terça-feira, 30 de julho de 2013

Estamos na quarta divisão e descendo




Conterrâneos, saiu o resultado do Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios. A velha e maltratada Itabaiana do Norte ficou em último lugar na região, com crescimento de apenas 1 pontinho em treze anos. Mogeiro de dona Didi cresceu 29 pontos em cima da gente. Meu reconhecimento, antes de tudo, pela capacidade de sobrevivência desse povo itabaianense que escapou com vida a um Babá e duas Mãe Dida seguidas, o que não é pouca coisa. 

Tem uma coisa chamada bom senso. Pois do alto da minha fraca prosopopéia, ouso dizer que nossa faculdade de julgar é muito mínima, já que falta o essencial: espírito crítico, independência intelectual, discernimento, critério. Senão vejamos: em 2016, Mãe Dida vai aparecer com seu filho único debaixo do braço e vai dizer: “eis aqui meu herdeiro, votai nele pra prefeito de Itabaiana”. No mínimo umas 4 mil pessoas vão votar no rapaz, porque jamais irão saber que, durante a gestão da mãe, a cidade foi a que menos cresceu em Índice de Desenvolvimento Humano da Paraíba, e se desse fato tiverem notícia não terão condições de comparar, meditar e dimensionar o que isso significa em desgraça social. Crescimento vegetativo, apenas 1 pontinho magro e famélico. Isso é grave, gravíssimo! Nenhum gestor que tenha sido responsável por uma tragédia dessas mereceria ao menos pensar em voltar à gerência da cidade. 

Se algum herói da resistência quiser peitar a lógica perversa da política assistencialista, corrupta e incompetente do lugar, fica sozinho no meio da rua, apontado como palhaço, doido ou subversivo. Mas os números estão aí, para nossa vergonha. Ninguém vai bolar cartazes, faixas, vestir camisa preta, reclamar, protestar, porque até o último momento esperam por um empreguinho para o parente, uma ajudazinha pra consertar o telhado da casa ou um carro pra levar doente para os hospitais. 

O time de Itabaiana está disputando a quarta divisão do campeonato da miséria, sem grande esperança de acesso às divisões superiores. Na beirada do inferno, esse time não tem nenhum grande craque ou esquema de jogo revolucionário. Time ruim, sem um plano de desenvolvimento, com péssimos técnicos e jogadores medíocres. Nosso déficit de atenção não deixa ver onde, como e quem furou nossa bola. 


Pessoas que refinam a sensibilidade e aprimoram a consciência

George Mendonça com o veterano jornalista Arnaud Costa, meu pai 

Mandando meu alô para meu compadre George Mendonça de Itabaiana. Mendonça é um cara empreendedor, sujeito decente, amador por natureza, gosto e ideologia. Trabalha projetos de comunicação com o simples propósito de ajudar sua comunidade. Agora está se ocupando no mister de montar uma rádio web para transmitir reportagens e entrevistas sobre a realidade de sua terra, a velha Itabaiana do Norte.

Contra todas as evidências dos fatos, nessa terra onde nasceu o poeta Bastos de Andrade ainda há quem cultue a honestidade, limpidez, decência, modéstia e decoro. E com laivos de arte, no caso do compadre Mendonça, um rapaz possuidor de faculdades poéticas.

A vida – tão previsível quanto incompleta, conforme atenta o magnífico poeta WJ Solha em seu livro “Esse é o homem”, levou-me a conhecer esse rapaz a quem rendo minha consideração desinteressada. Outro que se consagra no panteão dos meus heróis da cidade onde nasceu Arnaud Costa é o insigne professor Severino, um rapaz que também rompe todas as leis e lógicas da sociedade de consumo e capitalista, dispondo seu tempo para ensinar matemática a jovens carentes de conhecimentos nesta área para enfrentar concursos públicos. Sua apaixonada intensidade ao objetivo de educar o levou a entrar no mundo mágico da robótica educacional, área onde já faz experiências interessantes, projeto que quer levar para o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. São pessoas que contrariam, de certa forma, os cânones que regem uma sociedade competitiva e egoísta, ao dedicar seu tempo e suas melhores energias para servir ao próximo.  

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pedro Osmar no programa “Alô comunidade”


Nesta edição, uma entrevista exclusiva com Pedro Osmar, o legendário fundador do Jaguaribe Carne, falando sobre democracia, produção musical e sobre seu programa de rádio "Macacos me mordam".

“Alô comunidade” é um programa temático sobre comunicação comunitária, produzido pela Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares em parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos e Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

Produção de Fabiana Veloso, Dalmo Oliveira e Fábio Mozart. Apresentação de Beto Palhano e Fábio Mozart. Sonoplastia de Maurício Mesquita e Ivan Machado. 

Rádio Tabajara da Paraíba AM 1.110 – Sábado, 27/07/2013

Para ouvir a gravação do programa:



COLUNA DE ADEILDO VIEIRA

As ondas artesanais da Rádio Universitária
Adeildo Vieira

Inesquecível aquela tarde de sábado, 30 de agosto de 1986. O Show “Todas as Estrelas”, produzido pelo Musiclube da Paraíba, enfrentava uma platéia vazia, pois nenhum evento musical preencheria o vazio que a cena cultural paraibana passava a viver naquele dia. Era o velório do querido e saudoso maestro Pedro Santos. Mas o show aconteceu assim mesmo. Tocamos uns para os outros e registramos o feito em fita cassete, sem imaginar que muito em breve o malfadado show ganharia o público da Rádio Universitária FM, que abraçava as ousadias dos músicos independentes de nossa cena cultural. Ao acionar o PLAY daquele tape deck, Nandinho Azimuth, nosso músico e operador de som, estava produzindo um registro histórico.
A Rádio Universitária era um porto seguro para nossos sonhos. Um paradigma radiofônico que prezava pela coerência de se respeitar o processo cultural local, mesmo calcado por uma realidade que impedia excelência técnica em suas produções. Mas eu não continha a satisfação de perceber nas ondas do rádio o projeto de inclusão cultural negado por todas as demais emissoras, ainda que mostrasse a crueza da realidade a que estávamos submetidos.
Este afã de inclusão cultural era capitaneado pela ação obstinada do diretor de programação da emissora. Carmélio Reynaldo, professor do então DAC - Departamento de Arte e Comunicação da UFPB, era o capitão desta nau que insistia em manter-se no rumo da coerência. De mãos grudadas no timão de suas ideias, deixava claro o papel que deve ter uma emissora de rádio em divulgar uma programação regional, como reza na constituição brasileira.
Bom, mas como não tínhamos estúdios de gravação na Paraíba à época, Carmélio criou uma forma de veicular nossas produções caseiras, geralmente gravadas em fitas cassete. De forma artesanal, abria as caixas de fitas de áudio virgens e as cortava no tamanho que coubesse uma canção. Depois as emendava novamente, gravando uma determinada música nos dois lados da fita. Estava ali criado um cartucho de áudio para um tape deck, de forma que, ao terminar a execução da canção ela já estaria no ponto de ser tocada no outro lado, sem ter que rebobinar. E assim foi construído o acervo de músicas dos compositores paraibanos independentes, incluindo-se aí várias canções do show “Todas as Estrelas”, que estaria fadado ao esquecimento não fosse este debruçamento poético de Carmélio Reynaldo sobre nossos sonhos de tocar no rádio.
E foi assim, ainda nos anos oitenta, que, extasiado, ouvi minha voz no rádio pela primeira vez. Ainda imaturo para a lida musical, eu já sentia a responsabilidade de ver minha produção viajando nas ondas do rádio, mas também experimentava a rara sensação de inclusão da alma musical paraibana num projeto democrático de radiodifusão. Em nome desse projeto muitas lutas são travadas até hoje contra os poderes que negam a alma da Paraíba, manifestada em seus artistas. As emissoras comerciais gastam muito mais energia para obstruir a difusão da nossa produção cultural do que desprendia Carmélio em suas empreitadas artesanais para promover a nossa inclusão.
Quero apenas lembrar que cada vez que alguém ouvir a voz de um artista paraibano no rádio, lembre de reverenciar a história da Rádio Universitária FM e seu diretor com alma de artesão.


