terça-feira, 9 de agosto de 2011

Gente por fora


ERASMO SOUTO

Augusto de Lima trabalhava comigo e, sendo universitário de Direito da Católica, concluia-se de cara que o seu Direito não era muito católico. Foi uma das pessoas mais "por fora" que conheci. Dia do
aniversário da morte de Getúlio Vargas, entrei na sala e:

- "O povo de quem fui escravo não será mais escravo de ninguém" - quem disse isso, Augusto?

- Brizola?

Outro dia encontrei-o tristonho porque havia tirado meio ponto numa prova da faculdade. "Vou pedir revisão!" - reclamava. Um colega que estava ao lado não resistiu: "Tirar meio ponto numa prova e pedir
revisão é o mesmo que perder de 10x0 no futebol e dizer que o juiz roubou".

A última vez que nos vimos foi num "Dia da Bandeira". Entrei na sala assoviando o "Hino à Bandeira" e Augusto antecipou-se:

- Já sei. Dia da Independência...

- Ora, Augusto, hoje é "Dia da Bandeira" - protestei.

- Brasileira?

- Claro, rapaz, escuta o hino: "Salve lindo pendão da esperança/Salve símbolo augusto da paz..." .

Daí observei-o com as duas mãos à cabeça, meditando.

- Que foi, Augusto? Algum problema?

- Esse cara do hino...

- Que cara do hino?

- Esse Augusto da Paz. Eu me chamo Augusto, acho que é meu parente...

(Do livro SUA MAJESTADE O POVÃO. Para adquiri-lo acesse www.livrorapido.com)

PS – Augusto deve ser parente de Sonsinho.

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