sexta-feira, 13 de maio de 2011

Carta aberta aos culturais


Sou um sujeito que joga às claras, sem subterfúgios. Por isso estou publicando essas linhas, invocando o interesse público para explicar que não pode haver sigilo nesses assuntos. Em certas circunstâncias, guardar segredo é o mesmo que prevaricar. 

Com a criação da Secretaria da Cultura na Paraíba, sob o comando de Chico César, foi instituída a figura do Articulador Cultural, pessoa responsável pelo diálogo do Estado com os diversos interlocutores da cultura nas regionais de ensino. Esse modelo é novo, mas velhos são os métodos de preenchimento dos cargos. Vale a indicação política. Se bem que as pessoas indicadas têm realmente um histórico de envolvimento com o fazer cultural das regiões, até onde eu sei. 

Em Itabaiana, sede da 12ª Regional de Ensino, a história do Articulador Cultural rendeu reuniões dos produtores culturais da cidade, onde se procurou definir um perfil ideal para o futuro ocupante do cargo. No meu blog Toca do Leão, promovi enquete e opinei que os interessados deveriam escolher uma lista tríplice e enviar para a Secretaria de Cultura. Na enquete, destacaram-se os nomes de Antonio Costta, atual subsecretário da cultura em Itabaiana, Edglês Gonçalves e Clévia Paz, os dois últimos ligados ao Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, do qual sou coordenador. 

Na semana passada, recebi telefonema de minha amiga Alice Monteiro, da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura. Ela é a pessoa que está coordenando o processo de indicação dos Articuladores Culturais da Secretaria Estadual de Cultura. Alice informou que meu nome estava sendo cogitado para o cargo em Itabaiana. Agradeci a deferência, mas disse que não aceitava, porque não resido em Itabaiana e acho que esse cargo deve ser preenchido por alguém que esteja na região o tempo todo. 

Na realidade, não aceitei por mais um motivo: na hipótese de assumir cargo público por indicação de alguma liderança política (desconfio que tem o dedo do meu compadre Zé Ramos), eu estaria obrigado a participar de todo e qualquer evento do setor, com os salamaleques costumeiros aos chefes, as bajulações de praxe, a obediência aos ditames da hierarquia, o silêncio diante de erros na política cultural para não enfraquecer o Governo e seus prepostos, o apoio a interesses políticos menores, a obrigação de responder a críticas de companheiros do setor, enfim, a possibilidade de não poder agir de acordo com minha própria determinação e trabalhar dentro de limites impostos pelo cargo. Já sou tido como fundamentalista, carbonário, aquele que é do contra. Gosto mais de atuar como detonador, questionador desses esquemas parasitários e burocráticos. Tem que existir esse elemento, para que nossos compadres artistas ocupantes de cargos públicos não fiquem mais acomodados, dentro daquilo que conceituam como o “mal menor”, que é o pretenso controle da máquina pública em benefício de boas causas, mesmo com todas as limitações conhecidas. 

Chamam-me de pirata porque opero rádios livres e comunitárias, mas não ando atrás do ouro. Preciso de grana, sou um cara que vive de aposentadoria irrisória, entretanto simplório a ponto de recusar um emprego público com bom salário, apenas porque considero que não é esse meu papel e não seria importante para ampliar os espaços dos artistas de minha região. Tem gente que sabe fazer isso muito melhor. Da lista tríplice que saiu no blog, indicaria a nomeação de minha comadre Clévia Paz, radialista e coordenadora do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Meu compadre Antonio Costta estaria impedido por razões políticas, já que é membro de uma administração que não reza na cartilha do novo governo estadual. Meu amigo Edglês, outro da lista, ainda é imaturo, muito jovem para a construção dessa ponte entre a sociedade civil e a área cultural do Governo. Ainda bem que a indicação não contemplou um nome sem qualquer referência no meio cultural, como pode ocorrer nessas determinações políticas, algo que infelizmente é factível em um lugar que cultua a ignorância.

Parabéns e sucesso pra minha comadre Clévia.

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