quarta-feira, 30 de abril de 2014

Meu povo bom de Mari

            
Quadrilha junina em Mari
            O grande poeta português Fernando Pessoa acreditava que, por mais que o homem saiba, sempre tem alguma coisa para aprender com as pessoas, não importa se essas pessoas são cultas ou ignorantes. “É regra da vida que podemos, e devemos, aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministram os estúpidos, há lições de firmeza e de lei que nos vêem no acaso. Tudo está em tudo”, resumiu o imortal Pessoa.

             O historiador Peter Burke diz que “a história das pessoas comuns e sua relação intrínseca com a estrutura social é muito importante; a história dos mais esquecidos, dos marginalizados pela história oficial é essencial para a compreensão dos fatos, pois a história deve ser vista de baixo. Isso abre a possibilidade de uma síntese mais rica da compreensão histórica através da experiência cotidiana das pessoas”.  Essa é a ideia de um livro sobre a cidade de Mari, falando da história da cidade a partir de depoimentos e perfis das pessoas simples, algumas de excepcional capacidade criativa, homens e mulheres do povo citados na dinâmica do coletivo, na construção de uma identidade mariense.

             Compadre Castor, meu assessor para assuntos de botequim, é quem resume essa tese: “lugar de filosofar é em casa de rapariga”. Meu livro não tem orelhas, que ele não usa óculos, dispensando, portanto, este acessório anatômico, mas conta com apresentação do ilustre professor Josa. No livreto desfilam os imortais Chapéu do Correio, Caveirinha, Manoel do Bar, Nelson do Bar, Biu da Pedra, poeta Zé Hermínio, a cafetina Maria Pintada, o cantor brega Heleno Boca de Rosa, o locutor Assis Firmino e tantas outras figuras de proa da história não oficial de Mari.

             O livrinho recebeu o nome de “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, dedicado aos amigos que fiz quando morei por lá, chegando naquela cidade em 1988, ocasião em que o Município comemorou 30 anos de emancipação política. Fiz então um esboço incompleto da história mariense para ser teatralizado, o que realmente foi realizado com o Coletivo Dramático de Mari, conjunto cênico que fundei na ocasião. A direção ficou a cargo do competente Carlos Cartaxo. Foi nosso primeiro trabalho teatral na terra de Adauto Paiva, de quem ouvi falar com as melhores referências pelo seu caráter e espírito de doação à causa do folclore e da cultura em geral, como um intelectual sensível que foi.


terça-feira, 29 de abril de 2014

Trem do agreste saiu dos trilhos por causa dos irmãos cara de pau, segundo o blogueiro João


Deu no blog do João (http://www.politicandus.blogspot.com.br/) e eu aqui comento porque tem a ver com história de trem. Sou ferroviário aposentado e vivo de lembranças desse meio de transporte que é mais que um modal, faz parte da nossa cultura de forma indelével.

Diz a lenda que o nosso incansável Vavá da Luz, Secretário de Turismo do Ingá, assumiu o cargo e viu no trem do forró uma possibilidade boa para alavancar o turismo da região entre Ingá e Itabaiana. Procurou os prefeitos das cidades do trecho para levantar um projeto de criação do Trem do Agreste que viajaria o ano todo transportando turistas e incrementando as economias quebradas dos municípios onde passaria o trem.

O plano de Vavá da Luz tinha tudo pra dar certo: ele é amigão de Luciano Agra, que é de ingá e, por sua vez, unha e carne com Luciano Cartaxo, prefeito de João Pessoa, irmão gêmeo do Superintendente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, Lucélio Cartaxo. Tráfico de influência daqui e dali, se houvesse boa vontade, os trens estariam nos trilhos do turismo agrestino em pouco tempo.

Ocorre que, segundo o blog do João, "Luciano Cartaxo (PT) andou escanteando o "véio" AGRA que por ele fizera de tudo: enfrentou até uma Bezerra Braba (Estelizabel) e um general - Ricardo Coutinho - da época do Czar (Rei Russo). Tudo bem acertado antes das eleições municipais, Ingá do Bacamarte teria sua rota inserida no percurso do trem, Vavá da Luz sairia bem na fita, teria mais prestígio junto do Manel da Lenha (prefeito do Ingá) e prefeitos da vizinhança, a população ficaria mais animada, geraria mais emprego e renda, os turistas ganhariam, pois Ingá e região são um parque turístico do caralho, linda por natureza. A política carcomeu e corrompeu as velhas amizades, fez quebrar o laço de dignidade, acabou com Vavá, tacou merda em Ingá, fechou com a cara de Agra, Luciano começa a sofrer as dores das críticas e a ser desmascarado até mesmo pelos seus antigos amigos a começar, claro, pelo vereador Raoni Mendes que declarou aberta a temporada de caça aos gêmeos.”

