sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sem água, sem esgoto e sem futuro


Conselheira Tutelar Débora Lins visita casa de excluídos em Itabaiana. Nossa homenagem aos companheiros e companheiras que lutam pelos direitos das crianças e adolescentes porque hoje é o Dia Nacional dos Conselheiros Tutelares

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informa que a cidade de Itabaiana do Norte abriga 2.234 famílias em cujas casas não existe serviço de esgotamento sanitário nem saneamento de água. Tenho uma má notícia para dar aos meus leitores itabaianenses. A má notícia é que quase ninguém está interessado nesse fato. As próprias famílias em cujas residências não existe esgotamento sanitário nem água encanada nunca pararam para pensar nesse infortúnio, e se alguma vez lamentaram sua situação de miserabilidade, satisfazem-se com coisas que não tem nada a ver com a razão, como as pregações nervosas e sádicas desses pastores das seitas neopentecostais que proliferam nas quebradas, que não têm nada para dar mas tudo para prometer. Prometem o céu na terra para quem der mais ofertas nas caixas das almas utópicas, acabando por levar o último real do pão do pobrezinho.

Invocando o santo nome de Deus em vão, surgem os políticos nessas ruelas sem água nem luz às vésperas da eleição. Prometem, prometem e prometem. Com as limitações que sua indigente percepção impõe, os desvalidos 2.234 pais de família comprometem seus votos aos patifes em troca de dez ou vinte reais ou algumas cestas básicas. 

O mundo que é governado pelas instituições financeiras e pelo grande capital não precisa dessas 2.234 famílias para engrossar o mercado interno. Os candidatos, após eleitos, não precisam prestar contas a esse povo sem cidadania e sem água encanada. O que pode acontecer é que um filho dessa gente mal acomodada não aguente o choque de se ver tão excluído e desfeche um golpe de faca na barriga do filho de um candidato qualquer em uma esquina escura dessas ruas mal cuidadas para roubar o tênis do rapaz e comprar uma pedra de crack. Aí acontece algo que não é comum: a imprensa vai visitar a casa sem água nem esgotos na periferia, o candidato pai da vítima pede justiça, o delegado dobra o trabalho, o prefeito coloca à disposição do caso o combustível e as viaturas municipais. 

Mas tudo é relativo, cada coisa se encaixa em outra coisa, e assim vai. Por não ter esgotos nem água, nem renda e muito menos escola e saúde, as famílias da estatística contraproducente vão construindo esses seres disformes, fantásticos e ameaçadores da ordem, uma deformidade social que de vez em quando sai dessas malocas e vai perturbar a boa arrumação social dos que têm água encanada e esgotos. Depois caímos na mesma fatalidade: ninguém se importa com os desvalidos e o ciclo do horror se renova. Até quando? Normalmente a vida continua sem problemas, mas pode chegar a hora em que o paternalismo e clientelismo dos políticos não sirvam mais para barrar a fluidez do volume das águas barrentas de uma revolta radical. Aí não servem mais os sistemas de canalização, porque os detritos da onda desse protesto tomarão todo o esquema social carcomido e podre.

Um comentário:

  1. José Mário R. Pacheco18 de novembro de 2011 às 17:26

    Fábio, só investimento pesado na EDUCAÇÃO para mudar esse cenário. Povo com educação sabe tudo sobre DIREITOS E DEVERES, mas a maioria dos políticos não querem povo educado para não serem cobrados. Dizem que na nossa terra tinha um prefeito que falava: POBRE DE BARRIGA CHEIA É UM PERIGO, porque estando de barriga cheia não precisam dos políticos, aí não tem voto de cabresto.

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