Rádio Barata, aquela que não come, mas bota gosto ruim

A RÁDIO BARATA  ainda bem não botou as antenas de fora, já esquematiza a grade de programação. É só um esquema geral, espaços aguardando comunicadores ou sonhadores em pilotar projetos de cutucar cabeças incutucáveis.

As baratas são cerca de 5.000 espécies no mundo. Não é possível que a Rádio Barata não encontre meia dúzia de insetos de cabeça curta, subtriangular, com olhos grandes para ver o que está por trás da mídia escrota. A ordem é resistir, que a barata é mais resistente que os humanos e quase todos os outros bichos. A bichinha se vira muito bem em ambiente hostil. Se faltar comida, faz refeição de matéria em decomposição e pode viver sem cabeça por algumas semanas.

Portanto, as baratas são os verdadeiros heróis da resistência.

POSSÍVEL GRADE DE PROGRAMAÇÃO:


Antena de Barata - (A notícia sob o ponto de vista do receptor)

Visão de barata – (Programa de opiniões as mais desencontradas)

Odor de barata – (Outro folhetim cagatório – Uma meia dúzia de figuras cagando regra)

Barateando – (Coletivo de artistas alternativos)

Barata atômica – (Reúne o universo dos artistas plásticos, fanzineiros e grafiteiros)

Barata tonta – (Humor rasteiro)

Barata versus baygon – Debate de tema atual.

Barata selvagem – Rock and roll pesadão

Barata de esgoto – Nosso programa anti-policial

Baratinhas – Crianças produzindo e rodando o carrocel.

Isca de barata – Web TV com reportagens politicamente incorretas do ponto de vista do sistema.

Barata psicodélica – Alucinações sonoras.

Barata na cama surta – Sexo animal (no caso, sexo baratal, insetal caseiro noturno. Nos intervalos, som experimental.)

Barata ao molho livre – Música paraibana que não toca nem na Tabajara.

Barata comunitária – (Edições do programa “Alô comunidade”)

EQUIPE DA PRODUÇÃO: Fábio Mozart, Heriberto Coelho, Ivaldo Gomes, Marcelo Ricardo, Pedro Osmar e Gilberto Júnior.


domingo, 28 de julho de 2013

POEMA DO DOMINGO



ANTES QUE VENHA O DILÚVIO

Há que se soltar o Touro
como um justiceiro forte,
que alague de sul a norte
com uma mijada.

Há que se fechar estrada,
fazer piquete na rua,
deixar a elite nua,
numa cilada.

Há que se apertar o laço
nessa gente sem-vergonha
sem mais demora.

Carece gritar ao mundo
nosso brado retumbante
logo agora.

É preciso arrebanhar
e trancafiar, deter
a camarilha.

Antes que o Touro brabo,
diante do descalabro
dessa quadrilha,

Encha as medidas do T
com seu orgulho ferido,
numa explosão,

mande tudo pelos ares
com uma forte e concentrada
evacuação.

Fábio Mozart

Pedro Osmar no ninho da barata


Eu e meu compadre Pedro levando um papo nas ondas da Tabajara


Ontem foi o dia de recepcionar meu compadre Pedro Osmar no programa “Alô comunidade”. Ao longo da entrevista que durou uma hora, este singular artista paraibano falou do seu trabalho como criador multifacetado, compositor, cantor, instrumentista, artista plástico, poeta e dramaturgo. 

Simplicidade é uma das facetas da personalidade de Pedro Osmar que mais se sobressaem à primeira vista. O homem não gosta de formalidades. A escala geográfica da atuação de Pedro vai desde o bairro de Jaguaribe onde nasceu e criou um movimento artístico histórico chamado “Jaguaribe Carne”, até os confins de São Paulo, passando pela Europa e África. O que vale destaque é o experimentalismo de suas criações na percussão, no violão, na viola nordestina e até no piano. Pintor, poeta e agitador cultural, Pedro Osmar é referência nas vivências e convivências do que de melhor gerou a cultura paraibana nos últimos 40 anos. 

