quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Duas coisinhas



Meu PC deu pau e estou sem ferramentas para atualizar meus blogs, pedindo desculpas aos eventuais leitores pela escassez de conteúdo.

Aproveitando aqui uma “voltinha” em computador alheio para comentar/informar duas coisinhas: ontem, lembrei do meu passado em Itabaiana, quando tinha 19 anos e fazia parte de uma geração que lutou contra a ditadura. Foi quando soube da morte do padre Antonio Kemps. Esse vigário estrangeiro guardava os valores democráticos de sua terra natal e aqui dedicou-se a dar retaguarda para os que brigavam contra o regime de força comandado pelos militares. 

Foi Antonio Kemps quem assumiu a responsabilidade de autorizar a apresentação da “ópera do povo” Cantata para Alagamar, uma obra musical de W. J. Solha que denunciava os crimes dos militares contra o povo camponês em terras de Salgado de São Félix. O espetáculo foi realizado na igreja matriz de Itabaiana, cercada de policiais e agentes do Exército, SNI e o escambau, porque achavam que uma obra de arte seria muito perigosa para o sistema. Padre Kemps esteve na linha de frente, junto com o bispo D. José Maria Pires, na briga pelas liberdades democráticas e pelos direitos do povo. Levou metralhadora nos peitos, mas nunca recuou. 

Lembro que, naquela época, eu era metido a pintor. O padre Kemps me convocou para pintar dois grandes painéis sobre a escravidão e a luta dos trabalhadores do campo. Pintei com a ajuda do meu compadre David do Monte, que se dizia “materialista científico e dialético”. No final, o padre Kemps negou até o resto da tinta. Compadre Davi, com raiva, desapropriou alguns livros da rica biblioteca do padre, na Casa Paroquial. Foi o único padre que autorizou nosso grupo de teatro ensaiar na Igreja. Se bem que, depois, desautorizou porque uns espíritos de porco começaram a enfiar piolas de cigarros nas bocas dos santos, e esse sacrilégio o padre não admitiu.

Padre Antonio Kemps esteve fisicamente longe de Itabaiana durante todo esse tempo, mas nunca foi esquecido pelos que conviveram com ele. Era devoto de Nossa Senhora de Medugorje, a quem pedia bênçãos para sua Itabaiana, onde ajudou a construir uma nova história. Por ser estrangeira, talvez a santa não tenha tido muito interesse nos pedidos do nosso Antonio Kemps, por isso vivemos essa realidade que todo mundo conhece. Vá em paz, meu bom padre Kemps! Obrigado por ter feito parte de nossas vidas de forma tão exemplar.

Outra coisinha: recebi mensagem de Monica Rector: “Li o seu artigo sobre o pintor Otto Cavalcanti e gostaria de saber qual o email, endereço ou telefone, ou como poderia entrar em contato com ele. Obrigada, Monica Rector.”

Essa Monica Rector é professora brasileira aposentada da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente leciona Estudos Luso-brasileiros na University of North Carolina, em Chapel Hill, EUA. Tem publicado, nacional e internacionalmente, nas áreas de linguística, semiótica, comunicação não-verbal e atualmente Literatura Portuguesa. Está fazendo pesquisa sobre a arte pictórica de Otto Cavalcanti, pintor itabaianense que hoje mora em Fortaleza, Ceará, segundo as últimas notícias.

Portanto, peço ao Otto e/ou sua esposa que entre em contato com a professora Monica Rector pelo e-mail: prector@mindspring.com


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