segunda-feira, 31 de março de 2014

ETIENE E O GOLPE MILITAR

Inês Etiene Romeu em julgamento em 1972, e como historiadora em 1999. 

Neste 31 de março, 50 anos do golpe militar, vai aqui uma breve história de heroísmo, superação e coragem. “Inês Etiene Romeu era bancária em Belo Horizonte, sindicalista e integrante do movimento estudantil. Quando os militares fecharam as instituições democráticas em 1964, ela entrou para o quadro da Vanguarda Armada Revolucionária – VAR-Palmares. Foi presa em 1971, sob a acusação de ter participado do sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher.
Para escapar das torturas, tentou suicidar-se jogando-se na frente de um ônibus. Foi levada para uma casa em Petrópolis onde permaneceu sob tortura, espancamento, choques elétricos e estupros. Tentou o suicídio ainda por quatro vezes, sendo mantida viva por médicos contratados pelos militares, a fim de que a tortura, os interrogatórios e as possíveis confissões sobre organização extremista prosseguissem. A partir de certo momento, ela foi informada de que sua tortura não era mais para conseguir informação, pelo tempo decorrido desde sua prisão ela já era inútil como informante, mas era apenas por sadismo.
Neste período foi obrigada a cozinhar nua, sendo humilhada por seus carcereiros, e foi estuprada duas vezes por um deles. Graças à ousadia da família e seus advogados, conseguiu-se oficializar a prisão de Inês, em 7 de novembro de 1971, salvando sua vida e tirando-a das mãos dos militares do Exército.
Após sua libertação, em 29 de agosto de 1979 – depois de condenada à prisão perpétua, figura jurídica existente no período ditatorial – pela Lei da Anistia, Inês passou a dedicar-se à denúncia e esclarecimento dos crimes ocorridos nos porões da ditadura. Última presa política a ser libertada no Brasil, em 2009 ela recebeu o Prêmio de Direitos Humanos, na categoria "Direito à Memória e à Verdade", outorgado pelo governo brasileiro.” (Wikipédia)
Li entrevista de Inês Etiene Romeu no jornal O Pasquim em 1981, quando nascia minha filha única. Botei o nome da menina de Etiene Mozart, para perpetuar a minha dinastia e homenagear aquela mocinha que tanto ódio causou aos militares. Trinta e três anos depois, as instituições democráticas brasileiras ainda não foram, de novo, estupradas pela força das armas. Fomos “inimigos internos” e “forças oponentes” dentro da nossa própria pátria por mais de vinte anos. Neste meio século do golpe, lembrar histórias como a de Inês Etiene Romeu é uma forma de dizer não aos crimes contra a humanidade, sejam eles cometidos em nome de Deus, do Exército ou do Diabo. 

domingo, 30 de março de 2014

POEMA DO DOMINGO


DESERTO NA MINHA RUA

Tudo parece tão deserto.
Sem ar, sem fôlego, sem eco...
Um ânimo de nada.
Só o sofrer da amplidão na luz do infinito,
sem eira, na beira da gota d'água
que escorre sobre meu corpo... o calor

fica a agitar essa emoção
na ação dos sentidos,
ora calmo, ora desnorteado,
deixando encharcada a pele branca
preta, salgada, doce,
sedenta de banho de mar.

Nas esquinas sem perspectivas,
vejo uma cidade noutra cidade
escaldante, nas beiradas da ilusão
de que estamos à beira mar,
a um passo do infinito gasoso.


Fred Borges (Itabaiana)



Tom e Jerry nem são assim tão inimigos

Tenho um amigo que é sempre do contra. Esse camaradinha é muito triste, porque não consegue conviver com seu próprio fracasso, tem uma vida toda carregada por sentimentos ruins, baixa auto-estima, propensão ao flagelo, depressão e infelicidade.


