sábado, 12 de março de 2011

Sonsinho e a teoria do corno revolucionário


Encontrava-se Sonsinho tomando xarope no bar do Zé e se queixando do tratamento desumano que Madame Preciosa dedica ao pobre ser meio autista, se bem que os “meio autistas” estão chegando até ao posto de ministro. Em mesa de bar sempre tem o simplório, o bêbado intelectual, o chato, o palhaço e o valente. Outras espécimes há, porém esqueci. No caso, Sonsinho é o mané, aquele que não tem muita agilidade mental, o cara “meio autista”. Estava ele conversando com o bêbado intelectual que atende pelo nome de Maninho. Depois de engolir três ou quatro goles de “Vai à força” com tira-gosto de colesterol (couro de galinha assado), Maninho descreve o mundo e explica o submundo.

Para o caso das safadezas de Madame Preciosa, declaradamente uma mulher licenciosa, daquelas que não pedem licença ao marido para fornicar com outro, Maninho passou a conformar o humilhado Sonsinho, expondo a teoria do “corno metafísico”, segundo ele um conhecimento especulativo saído da cachola de nada menos que Karl Marx, o inventor do comunismo metafísico e científico. Segundo essa doutrina, em um passado bem passado, as mulheres mandavam no pedaço. Elas dominavam os homens como faz Preciosa em relação a Sonsinho. Em sociedades primitivas e felizes, as mulheres davam a quem quisessem, a hora que decidissem e quantas vezes desejassem. Reinava a paz e o amor. Os programas apelativos da TV e do rádio não tinham matéria para produzir chacotas contra os homens eventualmente traídos, mesmo porque não existiam rádio ou TV e muito menos traição, já que a propriedade privada foi inventada muito tempo depois. A figura do corno não havia, porque tecnicamente todos eram membros da confraria dos chifrudos.

Porém, e sempre tem um porém, um corno mais cabrão e manhoso, um feladaputista capitalista primitivo cercou pedaço de terra e declarou que ali quem mandava era ele. Criou a propriedade privada e com ela o desejo da guerra de conquista. Com as guerras, veio a necessidade de preservar o patrimônio. “Os machos passaram, disse Marx, a exigir fidelidade sexual das mulheres porque não aceitavam ter de legar os seus bens, obtidos com sangue e pela exploração do próximo, a um descendente que não fosse seu filho legítimo, gente do seu próprio sangue”.

Foi então que o adultério feminino passou a ser considerado grave infração, senão crime cuja penalidade era a morte. Suprimidas as liberdades femininas, as mulheres foram condenadas a se arrumar com um sujeito pelo resto da vida, o tal do casamento monogâmico burguês. Foi criada então a figura do corno, que afinal é um elemento importante da emancipação feminina que virá com o fim da sociedade baseada na propriedade privada.

Sonsinho saiu do bar de Zé confiante em que Madame Preciosa é uma revolucionária e ele um militante socialista e sexista. Entrou corno e saiu guerreiro da igualdade. Tudo graças à conversa fiada e molhada do compadre Maninho.

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