segunda-feira, 5 de setembro de 2011

BIU PACATUBA


                                                                                     
Lourdinha Luna
                                  
       Sempre ouvi dizer, por quem tinha autoridade, que não se escreve bem sem ler muito. Antigamente, pela falta de divertimento, quem possuía o dom da palavra escrita doava-se à leitura, daí a imensa produção literária dos séculos passados, na província da Paraíba.

    Hoje, como se explicar que, com tantos afazeres, a maior parte lúdicos, para os aposentados, é rara a semana que não se verifiquem lançamentos de livros, na capital, desde que os leitores exigem essa presença nas livrarias.

     Acabo de receber “Biu Pacatuba – um herói do nosso tempo”, apelido de Severino Alves Barbosa, de autoria do escritor Fabio Mozart Marinho, um filho de Itabaiana (PB). Culto, o autor expressa numa linguagem afetiva a historia real de um camponês, que sonhou condições favoráveis para o homem do campo e, impulsionado pela ideia, empenhou-se pela vitória do programa das Ligas Camponesas. Um movimento estranho ao seu ideal rompeu com a esperança, a virtude teologal que Biu Pacatuba viu sumir do seu horizonte, e soçobrar com ele no mar da desilusão!

       Todo o livro é no gênero Cordel, um modelo literário popular, originário de relatos orais e elaborados em rima. As estrofes são enunciadas de forma melodiosa e cadenciada. Nas cantorias, são acompanhados por violas.

       O estilo Cordel remonta ao Renascimento que popularizou a impressão das obras de poucas páginas, com o formato de folhetos. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras na capa.

       O folclore brasileiro é rico em lendas e personagens. Hoje, esse ramo da cultura é explorado por pessoas ilustradas, que o maneja numa linguagem articulada que transmite emoção. O acervo gráfico do telegrafista, inativo do Serviço Público,  Fábio Mozart, é um encantamento para o espírito. Quem desejar um testemunho da tradição, vai anotar a sensação agradável que a composição de caráter lírico presenteia ao ouvido e ao coração.  

       Esse modo de versejar é tão aceito no Brasil, que é tema de filmes com origens nas sagas nordestinas, onde esse jeito de versejar é vitorioso. Em 1988 surgiu a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro, para perpetuar através de uma Instituição Nacional, sua preservação e direitos dos cordelistas.  
   
       Obrigada caro amigo Fábio Mozart, por essas horas de entretenimento, não apenas para mim, mas para o ouvinte, emoldurado na parede de minha sala, que tanto valorizou o Cordel. Lendo para seu avô Augusto Clementino de Almeida, os folhetos adquiridos nas feiras de Areia, José Américo aprendeu a ler e a grafar as palavras que o levaram à imortalidade acadêmica.

(Publicado no Correio da Paraíba - 05/09/2011)

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