Meu compadre velho desdenhou do programa “Alô comunidade”, chamou de “programinha repetitivo, sem nada de novo”. Assim é esse meu camaradinha. Transfere suas baixas emoções para terceiros. Mas, sua agressividade e indelicadeza gratuitos não me ferem. Os mal ventos mórbidos dessa turma mesquinha não nos derrubam. Na cidade Itabaiana do Norte, gente assim sofrida tem dito o diabo de um projeto cultural que mantemos no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Pessoas que apodrecem de maldade e inveja com seus costumes idiotas de falar mal daquilo que não têm a capacidade de assumir e realizar.

Olhe, minha gente, não sou J. Cristo, mas vos dou meu perdão. Sei como é isso de você acordar com chicotinho intestinal, cheio de despeito, e sair falando mal de quem só pratica o bem. Nada fazem porque não têm qualificação moral nem intelectual, artística ou qualquer que seja. São uns inúteis que só deixarão de difamar o próximo quando se abater sobre eles o duplo silêncio da morte e do anonimato. Mesmo com seu modo de ser injurioso e maldoso, há uma utilidade nesse vivente ser fuxiqueiro e mordaz: ele simplesmente ressalta o traquejo social de quem tem dignidade e dedica sua vida a um nobre ideal. Todo Mozart tem seu Salieri para fazer o devido contraponto.

A história diz que Antonio Salieri era arquirrival do compositor Amadeus Mozart, de quem tinha muita inveja. Em seus últimos minutos de vida, o invejoso Salieri teria declarado sua eterna devoção ao grande músico austríaco.


sábado, 29 de março de 2014

Coordenadora Geral da Associação de Rádios Comunitárias da Paraíba será entrevistada no “Alô comunidade”



Hoje (29), às 14 horas, na Rádio Tabajara da Paraíba AM, o programa “Alô comunidade”, da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, entrevista Rosângela Santos, recentemente eleita coordenadora geral da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Estado da Paraíba – Abraço.

O programa é produzido e apresentado por Fábio Mozart, Dalmo Oliveira, Beto Palhano, Marcos Veloso e Fabiana Veloso. 

Ouça em tempo real pelo site:

sexta-feira, 28 de março de 2014

Um sujeito comprometido


Quero aqui fazer este registro sobre meu compadre e parceiro de batalhas culturais, o artesão Rosival José da Silva, matador de mosquito, agente de meio ambiente, vacinador de cachorro e videasta nas horas vagas.

Foi um dos primeiros a assumir a ideia do Ponto de Cultura, que por sua vez parte da visão de que a solução dos problemas está nas próprias pessoas. Aposta-se na autonomia e protagonismo social, sem assistencialismo, sem dependência de Governo, sem controle nenhum. No Ponto, Rosival começou fazendo oficina de mosaico artístico, depois passou a mestre neste ofício. Na música, aprendeu com o mestre Vital e o maestro Antonio Maurício e hoje ensina violão para crianças, além de tocar alfaia no grupo Ganzá de Ouro.

Cabra dessa qualidade é que move montanhas, um trabalho provocativo e reativo, influenciando as pessoas, abrindo novas perspectivas nas vidas de jovens. A cidadania neste caso está presente e configurada nas ações de um cara desses, que tira do próprio bolso os poucos recursos para continuar em sua missão civilizatória. Gente de boa índole que não falta em minha cidade, só precisa de incentivo e atenção, sem paternalismo.

No próximo dia 10 de abril, eu vou com Rosival para Campina Grande, participar da Teia Paraíba, o grande encontro de Pontos de Cultura no Estado. Conosco vai também o Marcos Veloso para lançar seu vídeo sobre o poeta Fernando Pessoa. Lá vamos dar de cara com outros ventos do bem, outras ideias com a mesma força das coisas feitas com dedicação e abençoadas pela força da cultura viva. É vero que que nesse caldo tem muita gente que se alimenta de suas próprias vaidades. Esses, ficam pelo caminho. Não contam para somar nessa nossa cruzada para diminuir a imensa dívida cultural para com as novas gerações.

