sábado, 11 de junho de 2011

Professora Celeste Fonseca



Na foto, eu e minha professora Celeste Fonseca, uma espécie de símbolo da educação e da cultura na cidade de Itabaiana.

Em entrevista para um trabalho acadêmico, dona Celeste contou como era seu método de trabalho na escola: “O método naquele tempo era bem diferente de hoje; a gente chegava na classe, depois que rezava, cumprimentava os alunos e então começava com a leitura, fazendo a leitura aí, individual. Depois de alguns anos foi que passou a se usar também a leitura coletiva, mas no começo era individual, cada menino lia, depois da leitura se fazia um ditado daquele texto que foi lido para gravar bem como escrever as palavras, aí tinha a gramática, aquela “partezinha” da gramática, não era tirada do texto, era feito de uma frase que a professora botava no quadro, copiava no caderno, como por exemplo, uma anotação léxica, aí eles copiavam aquela frase do quadro, ia analisar e a parte da Matemática, tinha a tabuada para estudar em casa. Quando eles traziam a tabuada estudada em casa, aí a gente ia fazer uma pergunta das casas de tabuada, eles respondiam e aí colocava para fixação uma conta que era uma operação de somar ou diminuir ou multiplicar ou dividir e em seguida podia fazer um problema para eles resolverem para fixar justamente o raciocínio. História, Geografia e Ciências não eram dadas todo dia como Português e Matemática”.

Interessante quando ela comenta sobre a ditadura militar e as perseguições em Itabaiana: “Aqui foi uma localidade onde teve diversas pessoas presas por causa do movimento, como foi Francisco Almeida e Israelzinho, tinha o professor Biu de Nicássio, então isso, eram pessoas ligadas à educação e que faziam parte do movimento anti-revolucionário, então ninguém podia evitar esse comentário na escola, porque Francisco Almeida mesmo era ex-aluno do “Professor Maciel” e tinha lá uma professora que era irmã dele e então, por conta disso, havia fiscalização, havia perguntas, havia indagações, que era da revolução, porque o poder que tava de cima, era o poder militar e a gente tinha que dizer que tava tudo certo, tudo bom, porque ninguém podia ir contra os governantes daquela época. Além de tudo o prefeito da época daqui de Itabaiana era o Doutor Hugo Saraiva, que era do lado de João Goulart e de Arraes, por isso, era muito visado aqui em Itabaiana, ele foi cassado e era uma pessoa muito popular, todo mundo gostava dele e ele tinha doado as cartilhas, porque o governo não mandava livros, e ele por necessidade da escola, ele doou cem cartilhas ao “Professor Maciel” pra o primeiro ano, e naquele dia primeiro de abril, que foi no dia depois da revolução, ele foi fazer a distribuição dessas cartilhas e então, todo mundo tomou conhecimento, que ia ser preso pela revolução e ele tinha doado esses livros. Então todo pai dessas crianças era grato a ele pelos livros e então ficou assim, todo mundo tomando conhecimento que o prefeito era contra a revolução, era contra os militares, aí, ele ficou numa situação melindrosa na escola, porque nesse dia mesmo ele saiu que tomou conhecimento da revolução lá no “Professor Maciel”, ele veio para a Prefeitura que é no centro da cidade e aqui já estava preparado para prendê-lo e aí então, ele piorou a situação, porque ele foi aos correios e ainda passou um telegrama para Arraes e parece-me outro para Brizola não tenho certeza, mas aí,  foram procurá-lo para prender e ele correu e se foragiu e não foi preso nesse dia, mas ficou foragido por muito tempo, depois foi cassado e quem assumiu o seu lugar foi seu vice, Dr. Everaldo Pimentel”.

“MEMÓRIAS DE PROFESSORAS PRIMÁRIAS ITABAIANENSES (1956 a 1971)”
Enoque Bernardo da Silva
Universidade Federal da Paraíba (PPGE/Mestrando)



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