terça-feira, 23 de abril de 2013

Histórias de Vavá da Luz

Patos antiga


QUE NÃO TEM DIHEIRO CONTA HISTORIA

Nos anos setenta era eu funcionário de uma empreiteira da extinta Saelpa, a DUARTE LTDA, empresa especializada em redes elétricas de baixa e alta tensão.

Designado para trabalhar em Patos, lá vou eu de capacete branco a bordo de um Jeep Willys Overland sem capota, sem dúvidas  um engenheiro, e foi mesmo assim que logo, logo, passei a ser chamado em Patos: Dr. Walter Gois, o engenheiro da Saelpa.

Para abalizar meu “deproma”, percorria eu, a bordo do Jeep Willys, as linhas elétricas da cidade, sempre olhando para cima como quem quisesse encontrar algum defeito.
Patos estava tomada pela juventude universitária, inclusive tinha o Clube Universitário que carinhosamente chamávamos de CU. Era palco dos mais importantes eventos da época, casamentos, confraternizações, até mesmo uma simples cerveja o patoense preferia tomar no CU por ser amplo e arejado.

Pois muito bem, certa feita o CU estava em festa e eu liso. Sem a menor condição de entrar no CU, pus-me em frente dele e  comecei a matutar um modus operandi de entrada sem atentar ao pudor.

Absorto nos maus pensamentos, vendo lindas e jovens mulheres entrando e saindo do CU com a maior simplicidade, ficava me perguntando porque logo eu, um engenheiro tão famoso, estava ali, sem a menor condição de entrar no CU.

Vez por outra passava um amigo, pois com a função fiz muitas amizades importantes, e perguntava: “E aí doutor? Ta esperando o que? Vamos que vamos!”

Ainda sonhando baixo, me deparo com uma silhueta gorda e conhecida. Era Hibernom, um camaradinha filho de Patos, Fiscal da Saelpa e por coincidência, liso que nem eu.
Pedimos dinheiro emprestado um ao outro e ouvimos a mesma resposta. Ficamos a fitar estrelas quando de repente Hibernon me olha com os olhos faiscando e diz: “Doutor, vamos entrar na festa e beber do bom e do melhor e por cima, de graça”, disse-me ele apontando para um velho poste que pendia pra dentro do CU como que querendo entrar na festa.

--- Vá buscar o caminhão MUNK, -  complementou Hibernon.

Sem perguntar, corri ao acampamento que se localizava em São Sebastião, passei a chave no MUNK e coloquei-o frente ao CU, debaixo do poste já citado.

Nesse interim, o Hibernom, por ser filho da cidade e conhecido por todos, mandou chamar o organizador da festa e disse: “Rapaz, como tu sabes, eu sou fiscal da Saelpa e acabo de receber um telex ordenando que se arranque esse poste aí da frente agora mesmo, mas sem estresse que o Dr. Walter Gois faz isso em mais ou menos duas horas e a festa volta ao normal.”

O organizador da festa, que já tinha investido uma fortuna, quase teve uma hemorragia de fezes e foi logo berrando: “Pelo amor de Deus, Doutor, isso seria a minha ruina, estou perdido, veja o que o senhor pode fazer por mim, que eu serei sempre grato, eternamente grato.”

Hibernom temperou a voz de vitória e, em segredo, disse ao desesperado organizador: “Veja bem, o Dr Walter Gois é um gozador, gosta de festas, mulheres, bebidas e outras coisitas mais; tente convida-lo pra festa, dando-lhe cortesia geral, vale a pena tentar, agora não diga que fui eu quem idealizou isso não, por favor.”

Bom, o resultado foi que entramos de CU a dentro, montados em potentes Cavalos Brancos, que quando se acabava uma garrafa, eu chamava o garçom e ameaçava arrancar o poste.  Acho que ainda hoje o bicho  continua firme, no mesmo lugar.

Vavá da Luz

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