quinta-feira, 20 de junho de 2013

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA



Uma batalha sem perdedores!

Adeildo Vieira

Não aceito a ideia de que há cultura maior que outra. Defendo que há cores diferentes na aura de povos diferentes, exaltando o jeito que inventaram pra traçar os caminhos pra sua felicidade. Afirmar que há cultura maior que outra é o mesmo que dizer que há povos melhores que outros. Mas gente é gente em qualquer lugar. Cada povo constrói seu norte, pois bem sabe pra onde quer que a vida aponte.
Nós, brasileiros, somos alquimistas capazes de manipular as felicidades do mundo. Os movimentos da história transformaram nossa cultura em um amálgama de almas multicolores vindas daqui de d’alhures. Em nosso povo a paleta de cores d’alma se fundiu e o resultado dessa mistura é a densidade da cor de nossa identidade, ainda que tenhamos perdido boa porção da alma-pau-Brasil, que já verdejou no coração dos nossos índios.
Nascido em guetos americanos, o hip hop logo se popularizou pelo mundo, certamente por ter surgido como canal de expressão para um discurso engajado contra as injustiças sociais nas periferias, realidade encontrada em tantos outros países.  A proposta musical deste movimento, construída a partir de batidas eletrônicas que conduzem um discurso contestador falado, deu surgimento ao rap – rhythm and poetry, que no Brasil ampliou a concepção da proposta para “Ritmo, Atitude e Poesia”. Mais do que simples discurso marcado por bits eletrônicos, o rap brasileiro agregou traços das culturas regionais, além de passar a ser o canal verbal para disseminar uma filosofia libertadora para as populações periféricas, não só calcada em denúncias, mas, sobretudo, apontando para uma organização política que os liberte da submissão.
Na semana passada vi uma maravilhosa faceta do rap, conduzida pelo rapper e DJ paraibano Pertinaz, que defende entusiasticamente a cena do hip hop do nosso estado, assumindo com orgulho a sua condição cosmopolita de ser morador do bairro de Mangabeira. O evento foi no Colégio Estadual José Lins do Rego, no bairro do Cristo. No palco, uma batalha de rappers. Na platéia estávamos eu, meu filho Rudá e uma legião de seguidores daquela cultura que traz em si códigos urbanos inconfundíveis, como os trajes, a melodia da fala, sua gíria, sua ginga ativada pelo som eletrônico. Dois a dois, subiam ao palco os “concorrentes” conduzidos por bits colocados aleatoriamente pelo DJ convidado. Trata-se de uma briga de rima como fazem os repentistas de viola, cujo objetivo é desmoralizar o adversário pela construção de versos tirados na hora. Confesso que fiquei impressionado pela performance dos jovens ganhadores, que, além de demonstrarem sua alta capacidade de improviso, souberam respeitar todos os perdedores na queda de versos e rimas. Aliás, a troca de abraços entre os participantes deu uma imensa sensação de orgulho pela manifestação de inteligência e ética manifestadas naquele palco.
Dali saí ainda mais convicto de que o hip hop tem em seu propósito o culto à inteligência, à visão crítica e à formação de uma cultura de paz que possa libertar o povo oprimido das grandes cidades. Quem não souber disso, que procure aprender, derrubando a barreira do preconceito cultural que segrega esses talentosos jovens cheios de alegria e poesia.
Parabéns ao meu amigo Pertinaz pela brilhante condução do embate!!!



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