João lamenta que Lucélio e Luciano, “que são cagado e cuspido a mesma fuça”, não tenham mais atendido Vavá da Luz. “Nós sabemos porque Lucélio não atende a uma pessoa tão meiga e gentil como Vavá da Luz, é porque não tem o que dizer, prometeu e não cumpriu”, diz João. Ele pede para que a comunidade de Ingá que mora em João Pessoa, uns dois mil votos, não votem nos irmãos Cartaxo que botaram terra no trem de Vavá da Luz. João garante que, desse jeito, os irmãos Cartaxo vão tomar o bonde errado e perder o trem da decência.





segunda-feira, 28 de abril de 2014

Presente de elite


Otto Cavalcanti

O artista plástico Otto Cavalcanti, hoje com 84 anos, é um dos mais importantes pintores que atuam na Europa, a partir da Espanha. Nasceu em Itabaiana e sonha em deixar um pouco do seu legado na sua terra natal. Sua esposa, Margarita Solari Pascual, manda dizer que ele tem especial carinho com o coreto de Itabaiana e seu entorno, onde brincou quando criança na pracinha. Margarita informa que seu marido está disposto a oferecer uma de suas esculturas, gratuitamente, à sua cidade berço para embelezar a praça do coreto no seu centenário e divulgar a arte desse conterrâneo ilustre.

Penso que nossa praça iria ficar muito bem assistida com a escultura de Otto. Pode ser um grau de loucura, mas às vezes acredito na boa vontade e no patriotismo dos meus patrícios. Sou um sujeito historicamente otimista. É a parte que mais me comove na minha psicologia. Por isso acredito que as autoridades itabaianenses terão interesse em receber esse presente de Otto Cavalcanti e inaugurar em grande estilo sua escultura na praça, no aniversário de cem aninhos do coreto, com concertos, festas e romarias. De quebra, uma oportunidade ótima para os senhores políticos discursarem, que o proselitismo faz parte dessas situações, não tem como fugir.

Para o povo da oposição, eu digo: vamos maneirar, gente! Nesse mês de aniversário da cidade e do coreto, em vez de grosseria, de discussão, de provocações e indelicadezas, que tal a gente se unir e pedir aos administradores da cidade que recebam com glória e festa esse presente tão bonito e significativo, essa obra de arte de um itabaianense que é quase contemporâneo dos jardins e da pequena e tão simbólica construção de ferro, vinda da Inglaterra para marcar eternamente a terra do poeta Zé da Luz?

Afinal, tanto o coreto como o próprio Otto Cavalcanti e sua obra são patrimônios culturais que não podem ser medidos pelo tempo, porque o transcendem. Daqui a cem anos, estaremos todos no andar de cima. As civilizações se sucedem no mundo, há milhares de anos. Só ficaram registrados os grandes monumentos como o Taj Mahal, uma das maravilhas do mundo, e o nome do seu criador, Shah Jahan, imperador Mongol. Da mesma forma, os livros de história registrarão o centenário do nosso coreto, guardadas as devidas e abissais proporções, e o nome do administrador que bem cuidou desse patrimônio, agregando valor artístico à praça com a escultura de Otto.

Comparações idiotas à parte, termino por citar o livro de Provérbios para lembrar que temos o dever moral para com as gerações futuras de cuidar de nosso patrimônio: “Aquele que derrubar a sua casa, herdará o vento”.





domingo, 27 de abril de 2014






O jornal Tribuna do Vale em sua versão impressa vai sair mês que vem em edição especial para o aniversário da cidade Itabaiana. Estou tramando uma parceria com o publicitário Rinaldo Pessoa (foto), da agência RPG Comunicação, que deve ampliar sobremaneira nosso base de anunciantes e dar nova cara ao melhor jornal impresso do vale do Paraíba, com mais de dez anos de circulação, reconhecido pela ética e responsabilidade no tratamento da notícia.

Hospital Regional de Itabaiana ganha ambulância nova para atendimento. Ótima oportunidade para político oportunista querer pegar carona, dizer que foi ele quem conseguiu. Só não apareceu padrinho ainda porque a notícia foi dada em primeira mão pelo “Tribuna do Vale” online, a partir de informação de fonte oficial. Não deu tempo dos caras operarem seu clientelismo de meia tigela.


Humberto de Almeida escreveu em seu blog que ficou viciado “nas bem traçadas de Fábio Mozart”. Com isso, tenho apenas três problemas, dois pequenos e um grande. Os pequenos: terei a responsabilidade de manter atualizada esta Toca para não decepcionar o ilustre leitor e manter a determinação, embora intangível, de escrever à altura do mestre Humberto. O problema maior: parecer um cronista inovador e criativo, sem resvalar para o saudosismo, os bons tempos e outras bobagens do gênero. João Ubaldo Ribeiro: “saudosismo é uma espécie de masturbação sem verdadeiro prazer, uma inutilidade atravancadora que geralmente é perda de tempo”.