BAIANO VELHO VAI NASCER DE NOVO

Meu compadre Dalmo Oliveira, a quem chamamos Baiano velho, está saindo do ritual de iniciação do Candomblé neste sábado. Vamos estar lá, na hora em que ele nascer. Sim, porque o ritual de iniciação no Candomblé, a feitura no santo, representa um renascimento, tudo será novo na vida do yàwó, ele receberá inclusive um nome pelo qual passará a ser chamado dentro da comunidade do Candomblé. Baiano velho passou 21 dias no recolhimento, na reclusão, tomando banhos, boris, ebós, aprendendo as rezas, as danças e as cantigas dos orixás. Rasparam o cabelo do Baiano velho, e neste sábado será a festa ritualística que marca a saída de Y’awó.

A partir daquele momento, ele nunca mais estará sozinho na sua caminhada. Eu e compadre Beto Palhano vamos ouvir os atabaques e saudar o velho Baiano Dalmo Oliveira, com a permissão do Orixá, no início dos seus novos caminhos.





quinta-feira, 27 de março de 2014

Vocês que são poetas que se entendam

Fernando Pessoa
O segundo vídeo de Marcos Veloso tem por título “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”, onde ele faz um trabalho de captura de frases do poeta português Fernando Pessoa, em situações de relacionamento de jovens. Não vi ainda o filme, estou apenas no plano das informações do autor que está entusiasmado com seu próprio trabalho. Mesmo sem ver, já inscrevi o vídeo na ª Teia PB, que é o encontro de Pontos de Cultura da Paraíba, dias 10, 11 e 12  de abril, na serra campinense.

O título do vídeo de Veloso lembra outra frase poética, do Carlos Drummond de Andrade: “Tenho apenas duas mãos e todo o sentimento do mundo”. Outra poeta, Mariana Schmidt, prefere escrever a frase completa de Pessoa: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Imitação de pensamento alheio? Plágio? Ao desvelar com palavras os atos, sentimentos e gestos profundos e cotidianos da vida, os poetas acabam por se encontrar na mesma esquina do indecifrado e indefinível, mesmo que para alguns seja apenas imitação.  


Persistem dúvidas se Augusto dos Anjos se inspirou em D. Pedro II para elaborar o clássico soneto “Versos íntimos”. O conteúdo importa menos do que a forma, nesses casos. A ideia da pessoa que dá patadas no seu benfeitor é velha como a humanidade. O que se sobressai é a forma como se esboça isso através da nada inculta e muito bela flor do Lácio, instrumento de trabalho dos poetas, incluindo aqueles que trabalham no campo da prosa, como o inigualável João Guimarães Rosa dos grandes sertões. 

quarta-feira, 26 de março de 2014



A FOME DOS POLÍTICOS

Em entrevista à TV Miramar, em 2007, o então governador Cássio Cunha Lima (PSDB) disse que o senador José Maranhão tem que explicar à Paraíba a razão para seu patrimônio subir mais de 900% em oito anos de governo do Estado, com destaque para aquisição de 28 mil cabeças de gado. 

“O senador é um homem público e deve essa explicação à Paraíba. Porque neste meio tempo a Paraíba é que deveria crescer 900% e não o patrimônio do senador”, disparou Cássio. 

Maranhão deve ter pensado: “E o teu patrimônio, como se explica, cara-pálida?”


O ELEITOR QUE AMA O GORDINHO

A cantora gospel paraibana Carol Mousinho, que estava desaparecida desde a última sexta-feira (21), se comunicou através do Facebook informando que está bem. "Obrigado pela preocupação, estou bem e breve darei notícias. Apenas organizando ideias”, diz a postagem de Carol.

Uma mulher, mandou mensagem pedindo para a moça voltar à casa da família, e outro internauta aproveitou para cabalar votos:

“Em nome de Deus, apareça Carol, e vote em Rômulo Gouveia para senador. Você e ele são duas pessoas maravilhosas!”


