terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O ídolo das multidões anda meio decadente


Este é o nosso Nilson Reis, o famoso Nilson Tanajura, cantor da terra. Nilson imita o poeta do cravo branco, o saudoso Maurício Reis. Influenciado por este cantor breguíssimo, Nilson não perde concurso de calouro. Já é um calouro veterano, com mais de 20 anos de estrada.
Nilson é um continuador da nossa tradição de produzir malucos belezas que acabam por levar a sério seus sonhos de gravar um disco, vestir roupas espalhafatosas, tocar uma guitarra e cantar para os fãs. Conheci um rapaz que imitava um famoso cantor brega, o Evaldo Braga, que já passou, há muito tempo, para o andar de cima. O maluco se chamava Pedrinho Frequência Zero. Troquei muitas ideias com Frequência em mesas de bar. Chegamos à conclusão de que ele deveria produzir e apresentar um show. Tava maduro para ser lançado. Pedrinho assim fez: comprou roupas de artista, um óculos de sol na feira, uns anéis, colares e sapato “Cavalo de Aço”. No dia do show, marcado para a Sociedade dos Trabalhadores de Nicó, Pedrinho alugou um carro de praça e saltou na frente do clube. Não havia ninguém na rua, mesmo assim ele entrou voando de porta a dentro, como se corresse de fãs alucinados para pegar no bico do paletó do astro. No palco, soltou a voz, agradeceu a presença do público e mandou ver. O público: eu e Caveirinha, além de Biu Penca Preta, já meio bêbado. Aliás, Biu era o empresário do cantor.
Esse bicho ficou na minha cola, querendo que eu levasse o peste pra cantar ao vivo na Rádio Difusora Nazaré do meu conterrâneo Ivo Severo, que me ameaçou de demissão sumária e esculacho geral se cometesse a loucura de levar o louco para o estúdio de sua rádio, que aliás nem era rádio e sim uma difusora de poste.
O grande cantor Evaldo Braga fazia sucesso com a canção intitulada “Eu não sou lixo”, onde garantia que “nem tudo se joga fora, pois nem tudo é lixo”. A arte imita a vida ou vice-versa: Nilson não joga fora os descartes da sociedade de consumo. Guarda tudo. Onde mora não cabem mais os caixotes de resíduos que se amontoam no outrora bem cuidado jardim da casa dos pais. É o retrato de antigo fausto, de passadas riquezas, velhos sonhos de insanos e “normais”, alienados e sensatos que um dia construíram fantasias dos seus desejos mais íntimos. Tudo vira lixo, mesmo que a gente guarde com gesto afetivo de quem não acredita no triturar constante do tempo e vive sua fantasia a vida toda. “Só os doidos são felizes”, filosofava o maquinista e especialista etílico, meu compadre Bertoldo, do alto de sua barriga imensa onde nadavam peixinhos fritos em um mar de cachaça.
Sim, e hoje é dia de São Tomé, o cara que só acreditava vendo. Não tem nada a ver com a história dos astros imaginários. Ou tem, já que, para os verdadeiros sonhadores, a realidade é só um detalhe. No íntimo, eu mesmo sou uma mistura de “Pedrinho Frequência Zero” com Nilson Tanajura.


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