Pegando carona ainda no ótimo João Ubaldo, eu existo mais no folclore do que na vida real.

Se está difícil pra você, imagina pra quem tentou achar um lugar no bloco dos puxa-sacos de Cássio ontem em Itabaiana. O cordão não deu pra todo mundo.

As pesquisas mostram que, fosse hoje o pleito, 62% dos eleitores não votariam em ninguém.

Prefeituras por aí já em clima de Copa: tudo atrasado e superfaturado.

“Os jovens que saem das escolas de jornalismo, com a vida pela frente, parecem desvinculados da realidade e de seus problemas vitais.” – Gabriel Garcia Márquez

Tem um bar aqui chamado Boy Tico. Poeta Maciel Caju, quando quer tomar sua cana, só toma no Boy Tico.

Concentração da Marcha da Maconha em São Paulo já começou. Pra quem quiser comparecer, basta seguir o fumacê.

Priquito de Pau era uma puta que morava em Itabaiana. Casou-se com Lambe Loiça e Tesourinha, os três viveram felizes para sempre.

Por decisão do STF, filho de Beira-Mar é solto. STF absolve ex-presidente Collor de crimes de corrupção. Os advogados dos assassinos do menino gaúcho Bernardo – o pai, a madrasta e uma amiga -, estão confiantes na absolvição do trio.

A soma dos votos brancos, nulos, rejeição e aqueles que não quiseram responder, está perto de 40%, um patamar inédito.

Cristão configurando a Bíblia para esses tempos de solidariedade e socialismo: "O Senhor é nosso pastor e nada nos faltará”.

Itabaiana e seus recordes: é a única cidade da Paraíba cuja prefeitura não tem ambulância. A ambulância que circula é de propriedade de um motorista da Prefeitura e vereador.



sábado, 26 de abril de 2014

Coreto centenário

Encontro no coreto. Padre Antonio Costa, Vigário de Itabaiana-Paraíba de 1954 a 1956, com paroquianos. Nevinha Melo, Bernadete Galvão, Dalila, Eliete Fonseca, Ana Oliveira, Naninha Queiroga, Luiz Barbosa, Dalvinha. Foto cedida por Francisco Amâncio. e publicada no blog da Associação Memória Viva

O coreto de Itabaiana do Norte vai fazer cem anos em 2014. Está necessitado de uma reforma em suas estruturas centenárias. A praça do coreto já foi devidamente e brutalmente descaracterizada.  Esse coreto é o símbolo da cidade, mereceria melhor tratamento.

Não sei se o prefeito atual, Antonio Carlos, tem recursos guardados para restaurar o coreto. Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, não vai ter grana para essa obra.

O restauro deve ser bem salgado. Precisa de um trabalho quase artesanal de recuperação dos adornos em ferro batido. Sensibilizar as ditas autoridades responsáveis seria papel da comunidade dos seus representantes, os vereadores, para a urgência desta restauração. A Secretaria de Cultura dispõe de quase um milhão para financiar suas metas e prioridades para 2014. Projetos que vão desde torneios de futebol até carnaval, passando pelo trem do forró e pela manutenção da banda filarmônica Nova Euterpe. Para o velho coreto, não foi disponibilizado nenhum centavo de real.

O desocupado Ameba, conhecido como “gosto ruim”, já andou comentando que, se for comemorado o centenário do coreto, ninguém espere apresentações acústicas de chorinhos, bandas filarmônicas, samba e MPB. Será na base do “forró bundinha” e “esquenta”, bem ao estilo populista do alcaide. Que seja, desde que o coreto renitente e resistente ganhe uma demão. Os itabaianenses se dariam por muitíssimo satisfeitos. 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Estou vendendo meu carro velho


Abandonarei a vida de motorista, passando para a prática generosa e solidária de pedalar minha bike porque o ritmo da juventude é acelerado e estou entrando na faixa dos sessenta, hora de dar um breque e ir devagar.

Há quem me ache um idiota, outros aplaudem minha atitude. Não se pode legislar sobre esse tipo de coisa e cada um tem seu projeto de vida, com direito a achar que é o máximo. Trata-se de algo subjetivo. O combustível pela hora da morte, o trânsito neurótico e eu não tenho essa vaidade tola de ostentar patrimônio através de um automóvel. Vou parar de acelerar e andar só nas duas rodas, mesmo sem ciclovia que me ajude nem respeito da maioria dos emboladores de quatro rodas.

