quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A rapadura é doce, mas não é mole não


Abelardo Jurema, o breve, foi prefeito de Itabaiana por apenas quatro dias. Naquele tempo, prefeito não recebia salário de marajá e apresentava muito mais compostura e dignidade.


O meu leitor Ameba manda avisar que hoje é dia do prefeito, comemorado em todo o Brasil com uísque da melhor qualidade, boa companhia e farta mesa em badalados restaurantes, com direito a convidados especiais, tudo por conta da “Muda”.

O emprego é muito bom. Salários altíssimos, diárias generosas, carro e motorista, crédito ilimitado nos armazéns e demais fornecedores, amplo poder para agradar amigos e amantes, apaniguados e eleitores, parentes e aderentes. Quem fixa a atenção nessas regalias, esquece do grande esquema das licitações fraudulentas, o filé mignon desse negócio onde só entra quem é mala geral. O sujeito não investe de graça um milhão ou mais para se eleger prefeito de uma cidadezinha qualquer, apenas pelo amor à terra natal. O retorno é garantido e na base de lucro que supera o negócio das drogas.

Na outra ponta da linha tem o eleitor, que deveria também ser homenageado com seu dia. É o protótipo do otário. São de três tipos: o interesseiro, o idealista e o cabo eleitoral. O interesseiro só vota se receber algo em troca, nem que seja uma garrafa de cachaça, um pneu de bicicleta, um saco de cimento, coisas assim. Pensa que é mais sabido do que os demais. O idealista vota acreditando mesmo no seu candidato. Veste a camisa, briga com o vizinho, cabala votos pra no fim sair decepcionado com seu herói. O cabo eleitoral vende votos que não tem. Geralmente é pago com créditos que não existem.

Difícil encontrar hoje em dia um prefeito que se comporte com respeito e cuidado pelo patrimônio econômico, político e cultural de seus munícipes. Vida limpa, passado e presente decentes, competência, transparência administrativa, estar sempre no meio do povo, são virtudes que o eleitor consciente procura em um candidato a prefeito. Eleitores que pensam assim já são raros, imagina candidatos!

O prefeito mafioso, esse é o grande favorecido na farsa que se chama eleição. Entretanto, é como diz meu compadre Dalmo Oliveira: a rapadura é doce, mas não é mole não! Para ser prefeito, a pessoa tem que ter estômago e não ligar muito com essa coisa de honra, dignidade pessoal e vergonha no focinho. O ex-prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, foi preso algemado pela Polícia Federal, acusado de roubo. Sofreu o diabo, foi humilhado até à exaustão pelos inimigos políticos, caiu em depressão, teve a honra pessoal enxovalhada por jornalistas caça-níqueis. Mas está aí de volta, firme e forte, dando a cara de novo pra bater, querendo ser prefeito da Capital. Daí eu inverto o ditado de Dalmo: a rapadura é dura, mas que doçura!  


3 comentários:

  1. Oi Fábio: Hoje você me deu assunto para eu encher páginas, mas vou me limitar a algumas linhas. Ser Prefeito, trabalhador, honesto é sofrer sem remissão. Tenho dois sobrinhos Prefeitos, por amor a seus berços. O de Algodão de Jandaíra (Agrônomo)Isaac Rodrigo e o de Solânea (médico) dr. Chiquinho (como é chamado pelo povo). Esse além dos bons empregos efetivos é um cirurgião da melhor estirpe e amado pelos seus conterrâneos. A Prefeitura de Solânea era um esgoto a céu aberto, situação que o afligia. O governador Cássio enviava dinheiro de rodo para Solânea e não se sabe em que foi gasta essa verba. Ao término de seu mandato,o ex ganhou a Ficha Suja. O que assumiu (meu sobrinho) numa eleição limpa teve de reciclar todas as dívidas que depois de pagas pouco fica do Fundo de Participação, para as obras. Tem lutado para fazer alguma coisa. O governador Maranhão preocupado em atrair os adversários dos grandes municípios despejou o Erário nas contas dessas prefeituras e nada fez pelos correligionários. Ontem tivemos a grata satisfação de saber que suas contas de 2009 foram aprovadas por unanimidade, pelo TCE. Aliás não me admira, por seu zelo com o coisa pública.
    Um bom dia e um abraço de

    Lourdinha

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  2. Parabéns Fábio! Não precisa acrescentar mais nada a esse artigo, tudo que acredito e as pessoas gostariam de falar. Outro dia li em Marconi uma homenagem justa, ao servidor Edmilson, que não está mais entre nós, pessoa boa ilustre da minha infância. Aliás! nessa época se respeitava os servidores públicos, tinhamos admiração por um funcionário da Prefeitura e sei que atualmente existe muita gente ainda assim. Infelizmente as coisas mudaram, no meu tempo vereador nem salário tinha, a exemplo do meu pai, que foi preso em 1964 por defender a democracia. Agora todo mundo quer um cargo nos órgãos públicos e muitos políticos trocam seus votos por cabide, empreguista eleitoreira. KD os concursos?

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  3. Lourdinha já tivge realmente em Algodão de Jandaíra, na casa de seu sobrinho e Prefeito aliás, fiquei encantada como uma cidade tão pequena prosperou tanto com um jovem carismático e defensor engajado no desenvolvimento daquela cidade. Isac realmente é um exemplo a ser seguido juntamente com sua esposa e correlegionários, sentimos como ele trata os funcionários e quanto é querido pela população, um exemplo a ser seguido atualmente por esses políticos que por aí se apresentam. Há se nossa cidade tivesse um Isac para votarmos!!!

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