MEMÓRIA ULTRAJADA

Seu Galeno era farmacêutico em Itabaiana. Ao morrer, foi homenageado com nome de rua. Atualmente, a Rua Galeno Benício Rabelo é um lugar sombrio, com esgoto a céu aberto, lama e podridão. O acesso à água potável e ao saneamento básico foram reconhecidos como direito do ser humano pela Organização das Nações Unidas. Na rua Galeno Rabelo, esse direito ainda não chegou.










APERTA A TECLA DEL

Em 2012, fiz um poema para o movimento de rádios livres e comunitárias chamado “Curto e grosso”, para um documentário sobre o tema. A poesia foi “melodiada” e gravada pelo pessoal do grupo musical do saxofonista Arnaud Neto, misturando o hip-hop clássico com o rock. Ficou legal. Acontece que perdi a matriz da música. Deu pau no computador, deletou os arquivos e “meu nome é tchau”.


MANOEL XUDU E LOURIVAL BATISTA

Há um ditado que diz: “Uma mão lava a outra”. É uma filosofia popular muito usada no sertão a fim de justificar a importância da solidariedade. Lourival Batista (foto) e Manoel Xudu (1932-1986) dão uma demonstração prática dessa filosofia.

Lourival inicia:

“Eu vou erguendo meu prumo,
Tu vais botando o tijolo;
Eu vou ajeitando o nível,
Tu segurando o rebolo;
Minha parede sai torta,
Porque sou pedreiro tolo.”

Xudu aproveita a deixa do parceiro e mantém o mesmo tom da ajuda mútua:

“Você trazendo o consolo,
Eu também mostro o conforto;
Você acende o farol
E eu mostro a barra do Porto;
Você cava a sepultura
E dentro eu coloco o morto.”

(Aristeu Bezerra)


ROSÂNGELA

Minha amiga Rosângela Santos (na foto à esquerda) está entre as mulheres que serão homenageadas hoje, 26 de março, durante o evento denominado “Mulheres construindo uma cidade solidária”, promovido pela Prefeitura Municipal de João Pessoa. As outras homenageadas serão a cantora Lucy Alves, Carol, filha da mestra Doci, Socorro Borges, a advogada Nadja Palitot e a Primeira Dama do Município, Maysa Cartaxo.

Rosângela será minha entrevistada neste sábado, dia 29 de março, às 14 horas no programa "Alô comunidade", na Rádio Tabajara da Paraíba AM. Ela é Coordenadora Geral da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Estado da Paraíba – Abraço. 

terça-feira, 25 de março de 2014

Livro de Fábio Mozart é objeto de estudo em congresso de comunicação

O Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (O Intercom), em seu encontro do Nordeste, apresentará trabalhos sobre comunicação em geral, produzidos pela comunidade acadêmica. Um deles trata da história da Rádio Comunitária Araçá, da cidade de Mari, emissora fundada há quinze anos, sendo pioneira na execução do serviço de radiodifusão na Paraíba. O trabalho é assinado pela estudante Letícia Frazão, autora do artigo com base no livro “Democracia no ar”, de Fábio Mozart. “As lutas no judiciário e a mobilização das populações em defesa dos projetos de rádios populares formam a base do conteúdo do livro, que traz ainda depoimentos de políticos, comunicadores, jornalistas e membros do judiciário em torno desse debate. Meu livro conta a história de companheiros e companheiras que defenderam e defendem essa forma de comunicação social”, explicou Mozart.
O Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (O Intercom), é o maior evento de Comunicação do Brasil, recebendo, em média, 3.500 inscritos. O Congresso atrai graduandos, futuros sócios, e os incentiva na produção de pesquisas científicas e na concepção de produtos para a Comunicação. Além destas ações, todo Congresso Brasileiro da Intercom reúne premiações, lançamentos de livros e revistas, realiza palestras e oficinas, conta com Grupos de Pesquisa (GP) e de Trabalho (GT), Divisões Temáticas (DT), apresentações científicas, culturais e artísticas. Antes de cada encontro nacional, contudo, outros cinco congressos regionais são realizados. Um deles é o Congresso de Ciências da Comunicação da Região Nordeste, encontrando-se em sua 16ª edição e será realizado na Universidade Federal da Paraíba, de 15 a 17 de maio de 2014.