Para quem quiser comprar meu bodinho GOL 2001, é meu dever já saudoso informar que o dito cujo é o mais econômico da praça, fazendo até 14 quilômetro na buraqueira da cidade, sem atentar a problemas tais como pintura velha e desbotada, pneus com fortes sinais de calvície, amortecedores vencidos e uma tossezinha suspeita no motor de mil cilindradas. Costumava manter em dia a manutenção do meu bodinho, mas parei faz décadas. Aliás, tudo faz décadas depois que você entra no túnel tenebroso da terceira idade.

Um certo espírito de porco aconselhou vender para um desmanche, mas não quero ter problemas futuros. Meu compadre Jacinto Moreno vendeu seu possante Voyage 1980 sem dar baixa na documentação nem quitar IPVA, multas e licenciamento, porque o valor do carro não passava de 500 pratas, não compensava. Resultado: o comprador bateu no poste com o carro, acabou o restante da máquina e nem pagou a compra. Jacinto ainda hoje deve ao Detran. O Voyage dorme o sono dos justos no cemitério de automóveis do departamento de trânsito.

O preço, a gente entra num acordo. O carro está comigo no valor de 12 mil reais há mais de oito anos. Como é que eu vou calcular sua depreciação, se ele só me deu conforto e rapidez nesses anos todos, deduzidos alguns percalços naturais no mundo mecânico? Acostumei a ser um dependente de automóvel, uma cultura que produz gente histérica e de baixo nível de solidariedade. Leva-se um certo tempo para se livrar dessa estupidez.




quinta-feira, 24 de abril de 2014

DETECTOR DE POSTAGENS MENTIROSAS


Aviso à praça que já estou dominando um programa de detector de mentiras virtuais. Ele diferencia a verdade da mentira online. O sistema automatizado identifica conteúdos duvidosos como tratamentos enganosos, mensagens hipócritas de protestantes e católicos “falsos à bandeira”, alarmes falsos e denúncias infundadas, além de notícias equivocadas ou completamente enganosas. Sim, e aqueles comentários dissimulados tipo “você está linda, querida!” também são detectados pelo sistema. 

Postei isso ontem no Facebook e meu compadre poeta Quelino Sousa lembrou de uma crônica nossa sobre o assunto. Aí vai:

O homem que não sabia mentir

Fábio Mozart

Tem um sujeito maluco pros lados de Recife que escreve num blog coisas corriqueiras, mas com um gosto bom de feijão verde com galinha torrada e manteiga de garrafa. O nome do sujeito é Samarone Lima. Outro dia ele escreveu uma crônica sobre um cara que não mente nunca.

Uma do dito não-mentiroso: “Estava na praia com uma namorada, tomando uma cerveja, minha mulher me ligou no celular. Atendi. Ela perguntou onde eu estava. Respondi que estava na praia, com a namorada, tomando uma cerveja. Ela disse que não gostava dessas brincadeiras, e desligou o telefone na minha cara”. A moça que estava com ele na praia perguntou quem era. “Era minha esposa, querendo saber onde eu estava”. “Aprendi isso com um louco que conheci há alguns anos. Ele nunca mentia. Comecei a fazer isso, e dá certo”.

Imaginem como seria o mundo, se todo mundo falasse a verdade o tempo todo. Teria graça? O meu amigo Aguinaldo Pabulagem, o mentiroso mais engraçado e charmoso que conheço, não seria reconhecido pela sua verve e imaginação. Mentir é uma arte, que quando levada a sério e exercida com talento, torna o mentiroso um escritor, teatrólogo, poeta, novelista, político ou mentiroso mesmo, desses de mesa de bar, figuras impagáveis como o finado Índio, em Itabaiana, aquele que botou um boteco onde estava escrito na placa: “Bar da Verdade”. Famoso por suas mentiras, Índio costumava dizer que numa grande enchente no Recife, seu velho rádio ABC “A Voz de Ouro” minava água ao transmitir as notícias da tragédia. Isso em Itabaiana!

Nesta cidade cheia de histórias e estórias, dizem que o maior mentiroso aqui nascido e criado foi o velho Zé 41, um caçador de rolinhas perito na arte de mentir. Conheci grandes mentirosos, sem citar nomes porque o artista da mentira não gosta de ser reconhecido como tal, a não ser que já tenha o nome consagrado.

Como a mentira tem pernas curtas, não posso deixar de lembrar meu companheiro Luiz Bobinho, ferroviário baixinho e animado. Se Luiz Bobinho chegasse e dissesse “eu estou mentindo” ninguém acreditaria, porque isso só seria verdadeiro se ele não estivesse mentindo, o que estava fora de questão.

