quinta-feira, 26 de julho de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA


O Vôo da Águia no Céu das Canções
Adeildo Vieira

Acorda, poeta! Olha o serviço!!! É o que naquela noite gritava a poesia praquele bardo que imaginava passar impune a uma inspiração.Despertado pela poderosa, o poeta Águia Mendes me ligaria no dia seguinte pra avisar que chegaria atrasado ao trabalho, pois teria transformado a noite em dias. Sim, eu tenho o privilégio de dividir meu ambiente de trabalho – no DECOMTUR/UFPB - com este colega cuja maior doença é a compulsão de botar bois pra pastar nas nuvens e pendurar o sol em algibeiras, títulos de seus dois últimos livros. Santa enfermidade! Ao lado da poesia em pessoa eu acabo abrindo deliberadamente a guarda de minhas defesas imuno-poéticas, manifestadas emforma de dispersão do pensamento, pra contrair poesia em estado compulsivo. Surgiram daí canções em parceria com o tímido poeta, que não gosta de câmeras ou alardes em torno de sua pessoa, mas que, de tão inspirado, trouxe saúde pra minha obra musical.
O poeta Águia Mendes é o único de quem tenho conhecimento que é tocaiado pela poesia. Quando alvejado por um súbito golpe de inspiração, entra em crises de convulsão poética e produz poemas latejados que roubam suas noites de sono e tumultuam seus dias. Santo tumulto! O resultado disso são torrentes de palavras que, quando a serviço de nossas canções, nos servem ao deleite. Aliás, quer inocular o poeta com o santo veneno? É simples, basta apresentá-lo a uma melodia. Isso já é o suficiente pra que desgoverne o trem de sua criação ladeira abaixo. Agora sai da frente, pois o trem só pára em seu destino final: uma canção. Quanto a isso, sou réu confesso. Quero confessar em público que já pus o amigo poeta em santos apuros com acometimentos musicais, ao que safou-se com maestria.  A essas culpas exijo indulgência, pois não considero justo condenar aquele que presenteia o faquir com facas de prata, sabendo que está contribuindo pra beleza do espetáculo. Aliás, exijo perdão também tantos outros compositores que se enfileiraram na provocação ao poeta. Isso faz de Águia Mendes um dos mais profícuos ornamentadores de melodias em nosso estado.
Uma canção é uma mensagem com som. Ela precisa dizer algo, e que esse algo seja dito com beleza, grandeza, maestria, graça e bom gosto. Letrar uma melodia é labor musical. As palavras alinhavam a estrutura melódica, amalgamando idéias e sentimentos dentro de um conceito estético. É preciso sentir o ritmo da canção para traduzi-lo em sílabas, sem deixar que essa engenhosa montagem provoque o atropelamento de prosódias e outros danos às palavras, além de por as rimas como elemento sonoro que contribui para a sonoridade da canção. Isso tudo com densidade de conteúdo, é claro! Letrista de música émúsico das palavras, compositor de poemas cantados. Este ofício é exercidoa rigor pelo poeta Águia Mendes, que agrega valor estético às melodias onde põe a sua pena.
Pois bem, num tempo em que ritmos e melodias são valorizados em detrimento das letras das canções, quero prestar, em nome do poeta Águia Mendes, uma homenagem a quem se presta ao maravilhoso trabalho de moldurar canções com palavras, ofício que tem em Paulo Cesar Pinheiro um dos maiores mestres na nossa música brasileira, mas que, ao lado desse meu homenageado, temos o privilégio de contar com Bráulio Tavares, Ronaldo Monte de Almeida, além de tantos outros engenheiros de canções em nossa cena musical que têm sua genialidade escondida pela lamentável omissão da creditação de atores.
Bom, mas o que posso garantir ao poeta Águia Mendes é que ainda pretendo lhe trazer muito desassossego.



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