segunda-feira, 24 de março de 2014

Enquanto uns choram, outros vendem lenços

 
O velho Leão diante das contas, imaginando como driblar a inadimplência
Já dizia meu compadre poeta e naturalista professor Ivaldo Gomes, do alto de sua sabedoria iogue. Nosso projeto Ponto de Cultura Cantiga de Ninar continua com sentimentos, descobertas, certezas e medos. As contas chegam regularmente todos os meses, os números nos atrapalham, mas pra que serve a inventiva, a imaginação criadora e a capacidade de sonhar? Agora mesmo estamos botando bomba d’água no cacimbão para evitar as contas da cagepa e ampliando o quadro de sócios. Uma equipe de coordenadores do Ponto está em visita aos amigos, os que confessam simpatia pelo projeto.

Apesar das imensas dificuldades, ainda não está na hora de parar. Pelo contrário, vamos investir cerca de 3 mil reais na compra de duas tendas para nossa área externa. Espaço para as oficinas e ensaios de dança e teatro. Minha promessa comigo mesmo e com os companheiros da equipe é de inaugurar as tendas no dia 31 de maio, ocasião em que lançarei o livro “Artistas de Itabaiana”. Enquanto tiver vontade de aprender por parte dos jovens da comunidade que frequentam nossos projetos culturais, não vai faltar esforço para manter o espaço onde trabalhamos, precário, mas um lugar digno onde mantemos atividades regulares, formando novas gerações de músicos, atores, artesãos e leitores, onde muitos talentos anônimos se revelam nas oficinas de formação.


Esse esforço para iluminar algumas mentes jovens é um pingo no oceano de nossas deficiências educacionais e culturais, mas o conhecimento é como o fogo de Deus, inscrito nas tábuas de Moisés: ninguém toma, ninguém desfaz. E ilumina muitas léguas adiante. Sim, tem as contas para pagar, mas sem dificuldades a vida não tem graça.   

Vereador de Itabaiana apoia projeto cultural comunitário

Semeão Rodrigues com a filha, na feira de livros do Ponto de Cultura

O vereador Semeão Rodrigues mostra-se sensível às propostas do segmento cultural na cidade de Itabaiana, segundo afirmou em visita ao Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. “Queremos trazer a cultura para ser debatida na Câmara Municipal, mesmo porque percebo que todos os colegas vereadores têm sensibilidade para este importante setor”, disse ele.

Segundo Semeão, tramita na Câmara projeto de lei de sua autoria que dá espaço para artistas de Itabaiana se apresentar nos shows em praça pública, com direito a uma porcentagem do cachê do artista principal. Ele acha que todos os vereadores serão favoráveis à aprovação do projeto, que valoriza o artista da terra.

Semeão Rodrigues esteve visitando a Feira de Livros da Biblioteca Arnaud Costa, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, levando consigo a filha, para quem adquiriu alguns livros. Na ocasião, ele assinou proposta de sócio da entidade, passando a colaborar com certa quantia para a manutenção do projeto. “O Ponto de Cultura vem ajudando a mudar a visão da cultura em nossa cidade e é importante para a juventude”, disse Semeão.

www.pccn.wordpress.com











sábado, 22 de março de 2014

POEMA DO DOMINGO


POEMA OBSCENO
por Ferreira Gullar
Façam a festa
Cantem e dancem
Que eu faço o poema duro
O poema-murro
Sujo
Como a miséria brasileira
Não se detenham:
Façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
Gente de Vila Isabel de Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
Como o salário de um trabalhador aposentado
O poema
Terá o destino dos que habitam o lado escuro do pais
- e espreitam.

Ferreira Gullar, em “Toda Poesia”.


Para fomentar criatividade



Poeta Agenor Otávio, professor Toinho e o ator Giuseppe Marcello no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Pessoas que fazem cultura. 