O artista é um farsante, um mentiroso. E o mundo sobreviveria sem arte? A arte de mentir de forma refinada é o que dá o charme e sedução ao escritor, ator, pintor e quem mais se aventure no mundo da imaginação. E quando a gente toma o falso pelo verdadeiro, ou somos consumidores de arte ou otários.

Zé Limeira era um poeta repentista paraibano que não sabia ler nem escrever, mas ficou conhecido pela imaginação mais do que fértil. Imortalizado pelo escritor campinense Orlando Tejo, Zé Limeira é estudado por figurões da literatura nacional, a exemplo de Muniz Sodré que escreveu resenha sobre o livro de ensaios “Zé Limeira, Poeta do Absurdo”, de Tejo. Para o professor da UFRJ, ‘a Poesia de Limeira produz uma espécie de contra-sentido da erudição beletrista’. Zé Limeira viveu na Chapada do Teixeira, interior da Paraíba, e produziu versos, que ‘julgam e exasperam, com a crueldade lúcida do louco, com o lirismo dessabido da criança, com a ousadia lúdica do analfabeto e com o ritmo interno do poeta, o discurso pedante’. Tudo isso traduzido quer dizer: Zé Limeira era um mentiroso de marca maior, que sabia encantar o mundo com suas mentiras rimadas.

Para saideira, uns versos do velho Zé Limeira: “Casemo no ano de 15/ Na seca de 23/A mulher era donzela/ Viúva de sete mês/ Mais não me alembro que tenha/ Um dia ficado prenha,/ Estado de gravidez”.

Pinto de Monteiro, o maior cantador do mundo depois de Manoel Xudu, um dia saiu-se com esse repente: “Nestes dias vou fazer/ Como o nosso Zé Limeira:/ Comprar uns óculos escuros/Desses de tolda de feira/ Botar o bicho na cara,/ Sair cantando besteira"



terça-feira, 22 de abril de 2014

Na beira do rio eu sentei e não chorei


Pedalando pelo bairro de Jaguaribe, fui clicado pelas lentes da câmera do compadre Bala, um sujeito folclórico neste espaço de João Pessoa, o bairro do cronista Carlos Pereira de Carvalho que, com seus 72 anos de idade, escreve crônicas a respeito de Jaguaribe e lê seus trabalhos na Rádio Tabajara. Esse também é o lugar de moradia de figuras como meu considerado compadre Humberto de Almeida, escrevinhador de um blog que tem milhões de acessos pelo valor e originalidade dos seus escritos. O filho de compadre Heráclito e dona Chiquinha, morador das ruas Senhor dos Passos e 12 de Outubro e de todas as vias e becos de seu velho Jaguaribe, malabarista de palavras, disse que só sai de Jaguaribe morto e bem morto, mas não sai assim de todo não. Mesmo depois de passar desta pra melhor, ficará por aqui sua verve plural e sua alma, claro, se a mesma existir, conforme desconfia seu lado místico.

Queria ter o talento de Humberto para desenhar umas mal traçadas sobre esse lugar onde moro há mais de 14 anos. Como me falta o talento escrivacional (sei que a palavra não existe), eu paro e sento nas margens do rio Jaguaribe, no vale do mesmo nome, refletindo sobre a degradação deste que é o maior rio urbano da capital Parahyba do Norte. Suas águas correm totalmente dentro do perímetro urbano, então imaginem as agressões que sofre ao passar por Varjão, Cruz das Armas, Jaguaribe, Castelo Branco, Manaíra e Tambaú, até desaguar no meu querido rio Paraíba, outro que é obrigado a comer o famoso pão que o diabo amassou em sua caminhada desde o cariri até o Atlântico. É descarga de poluentes, é barramento, é lixo, é esgoto clandestino que as águas do Jaguaribe quando passam pelo jardim botânico, uma área de proteção permanente, chega clamam por revitalização antes que vire um rio morto.


Não chorei pelo rio Jaguaribe e sua morte anunciada por causa da poluição urbana do entorno. Antes, me deu aquela fúria infrutuosa e impotente por saber que nosso rio levou uma facada mortal de um grupo empresarial em Manaíra, dono de um shopping praquelas bandas, que praticamente selou a relação do seu curso, crime ambiental amparado e encoberto por um governante que nasceu e se criou no bairro Jaguaribe, intervenções agressivas feitas na Capital em nome do capital e dos arrumadinhos políticos. O rio não tem mais forças para fluir. Não tem mais como enfrentar o mar, perdeu suas forças. Só restam poças d’águas paradas e contaminadas em sua foz. Um ecossistema com elevado potencial produtivo de suporte à vida, condenado à morte pela insensatez capitalista. É nas gerações futuras que penso, sentado às margens do moribundo porque, com a morte do baixo rio Jaguaribe, uma geografia se transforma, a história da cidade perde suas lembranças e a relação da natureza com o ambiente cada vez mais se corrompe e desfigura.

