sábado, 1 de março de 2014

Morre-se de carnaval desde o Brasil colonial

Fiz meu carnaval antecipado no show de Fabinho e suas pastoras


A festa da bunda chamava-se entrudo. No princípio era algazarra de pobre, batalha de ovo podre misturado com farelo de milho, penicos de mijo jogados das janelas, essas baixarias. Depois evoluiu para os desfiles de sociedades, espécie de ópera dos pobres, o equivalente às escolas de samba de hoje.

O carnaval sempre foi violento. Ajudou a sifilizar o Brasil, produziu a mulata e deu status ao tamborim, instrumento feito com couro de gato. Conta-se que o arquiteto francês Grandjean veio com a Missão Artística Francesa trazida por D. João para tornar o Brasil um país europeu. Aqui, os gringos caíram na folia, alguns comeram as mulatas, outros deram os traseiros para os mulatos e formaram o bloco dos estrangeiros nos carnavais. As mulheres estrangeiras eram normalmente prostitutas brancas como cera vindas de países nórdicos, chamadas de polacas. Essas também deram grande contribuição para a safadeza geral carnavalesca.

Sim, mas o arquiteto Grandjean tinha 74 anos, gostava de uma raparigagem que só ele. Foi brincar o carnaval, tomou um banho de xixi, pegou resfriado, engoliu duas doses de cachaça com mel pra cortar a gripe, mas não deu certo. Em poucos dias a gripe virou pneumonia e o gringo foi pro andar de cima.

Neste 2014, o carnaval em Salvador, Bahia, já tem números bastante expressivos: 339 ocorrências policiais na sexta, e a partir deste sábado a tendência é aumentar. A maior festa de rua do mundo, que mistura aglomeração de pessoas, música agitada e consumo de drogas lícitas e ilícitas, além de ressaltar as diferenças sociais, é um ambiente propício para a propagação da violência. Não se morre mais de banho de mijo como antigamente. É na bala, na faca e na porrada. Pobre e preto vai na corda, convencido de que também está brincando. A elite desfila nos blocos e camarotes. De vez em quando, um invade o espaço do outro e o pau come. Branco ainda tem chance de mostrar os documentos. Preto vai pra borracha sem dó.

Na pacata cidade Itabaiana do Norte, uma semana antes já se registraram lesões corporais no desfile do Zé Pereira. Esfaquearam dois e amarram mais dois pro dia seguinte. Estudiosos explicam que uma das razões do aumento dos episódios de violência durante o Carnaval está ligada ao próprio significado da festa, bastante relacionada à efemeridade e à liberação de impulsos, que se somam à presença de grupos e ao consumo de drogas e bebidas.

Por via das dúvidas, e por não ter condições físicas para correr por causa da artrose nos joelhos, vou ficar em casa no carnaval. Bom carná aos que forem para essa guerra.




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