Hoje, 22 de março, aniversário do ator e mímico francês Marcel Marceau, morto em 2007, vou ao Ponto de Cultura Cantiga de Ninar para reunião de planejamento para o mês de abril, com o pensamento do poeta Lau Siqueira balizando as ações: “Enquanto cadeia produtiva, pessoas fazem cultura, mas a maioria apenas consome, não é um fato? Logo, o mínimo que se pode fazer é oferecer algo que liberte, que fomente criatividade, que forme senso crítico, porque isso, inclusive, faz com que as pessoas produzam ou reproduzam cultura nesse padrão”.

Feito o mínimo, ou melhor, em paralelo ao mínimo, incentiva-se de várias maneiras a produção cultural, isso é o que se espera e o que estão esperando dos gestores. Para Lau Siqueira, em João Pessoa voltamos à estaca zero em se tratando de políticas públicas para cultura. Em Itabaiana, também pouco se fez. Até formatamos uma carta ao prefeito para lembrar dos compromissos assumidos pelo então candidato a prefeito em documento assinado, onde estabelecia projetos de implementação das políticas públicas de cultura para o município de Itabaiana. Como signatário daquele documento histórico, sua posse significou para nós a possibilidade de recuperar a grandeza e relevância da nossa cultura. Passado um ano de governo, ainda nenhum compromisso foi cumprido.

Para abril, está prevista a realização do 1º Festival de Vídeo Estudantil de Itabaiana, com oficinas, mostras, palestras e debates. Trabalhar conteúdos, estimular debates e ensinar a fazer, são os objetivos. O projeto é do Cineclube Vladimir Carvalho, capitaneado por Rosival Silva e Marcos Veloso. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Hoje é o Dia Universal do Teatro


Das Dores e Giuseppe


Apaixonei-me pelo teatro aos dez anos, quando vi uma peça no velho Teatro Recreio Benjamim, em Timbaúba dos Mocós. Aos dezoito ano, criei um grupo de teatro que ainda hoje existe na cidade de Itabaiana do Norte. Não fui um bom ator de teatro porque me faltam disciplina e dedicação. A magia do teatro, entretanto, me fez ver ângulos da vida e do ser humano que, sem as luzes dos refletores, talvez não pudesse vislumbrar. 

Abram as cortinas, entretanto, para dois atores amadores que ainda permitem a sobrevivência do nosso grupo, aos trancos e barrancos. Não tem vaia nem aplauso que esmoreça esse povo do tablado. Das Dores Neta é uma das que fazem parte desse ritual que é paixão visceral. O ator Giuseppe Marcello tem mais de vinte anos de estrada, de palco mambembe aos grandes tablados como o Teatro Santa Isabel, do Recife. Talvez o que faça a gente passar a vida toda sonhando com teatro, mesmo sem praticar, é aquela coisa de dar e receber algo que nos transforma e transforma de alguma forma quem nos vê. Isso é que é a comunicação mágica do teatro. 

Tem gente que faz vestibular para teatro. Outros se transformam em profissionais, especializam-se, estudam, fazem pós graduação, doutorado. Outros, como o palhaço Estrelinha, vivem de esmolas nas ruas. Alguns, a maioria, trabalham de graça. No nosso teatro não tem preços populares.  Não vendemos ingressos. Vamos às casas das pessoas e as convidamos para ver a peça. Ou mostramos na rua, na praça, para quem quiser ver. Para o ator, a satisfação é a mesma. Com ou sem cachê, com platéia ou sem, o que queremos é “quebrar a perna”, que é a expressão do meio teatral que significa “boa sorte”. Isso acontece quando terminamos o espetáculo e recebemos aplausos efusivos da platéia. Esse reconhecimento é a nossa paga. 

Ao nobre ator Giuseppe Marcelo e à persistente atriz Das Dores Neta, em nome do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana e de todos os que fazem teatro amador, parabéns e que todos “quebrem a perna” todos os dias, para honra e glória dessa arte eterna.