Revisão é coisa séria


Nelson Rodrigues disse que alguém disse, certa vez, o seguinte: - o único erro que justifica o fuzilamento é o erro de revisão. Parece piada, mas nem tanto, nem tanto. Qualquer autor, vivo ou morto, tem cravado, na carne e na alma, um erro de revisão.

E segue a gostosa crônica gramatical do velho e bom Nelson: “No Brasil de hoje, é mais fácil achar uma girafa do que um gramático. E, se por acaso, ainda existir algum neto retardatário e obsoleto dos antigos gramáticos, será ele o primeiro a fingir-se analfabeto. Não reparem que eu misture os tratamentos de 'tu' e 'você'. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.
Minha revisora Jandira Lucena está com os originais do meu livro “Artistas de Itabaiana” há bastante tempo, que essa professora é muito exigente e ciente da importância do seu trabalho. Faz questão de passar o texto várias vezes. Quem escreve sabe que precisa de uma segunda olhada no texto para detectar eventuais erros factuais, gramaticais ou de ortografia. Os mais caprichosos repassam até cinco vezes o texto. Um erro pode comprometer uma obra, levando para o fundo também o nome do revisor e da editora.
Um olhar de estranho é fundamental para detectar erros. Tem gente que imprime o material e lê em voz alta para ouvir bobagens na construção das frases. Outros tentam enganar o cérebro, modificando o formato do texto (mudando a cor, a fonte).
Amigo meu pediu um texto introdutório para seu livro. A edição saiu com um erro vergonhoso: prefácil. Abaixo do texto, meu nome. Não sei quem foi esse luminar da revisão que desmoralizou meu texto, mas, deixa isso pra lá. O título do livro não vou dizer pra não ferir os chamados brios do autor, meu compadre e amigo sincero e popular. Entretanto, faço um apelo a todos os leitores, ratos de biblioteca, fuçadores de sebos, detetives, investigadores e colecionadores de livros: quando virem um livro cujo prefácio virou “prefácil”, façam o favor de me avisar para o devido resgate e queimação na fogueira santa das regras gramaticais.  



segunda-feira, 21 de abril de 2014

Girafa, bicicleta e guarda-roupa

O canalha Ameba escreveu no seu Twitter: “Por um mundo sem parente te visitando aos domingos”. Ele acha um pé no saco receber parentes no dia em que você se programou para ficar em casa com aquele calção folgado, tomando sua cervejinha e vendo futebol na TV. Isto porque o intolerante protozoário pensa que jamais vai envelhecer, ficar sozinho em casa esperando a visita dos filhos. E não venha com discurso de “melhor idade” que isso é exceção. Geralmente a gente envelhece mal. Raro quem envelhece ativamente, enfrentando a terceira idade com dinamismo.
Minha mãezinha vai completar 80 anos em dezembro. Fui visitar meus pais ontem. Nossas visitas são acontecimentos sociais e culturais na vidinha dos meus genitores. O pai está sedentário, o cérebro reduziu as atividades, mas a memória tinindo. Não perde a capacidade de memorização e raciocínio, apesar de acometido de acidente vascular cerebral.  Enquanto seu Arnaud abusa de estimular os neurônios com sua memória prodigiosa, dona Iraci, sua esposa, anda esquecendo as chaves, deixando o arroz queimar no fogo ou se esforçando para lembrar o nome do neto mais velho. São os efeitos do tempo. Eu mesmo já ando confuso. Meus 82 bilhões de neurônios não se entendem entre si. Perco as datas, fico com aquela impressão de que está faltando alguma coisa nos bolsos quando saio de casa, tenho pequenos colapsos cardíacos pensando que esqueci os documentos, paro na estrada para conferir se está tudo no meu saquinho de carregar as tralhas. Com o pensamento voltado para outras coisas, outro dia esqueci de vestir as calças. Constrangedor. Isso tem cara de ser aquela doença que as pessoas começam a esquecer tudo... como é mesmo o nome?
--- É a tal PVC (porra da velhice chegando) – esclarece Ameba.  
Ontem, fiquei sabendo que minha mãezinha foi ao médico se queixar dos esquecimentos. Ela não me disse diretamente, mas o pai entregou o jogo. Foi na hora dele tomar os remédios. Chamou sua madame:
--- Iraci, lembra das três palavrinhas?
E ela, na bucha:
--- Girafa, bicicleta e guarda-roupa.
Não entendi! Ele explicou: o médico recomendou um treino para combater a amnésia. Decorar essas três palavrinhas que não têm nenhuma relação entre si e pronunciar de vez em quando.
Meu velho pai, malandro estudado, também trata de perder a memória providencialmente, para evitar antigas discussões do casal. Levei um CD de Alaíde Costa, cantora de bossa nova. Ela aproveitou para provocar o marido:
--- Arnaud, lembras de uma namorada tua com o nome dessa cantora?
 Ele encerrou a conversa inconveniente:
--- Lembro não.
Uma dose de esquecimento na hora certa sempre é bom.
Eu, avanço na meia idade, com anseios de terceira. Idade. Desconfio que preciso de ginástica cerebral. Cheguei em casa, tentei lembrar das palavras, não consegui. Liguei para minha mãe, ela repetiu imediatamente:
--- Girafa, bicicleta e guarda-roupa.
Os cérebros de papelão dirão que isso prova minha definitiva senilidade.
Sim, antes que me esqueça: a comercialização da Páscoa chegou ao cúmulo. O filho de Ameba perguntou:
--- Pai, Jesus era um coelho?

