel rodopiar.


Obrigado por terem vindo para nossa brincadeira


Eu, o "índio" Osório Cândido e sua irmã Cassiana Roque

Dr. Romualdo recebe diploma de Cidadão Itabaianense do vereador Ubiratan Correia



Ontem foi dia de reencontro de velhos amigos em Itabaiana, lançamento do meu livro “Artistas de Itabaiana” e da última publicação do Dr. Romualdo Palhano, “Itabayanna – entre fatos e fotos”. A função se deu no salão da Loja Maçônica Duque de Caxias, ao lado do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, cuja área externa ficou pequena para acomodar tanta gente que veio prestigiar nosso compadre Romualdo na entrega do seu diploma de Cidadão Itabaianense, honraria recebida das mãos do vereador proponente, nosso considerado Ubiratan Correia.

Tive a satisfação de rever meu compadre Osório Cândido, esse índio Cariri afastado da sua aldeia por muitos anos. De Maceió veio meu compadre Joacir Avelino, outro comparsa que vive longe da gente, mas não teve como resistir ao convite do reencontro com os amigos da nossa geração. Quem esteve por lá também foi o poeta Jessier Quirino, o escritor Damião Ramos Cavalcanti, o cronista Gonzaga Rodrigues, a nova Presidente da Associação Memória Viva, Margaret Bandeira, o companheiro Valdo Enxuto, os vereadores Rosane Almeida, Júnior Pacheco, Semeão Rodrigues e Ubiratan, os maestros Luiz Carlos Otávio e Josino Mendes, os atores Luiz Carlos Cândido, representando a Fundação Espaço Cultural, e Fred Borges, o compositor Sostemar Matias, o poeta Agenor Otávio e seu inseparável irmão de sangue e de letras, Orlando Otávio, o nosso Adeildo Vieira que veio complementar sua comemoração pelos 30 anos de carreira artística, entre tantos outros itabaianenses. Uma ausência sentida foi do poeta Sander Lee, que ficou de atuar como mestre de cerimônia. Acabei por ter que substituir esse compadre profissional e fiz uma apresentação muito sem cerimônia.

A família do Dr. Romualdo Palhano compareceu quase toda. Sua mãe, dona Hilda, os irmãos Bernadete, Roberto, Ecílio e outros parentes. Quanto a mim, a noitada foi generosa. Vendi mais de 50 livros, um número razoável para esse tipo de evento em nossa cidade. Mui honroso e gratificante.


Na parte artística, tivemos o lançamento do DVD “Boi de Menino”, do projeto Cavalo Marinho do Mestre Ciço, com patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos. Ao final, cantoria com o mestre Adeildo Vieira e Orlando Otávio com o maestro Luiz Carlos dando uma palhinha. 

Eu como Mestre de Cerimônia, sem traquejo para o papel

Professor Damião Ramos Cavalcanti, Presidente da Academia Paraibana de Letras, fala sobre a importância da preservação da memória cultural

Adeildo Vieira cantou algumas canções autorais

Maestro Luiz Carlos Otávio e Orlando Otávio



sexta-feira, 20 de junho de 2014

Nasce um repórter e renova-se uma entidade cultural


Diretoria da Memória Viva


A comadre Margaret Bandeira foi eleita Presidente da nossa coirmã, Associação Cultural Memória Viva de Itabaiana. A eleição ocorreu ontem, 19, e daqui envio minhas congratulações aos que fizeram parte da chapa aclamada, entre eles meu compadre Artur Anderson. 

Esse Artur é um jovem universitário a quem louvo a competência. Ele mandou um material jornalístico sobre a eleição da Memória Viva para publicação nos blogs e difusão nas emissoras de rádio. Artur nunca chegou perto de um livro técnico/teórico de jornalismo, mas é uma criatura embasada e capacitada para escrever um texto informativo sobre um acontecimento do qual participou ativamente. Isso sem ter diploma de jornalista. Simples assim. É como diz João Costa, ator e radialista, ótimo jornalista formado na UFPB: “jornalismo não é ciência; para ser jornalista, basta saber ler e escrever, além de ter uma dosezinha de caráter”.

Eu mesmo faço jornal há mais de quarenta anos e nunca frequentei universidade. Nesses anos todos, leio quase diariamente livros de direito, psicologia, literatura, história, geografia e o mais que se pode ler nos facebooks, twitters e outros sítios que se oferecem como leitura na grande rede de computadores. Não quero estar inserido no mercado, não estou tomando a vaga de nenhum jornalista diplomado, meus erros, quando os cometo, se igualam a qualquer outro cometido por gente formada e não põem em risco as vidas das pessoas nem o bem estar do planeta. Só exijo meu direito de me expressar, seja aqui nesta Toca, nos meus blogs que atualizo diariamente ou no meu jornal impresso. 

Portanto, Artur Anderson, parabéns pela sua matéria sobre a eleição do Memória Viva e continue sendo jornalista, toque seu barco de repórter que o público consumidor de informação não vai protestar, mesmo porque seu texto é bom, tem qualidade, com ou sem diploma. E deixe o mundo falar, deixe a rapaziada dos cursos universitários de jornalismo pensar que você não tem princípios só porque não tem o canudo, porque você tem consciência da responsabilidade que carrega ao transmitir uma informação. 

É possível comprar um diploma, e isso não o torna jornalista. Louvo, portanto, o repórter autodidata Artur Anderson, como os demais correspondentes do jornal Tribuna do Vale, meu compadre Evanio Teixeira, comadre Andrea do Monte de Pilar, Ino Lucas de Juripiranga, Mariah de Pilar e os demais excelentes repórteres cujo trabalho não desequilibra a qualidade da imprensa nem mexe com a normalidade institucional. Apenas dá prazer a quem o faz amadoristicamente, prestando um serviço à comunidade. Porque nenhum jornalista diplomado vai sair dos seus cuidados na capital para cobrir um evento comunitário em Pilar, por exemplo, pois não atende aos interesses capitalistas do seu jornal, rádio ou TV.