Coerente com sua personalidade inquieta, Pedro se inscreveu imediatamente no coletivo do projeto “Rádio Barata”, ideia de rádio web que está sendo gestada por mim e pelos camaradas Gilberto Bastos, Heriberto Coelho, Dalmo Oliveira, Ivaldo Gomes e Marcelo Ricardo. Essa “Rádio Barata” pretende ser um campo livre para a comunicação, sem fins lucrativos ou doutrinários, onde coisas estranhas devem acontecer entre o sonho e a revolução. 

Do meu reencontro com Pedro Osmar na velha Rádio Tabajara da Paraíba (onde ele produz o programa “Macacos me mordam”), saiu a intenção de montar uma das suas peças teatrais. É que, conversando com o mestre Pedro, sempre surge um sonho ou um propósito de concepção de projetos novos ou reciclados. Abdicando de sua condição natural de um dos maiores artistas que a Paraíba criou, Pedro gosta mesmo é de ser coadjuvante nas ações de guerrilha cultural que empreende nas periferias e sub-becos, na ânsia de renovar os padrões estabelecidos a partir da visão dos explorados de todos os matizes.  

sábado, 27 de julho de 2013

Professor ensina princípios da radiodifusão comunitária em escolas públicas de João Pessoa/PB

Essa é a juventude que faz a diferença


Esse professor da foto é meu compadre Marcelo Ricardo, da Rádio Comunitária Diversidade FM do Jardim Veneza, bairro pobre aqui da periferia de João Pessoa. Essa rádio é uma autêntica comunitária que não tem vínculo com nenhum político, só com a comunidade. Por isso foi fechada pela Polícia Federal a mando da Anatel, com chancela da Justiça Federal que ainda aplicou multa na diretoria.

Eu disse, digo e confirmo: as instituições da República estão a serviço das oligarquias, do poder econômico e político. O povo, seus direitos, suas necessidades, seus anseios, isso fica em segundo ou terceiro plano. Porque me diga: que mal faz uma rádio de baixa potência operando em um bairro pobre, educando as pessoas, fazendo serviço social, combatendo as drogas e a violência? Nunca é demais lembrar que a maioria das concessões de rádio e TV comerciais estão irregulares, sem que a Anatel e o Ministério das Comunicações movam um dedo para atingir esses empresários.

Mas isso é outra história.  Depois da pressão violentíssima do sistema, a Rádio Comunitária Diversidade saiu do ar, passando a operar somente com caixas de som instaladas nos postes da comunidade. Pensa que a moçada desistiu, entregou os pontos? Nada disso. Nesse ambiente desfavorável, os rapazes e moças da Rádio Diversidade resolveram tocar o projeto, agora levando as técnicas e a filosofia da radiodifusão comunitária para as novíssimas gerações. Marcelo Ricardo é professor de algumas turmas de escolas públicas, onde ensina o manejo de equipamentos de comunicação. Aproveita e passa para a garotada, de forma leve e descontraída, conceitos sobre comunicação, porque se vê o que se vê na TV, porque o rádio fala mal das comunidades periféricas, o que é baixa qualidade técnica e sensacionalismo.

Na prática, Marcelo Ricardo, Ricardson Dias e os outros caras da Rádio Comunitária Diversidade FM exercem o confronto de classes que envolve aspectos objetivos e subjetivos. A guerra é nos meios de comunicação. Ninguém espere que vai ter moleza, que a luta é fácil. A peleja passa pela formação da consciência dessas novas gerações. Isso é tarefa para abnegados guerrilheiros como o professor Marcelo Ricardo.


Fábio Mozart

sexta-feira, 26 de julho de 2013

GRAVAÇÃO DA EDIÇÃO Nº 109

“Alô comunidade” entrevista as meninas da Marcha das Vadias e o mamulengueiro Beto Quirino


Ayala, Mabel Dias e Beto Quirino

Nesta edição do dia 20 de julho, entrevista com a Coordenadora de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de João Pessoa, Socorro Pimentel, que fala sobre a realização da I Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial.