domingo, 20 de abril de 2014

POEMA DO DOMINGO

Panelas de Nevinha da Cerâmica (Itabaiana/PB)


ENTRE PANELAS DE BARRO


Entre panelas de barro
Vive o poeta cantando
Alegre improvisando
Sobre a mulher e o jarro
Pode parecer bizarro
Mas cantar assim faz bem
Vive triste quem não tem
Essa viva consciência
Que a destacada eminência
É ser de barro também...

Sander Lee





A imagem é o "calcanhar de Aquiles" de qualquer político. Quem se envolve com o poder fica vulnerável junto com a instituição pela qual é responsável. Quem está no poder sempre tem alguma coisa a declarar, a prestar contas à sociedade, que é quem paga as contas, no final. Um assessor de comunicação sem traquejo deixa a imagem do chefe arranhada mais do que já é na realidade. Em Itabaiana, o prefeito Antonio Carlos tem o assessor de comunicação Carlão Safyra, profissional dos bons, que atende ao público e aos colegas da imprensa com presteza e gentileza. Um dos bons quadros da atual gestão.

Socialista insinua que Cássio traiu Félix, Cozete, Ricardo Coutinho, Cícero e vai trair Romero. Fora as traições particulares. Judas é pouco, disse Ronaldo Barbosa, Presidente do PSB de João Pessoa. Aliás, esse negócio de traição é comum nas atitudes dos políticos. Em Guarabira, penduraram o boneco de Cássio na forca do Judas. Maldade!

Inventar uma mentira perfeita só exige treino. Dois mil anos de pregação do cristianismo é um bom tempo.

Na Paixão de Cristo do Tribunal, Barrabás consegue liminar e garante liberdade.

Nordeste elegeria Dilma com o triplo de votos dos adversários. Separatistas se atiçam.

Estava eu vendo o jogo da Portuguesa com o Joinville quando o time de São Paulo saiu de campo. Lembrei das peladas no campinho torto de Entroncamento.

Perdoe se não compartilho mensagens edificantes no Facebook e não tiro fotos em frente ao espelho. É que sou sociopata.

Bairro Alta Vista em Itabaiana, 3 dias sem água. População apela para o banho de pincel.

Procissão que relembra sofrimento e humilhação de trabalhadores mal pagos reúne centenas de pessoas com destino à feira semanal. É a procissão dos aflitos.

Ataque de abelhas suspende Paixão de Cristo em Petrolândia. Judas e Barrabás foram os mais atingidos.

“Itabaiana é a única cidade do vale do Paraíba, e acho que a única no Estado da Paraíba, onde os estudantes pagam para utilizar o ônibus escolar.” – Um universitário itabaianense.

O longa metragem “Aparição”, de Jacinto Moreno, foi classificado para o Festival de Cinema de Boa Vista e vai bater em Portugal.

Mestre Carboreto, cacique da "Tribo Indígena Tupinambás", de Mandacaru, faleceu ontem, dia 19 de abril, dia do índio. Com ele, parte da cultura dos descendentes indígenas, que habitaram João Pessoa.

Meu compadre Fernando Melo já está recuperado e pronto para novas batalhas. Deixou o cigarrinho, no que fez muito bem. Fernando é um dos grandes nomes de minha geração em Itabaiana.




