quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A guardiã da praça (1)


Praça Odilon de Carvalho vista do Bar de Zé

Dona Mariinha
Dona Mariinha mora há 47 anos na Praça Odilon de Carvalho, em Jaguaribe. É a guardiã da praça. Toda manhã, bota água nas touceiras que ela mesma planta com devotamento pelo mundo vegetal. Diz que conversa com as plantas, sabe seus segredos. Se não fosse pela dedicação de dona Mariinha, a praça já teria se acabado no abandono. “Só aparecem pra destruir”, queixa-se dona Mariinha, revoltada com ação de uma turma da Secretaria de Urbanismo que passou pela praça e cortou pelo tronco uma velha algarobeira. “Mas Deus é grande e a árvore já está brotando de novo”, diz aliviada, garantindo que a árvore, depois de cortada, passou 15 dias chorando, “gotejando lágrimas de dor, mas graças a Deus está renascendo”. Os homens da Prefeitura alegaram que a velha árvore estava infestada de cupim. “Se fosse assim, eu teria que derrubar minha casa, que tem cupim também, mas eu trato sem precisar destruir”, alega dona Mariinha.

O nome dela é Maria Alves, magrinha, muito popular nas vizinhanças, atendente médica no Hospital Infantil Arlinda Marques, viúva, três filhos, prestes a se aposentar. “Eu sou responsável pela praça, é minha missão de vida”,  garante dona Mariinha. Há uns tempos, a praça Odilon de Carvalho era ponto de maconheiros e malandros da região. À noite, faziam da praça um quartel-general. “Acabei com a farra: plantei agave e outras plantas que furam, têm espinhos. Isso espantou os malandros”, explicou.

Dona Mariinha é responsável pela criação e devoção da Santa Amassadinha, história que eu conto no meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”. É um arquivo vivo da História de Jaguaribe. Graças à sua memória fabulosa, fiquei sabendo de fatos históricos importantes e surpreendentes relacionados com a Praça Odilon de Carvalho. Ali moraram Kay France, a nadadora que atravessou o Canal da Mancha, o cantor Zé Ramalho, a ex-vereadora Madalena e o humorista Ari Toledo. Amanhã eu conto umas histórias preciosas desse povo quando habitava aquele recanto da velha Jaguaribe, o bairro mais tradicional da Parahyba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário