quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Ser flamenguista é padecer no "paraíso"

Flamenguista sofre!

Tenho um amigo que sua religião é a flamenguista. O cara é Flamengo desses que adoecem quando a porra do time perde, fica sem sistema nervoso no dia do jogo, essas idiotices todas. O peste até gosta da Paraíba, tem uma quedinha pelo Botafogo genérico de João Pessoa, mas o negócio dele é Flamengo. Diz que amor por time não tem fronteira. Pode chamar de abestado, de paraibabaca, pode humilhar o peste por torcer por um time de uma cidade onde jamais andou, um lugar onde as pessoas costumam menosprezar os paraibanos. Não ta nem aí. Ele tem orgulho de ser flamenguista, e pronto.

Pois eu queria ser flamenguista também. Para poder vestir aquela camisa horrível, porque preto e vermelho, convenhamos, não combina em lugar nenhum, a não ser no boteco de Zé do Bar em tarde de domingo nas rodas de bebinhos flamenguistas sacaneando e sendo sacaneados numa boa, porque o bom do futebol é a diversão com os amigos, as piadas, as apostas junto com esse povo apaixonado, numeroso, povão mesmo que extravasa a alegria em um grupo de gente com a mesma fé verdadeira por um time.

E se não houvesse o Flamengo no mundo? Não teríamos a poesia suburbana e cafona do rapaz de bermuda e camisa rubro-negra com a garrafa pet cheia de cachaça misturada com Coca-Cola, mastigando o velho churrasquinho de gato no capricho no meio da torcida, batucando, vibrando com aqueles pernas-de-paus, jogando na zaga, defendendo as cores aos berros, sofrendo não por causa do chifre presenteado pela mulher, nem pelas contas a pagar, pelo emprego medíocre, pela vida sem perspectiva, mas por esse time por quem vale a pena se acabar, uma paixão que realmente importa na vida desse povo. Quem vê de longe até pensa em retardo mental. Mas é amor que ofusca a razão, enfim, milhões de apaixonados por um time que talvez nem mereça a torcida que tem. É como diz Armando Nogueira: “Quem ama um time sabe que torcer mata mais do que jogar por ele.”

O time do urubu criou uma tradição na massa. O pai quer porque quer que o filho seja flamenguista.

--- Pai, por que eu devo torcer pelo Flamengo?

--- Porque é o time que tem a maior torcida do mundo.

--- Na Índia e na China, países mais populosos do mundo, também jogam futebol e ninguém por lá sabe o que é Flamengo.

Ameba contabiliza, sarcástico: “Na verdade, não é porque sou Botafogo, mas esse Flamengo é bom de torcida. De time, é sofrível. Somos o time que mais cedeu jogadores para a Seleção Brasileira, depois vem o São Paulo, o Vasco, o Corinthians. Já o Flamengo...”

Não importa. Perdendo ou ganhando, a turma goza do mesmo jeito. Tem Zico, Leandro e Júnior, mas qual a Copa do Mundo que eles ganharam? Isso não conta, porque ser flamenguista é um estado de espírito, conforme proclamou Maciel Caju, o rei dos chavões.

Por isso eu queria ser flamenguista. A vida ta uma merda? Pouco ganho, geralmente nem empato? Meu povo é pobre, barraqueiro, sem educação, alienado, sem dentes, fudido? Os manda-chuvas pegam o amor da massa pelo time para se promover? Não importa. Eu queria viver sem conhecer os fatos sociais e políticos que me separam da arquibancada sombra e das cadeiras numeradas, mas feliz, distanciado da minha própria realidade.

“Uma vez Flamengo...”




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