Hoje, 20 de abril, é dia do aniversário de Augusto dos Anjos que nasceu em 1884 e morreu em 1914. Ainda hoje é considerado o maior poeta da Paraíba, e um fenômeno da arte poética no Brasil. Nasceu na zona rural de Cruz do Espírito Santo, que depois passou a ser território de Sapé.  

sábado, 19 de abril de 2014

O time que só pegava descendo


Meu amigo e meu irmão Trajano era o técnico do time Mangueira, do sítio Entroncamento no município de Cruz do Espírito Santo, onde trabalhei na estação ferroviária nos anos 1990. Era uma pequena confraria de ferroviários que bebiam juntos, trabalhavam juntos e moravam juntos. O time era uma desgraceira só. Peladeiros matutos. Uma linha dura como o governo da ditadura, meio campo lerdo como gato de venda e um ataque cardíaco de tão ruim, ineficiente. Mas isso não era capaz de afligir o comandante do time, porque na retaguarda tinha o juiz Bodeiro, também ferroviário, cuja função era descontar nossa ruindade no apito. Não tinha pra ninguém. A Mangueira ganhava todas dentro de casa.

Aliás, nossa “casa” era um campo mais irregular do que o gol do Flamerda contra o Vice Vasco, um descampado morro acima onde as vacas pastavam. Foi daí que surgiu o famoso “drible da vaca”, quando o atleta tinha que se livrar de um boi, bezerro ou vaquinha. Só que, no nosso campo, a vaca jamais ia pro brejo. A gente sempre jogava descendo, isto é, nosso lado do campo era invariavelmente o de cima. Na lei de Bodeiro, a regra era clara: o dono da casa joga em cima e não tem revezamento. O visitante começava e terminava as partidas, quando terminava, subindo morro acima.

Eu era o lateral direito, camisa 2 conhecido por Jacaré. Meu lado do campo era uma colina que eu descia na banguela e voltava meia hora depois, fazendo da língua gravata. A rigor, só apoiava o time uma vez. Ficava por lá mesmo, era substituído. Nossos adversários, invariavelmente, não tinham o gostinho de tirar o zero do placar. Quando conseguiam subir o morro e vazar nosso goleiro, que por sinal era meio míope, o juiz Bodeiro inventava uma irregularidade.

Só houve uma vez em que perdemos de goleada. Trajano brigou com Bodeiro por causa de um jogo de bozó, logo no domingo em que iríamos enfrentar o Flamengo da Fazenda Onça. O peste do Bodeiro começou por botar a gente jogando morro acima, uma covardia com quem não aguentava esse esforço, por não ter costume. Depois, expulsou nosso melhor jogador, o meia Batata, e deixou o jogo correr frouxo. O escore foi contundente: Mangueira 0 X Flamengo da Onça 12. 

O Mangueira Futebol Clube participou do campeonato amador de Cruz do Espírito Santo em 1991. Contabilizou 19 partidas, 19 derrotas, apenas 4 gols marcados e 88 sofridos. O time da Mangueira era escalado assim, no velho esquema 4-2-4, pelo técnico Trajano: Catatau, Jacaré, Enxuga o Rato, Barata e Bolo Fofo; Batata e Sardinha; Mão de Onça, Papagaio, Bonito e Piaba. O dono das camisas era Zé de Biu de Nena. 


quinta-feira, 17 de abril de 2014

quarta-feira, 16 de abril de 2014

O Arquivo Afonso Pereira é meu vizinho





O Arquivo Afonso Pereira está comemorando 16 anos que foi instalado na Praça João XXIII, em Jaguaribe, João Pessoa. Nesses anos todos, sou seu vizinho. De minha casa, observo os movimentos daquela casa de cultura dedicada à memória do Professor Afonso Pereira, intelectual que participou ativamente de movimentos educativos, científicos e culturais na Paraíba do Norte. 

Lá estão armazenadas fotografias, documentos e informações outras que registram as atividades do patrono, guardados e conservados pela sua esposa. A biblioteca tem cerca de quatro mil livros, mas ninguém lê! Nesses anos todos, poucas vezes vi alguém visitando o arquivo. Eu mesmo só entrei uma vez nas salas bem conservadas e muitíssimo organizadas do arquivo. Lá tem um auditório para palestras e eventos. Só raramente alguns intelectuais, amigos do Patrono, se reúnem para lançamento de livro ou outro evento. 

Na parede frontal do Arquivo, um artista pintou símbolos musicais e caricaturas de músicos jovens aprendizes, indicando que aquela casa de cultura recebia a juventude para estudos e manifestações artísticas.  Parece um Ponto de Cultura, na fachada. Mas, falta vida, não tem atividades artísticas e educacionais para a comunidade. Parece-nos um clube fechado, de certa forma contrariando os ideais do patrono, professor Afonso Pereira da Silva, que nas palavras de Antônio de Pádua Lima Montenegro,  “sempre se devotou e buscou a concretização do ideal de que é preciso educar para libertar. Por isso, ele se tornou um bandeirante, um guerreiro da educação, impregnado da saudável obstinação de promover o desenvolvimento e lutar pela redenção de muitos conterrâneos”.