sábado, 3 de setembro de 2011

Timbu coroado


Eu vestindo o manto sagrado alvi-rubro, minha camisa da sorte, do tempo em que o finado Banorte bancava o timbu.

Torço por um time que tem a fama de ser da elite de Pernambuco, além de racista. Quando eu era garoto na cidade de Timbaúba, zona da mata norte pernambucana, o Clube Náutico Capibaribe estava no apogeu, era um fenômeno do futebol nordestino, naquele tempo muito mais fraco do que atualmente. Foi aí que comecei a torcer pelo Timbu Coroado, mesmo tendo em casa o fervor do meu pai pelo seu querido Santa Cruz.

Recordo bem que na minha turma de colegas havia um garoto negro, torcedor do Náutico e vítima do tal do bulling. Um negro não jogava no time, não torcia e nem mesmo entrava na sede social, segundo ouvi falar depois. Todo mundo gozava da cara do pobre garoto colored, torcedor alvi-rubro. Isso me marcou. Não entendia porque uma pessoa de cor não podia torcer pelo Náutico. A mesma coisa no Fluminense carioca, tido como elitista. Sabem por que o Fluminense tem o apelido de “pó de arroz”? Os caras pintavam os atletas negros com pó de arroz para mascarar a cor da pele e os craques afro-descendentes poderem jogar pelo clube. Parece mentira, mas falsa mesmo é a lenda de que somos uma democracia racial. 

O futebol é uma paixão que afronta até as desigualdades sociais e raciais. Depois, o Náutico foi se liberalizando e ganhando a massa. Lembro do primeiro negro a vestir a camisa do Timbu. Chama-se Elói, um ponteiro direito baixinho e veloz. 

Sou alvi-rubro de lembrar a formação no auge do hexa: Lula, Gena, Mauro, Fraga e Clóvis; Salomão e Ivan; Miruca, Bita, Nino e Lala. Meu cachorro se chama Miruca, para lembrar o cara que começou no meu Treze de Campina Grande e conheceu a glória nos Aflitos dos anos 70. 

Ser Náutico é um estilo de vida, como diz o poema da torcida fanáutica. É ser elite sem arrogância, mas ser diferente, afinal, “hexa é luxo”.

Tudo isso pra dizer que ontem ganhamos do Goiás, estando o time razoável; não é excelente, mas dá pro gasto. Pode ser que dê para chegar à elite do futebol brasileiro este ano, que a elite é o lugar do Timbu Coroado.


4 comentários:

  1. Mais uma torcedora do Náutico: eu.

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  2. Oi Fábio: Eu sou do Vasco e cooptei Zeamérico para torcei por esse time. Ele não entendia patavina de jogo, mas apreciava ou melhor captava a tendência do povão e construiu o estádio do Botafogo,no bairro dos Estados. Quando ele foi em 14 de novembro de 1969 condecorar Pelé ainda no campo antigo (antes do Almedão) ele fez um comentário tão desfocado que Américo quase vira o carro de tanto rir. "Que besteira foi que eu disse para provocar tanto riso... Eu só não repito aqui porque a besteirada foi tão grande que eu não desejo passar, de público, a asneira que ele disse. Não perdia jogo da copa e tivesse a televisão a idade que tivesse, uma nova eu era obrigada a comprar. O que ele pudesse captar pela literatura era doutor, mas na prática, quanto ao esporte do povo era um desastre. Um abraço de Lourdinha

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  3. Pois é amigo o TIMBU -COROADO esta chegando lá!
    Melhor ser chamado de barbee que de Leão que ruge forte e termina miando como garto.
    para vc boa recuperação
    atenciosamente
    LUIZA

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  4. Oi Fábio: Há mais de 30 anos só havia, uma, no máximo duas, televisões em cada casa. E as domésticas não deveriam assistir ao jogo em comum com a família a quem serviam.Pois bem as serviçais do Ed. Marques de Almeida iam lá para a casa de Zeamérico vibrar, gritar, nos jogos da Copa do Mundo, que ele, na sua rede assistindo também, são se incomodava. Quando a gritaria estava no mundo ele tranquilamente levantava a cabeça e dizia: "viu foi gol..." No fim da peleja, dependendo do resultado dava um dinheirinho a cada uma para celebrar ou suportar a desilusão. Ninguém sabia desse comportamento de Zeamérico. No dia de sua morte as patroas ou foram para o fogão ou comeram fora porque as cozinheiras estavam presentes no seu sepultamento. Como ele tinha um temperamento extremamente retraído, ninguém sabia dessas coisas, que ele reclamava que eu havia posto "a intimidade dele na rua..." Eu não admitia que tanta riqueza espiritual vivesse em cárcere privado. Ninguém conseguia vê-lo pela 1ª vez para não voltar a sua presença atraído pelo fascínio que vinha do seu interior. Converse com Gonzaga Rodrigues e Biu Ramos para ouvir se estou exagerando. Converse logo, pois são poucos os que ainda vivem e convieram ELE.
    Lourdinha

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