sábado, 13 de agosto de 2011

Músicas que gosto e tenho vergonha de admitir


Na mesa de bar, a gente se solta, como é sabido. Confessamos nossas fraquezas. Tem a hora em que cada um cantarola a música que gosta, mas nunca admitiria, sóbrio. Confesso que aprecio algumas canções bregas do Odair José, o rei das peniqueiras. Aquela que fala do rapaz apaixonado pela prostituta, a do relógio que atrasou porque ficou sabendo dos chifres do dono... Música de botequim pura.
Conversa de mesa de bar, tem o momento em que naquele espaço democrático se discute as principais questões do país, para depois de uma pausa qualquer, alguém comentar:

--- Já notaram como é chato e nonsense, algo disparatado e sem nexo, o cara chegar no hospital e nos perguntar: “Tá tudo bem?” E a gente responde: “Tudo bem, e contigo?

Democracia, limão, cachaça e mocotó de boi são coisas boas e todo mundo gosta. Ruim é o colesterol, a ditadura da mídia e o poder dos banqueiros. E as teorias excêntricas de mesa de bar? Todo bebinho é um artista criador, alguns sendo mesmo criadores de caso. Outro dia um amigo refletiu assim sobre o casamento gay, que está na moda: “Se eu fosse homossexual (até onde sei, continuo a ser heterossexual) não gostaria de participar de casamentos. Tantos anos de luta querendo igualdade de direitos para no fim ceder a essas frescuras heterossexuais!”. Tem lógica!

 “Esse país é muito doido ou fui eu que bebi demais?”, pergunta Ameba depois de meia garrafa de “Matuta” com traíra no coco. “Te lembra daquela: quem foi que fez você ficar tão diferente, amor, se nada eu lhe fiz, por que me trata assim?” Waldick Soriano, a breguice em pessoa, voz que embalou nossas melhores farras nos cabarés da vida. Eu gosto, mas tenho vergonha de admitir, só depois de tomar quatro doses de uísque e duas cervejas.

“Torturas de amor” é uma das mais belas canções de dor de cotovelo que conheço. É de Waldick Soriano. Essa e o grande sucesso de Odair Jose, “Pare de tomar a pílula”, são exemplos da enorme estupidez da censura ditatorial nos anos de chumbo. A música de Odair foi proibida porque o governo militar fazia campanha de controle da natalidade, conforme a tese idiota de que menos pobre significa menos problemas. E a bela música de Waldick foi censurada porque falava em tortura. Dá prá acreditar? Parece que bebe!

Nenhum comentário:

Postar um comentário