Também entrevistamos Mabel Dias e Aylla Milanez, organizadoras da edição 2013 da Marcha das Vadias na capital paraibana. Fábio Mozart e Beto Palhano entrevistaram ainda o ator, mamulenguista, ventríloco e artista popular Beto Quirino que veio ao programa falar do lançamento de seu videodocumentário "Sertanejo, quem te ensinou a nadar?".

Produção de Dalmo Oliveira, Fabiana Veloso e Fábio Mozart. Locução e apresentação de Mozart e Beto Palhano. Reportagem Zuma Nunes e Dalmo Oliveira. Sonoplastia de Maurício Mesquita.

Clique para ouvir:


“Alô comunidade” entrevista Pedro Osmar neste sábado

Pedro Osmar, cantor, poeta, músico, instrumentista e artista plástico paraibano, conversa com Fábio Mozart e Beto Palhano neste sábado, dia 27 de julho, no programa “Alô comunidade”, produzido pela Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares e transmitido direto dos estúdios da Rádio Tabajara da Paraíba AM.

 “Alô Comunidade” é retransmitido por oito rádios comunitárias e diversos sites e blogs, numa produção do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, Coletivo de Jornalistas Novos Rumos e Sociedade Cultural Posse Nova República.

O programa tem início às 14 horas e pode ser ouvido em tempo real através da internet pelo link:
http://radiotabajara.pb.gov.br/


MICROCONTO

ENQUANTO NÃO ARREBENTA A DERRADEIRA EXPLOSÃO

Roubaram várias vezes a casa de praia. Calor medonho. O dono pegou umas bombas poderosas, abriu o motor do ventilador e instalou a  armadilha.

O ladrão chegou, tirou a camisa, abriu a geladeira, comeu uns salgadinhos com cerveja. Calor medonho! Ligou o ventilador e explodiu tudo!

Vizinhos foram ver o estrago. Pedaços do telhado, cacos de vidro, muito sangue.
O ladrão foi encontrado no hospital. Perdeu um dedo e ficou todo chamuscado. Disse que estava fazendo instalação na rede elétrica e deu um curto circuito.

No dia seguinte, o dono da casa escreveu no seu blog: “O exército de descamisados, sem tetos, sem terra, sem comida, sem fé, sem futuro, sem nada, vai avançar e vai buscar a pequena burguesia dentro de casa pra comer o fígado. Eles são muitos e não sabemos voar. Vai explodir tudo!”


quinta-feira, 25 de julho de 2013

GENIAL



"A sombra,

ausência de luz,


é presença


que assombra".



Waldemar José Solha

Faleceu dona Nair, uma artista do povo de Pilar


O Boi de Nair saía todos os anos no carnaval. Dona Nair, a dona do boi, envelheceu e seu brinquedo foi, aos poucos, perdendo componentes. Ficou a tradição. Há alguns anos, o boi de Nair não sai nas ruas de Pilar, no carnaval. Faltando apoio, entusiasmo das novas gerações. Descaso com a cultura popular, coisa corriqueira nessas cidades do interior, governadas por “frios carreiristas políticos completamente desprovidos do sentido da verdadeira cultura”, como afirmou o jornalista Nonato Nunes.

Ontem, morreu dona Nair. Foi o golpe de misericórdia no velho boi. Sua sentença de morte definitiva. O Boi, que já vivia apenas na lembrança de dona Nair e nos figurinos e adereços pendurados  na cumieira da casa, agora vai ser enterrado junto com sua dona.

Lamento muito a morte de dona Nair, a quem não cheguei a conhecer pessoalmente. Tive notícias do boi através do meu amigo Evanio Teixeira, um jovem consciente do valor da arte popular. O Ponto de Cultura Cantiga de Ninar vai realizar o Cortejo dos Bois em Itabaiana, dia 24 de agosto, para homenagear os mestres desse brinquedo. O Boi de dona Nair estava programado para abrir o cortejo. Vou me empenhar para que o boi de dona Nair saia, assim mesmo. Como uma homenagem a esta artista do povo, mestra genuína de uma manifestação folclórica tão importante no contexto da cultura nordestina.