segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Nosso adeus à filha do “sabiá das matas”

Nel Ananias com meu livro "Biu Pacatuba"

A roda de evolução humana fica mais atolada com a ausência de pessoas do gabarito da professora Nel Ananias, que nos deixou no domingo passado. Com a minha limitada capacidade de entender certas coisas, acho que em nosso país machista e patriarcal, quando uma mulher se destaca em qualquer área da sociedade, é sinal de que essa mulher é especial.

Nel Ananias foi uma espécie de animadora social e incentivadora cultural. Sempre foi uma apaixonada pela sua terra. Mesmo doente, no final da vida, comparecia a todo evento cultural a que era convidada. Gostava de prestigiar os seus conterrâneos. Seu círculo de amizades era grande.

Durante nossa curta jornada nesta vida, temos a ânsia de deixar nossa marca. Seja construindo ou reconstruindo, as pessoas do bem cuidam da casa, que é sua comunidade. Nesse esforço de dar melhor forma ao seu meio, de ajudar na melhoria da vida dos seus conterrâneos, a pessoa judiciosa e sensata utiliza as oportunidades da milenar sabedoria. Sábio é aquele que deixa, além de saudades, amigos e obras pelo bem comum. A professora Nel Ananias foi uma criatura sábia.

No final do ano passado, visitei Nel Ananias em sua casa. Dediquei a ela um exemplar do meu livro “Biu Pacatuba”. No dia 4 de fevereiro último, a vi pela última vez. Foi na Associação Atlética Banco do Brasil, em Itabaiana, no lançamento do livro “O teatro na terra de Zé da Luz”, de Romualdo Palhano e do CD “Há braços”, de Adeildo Vieira. “Estou lendo seu livro ‘A voz de Itabaiana e outras vozes’ e adorando”, disse-me ela.

Nel foi uma espécie de jornalista informal. Sua casa era ressonância dos assuntos mais palpitantes da comunidade itabaianense. Muito prefeito, delegado, escrivão ou diretor de qualquer coisa vinha confidenciar a ela seus problemas e obter conselhos. Esse grau de dependência dos mandantes locais às deliberações dessa espécie de conselho informal do Município representava o respeito e consideração que todos tinham para com Nel Ananias. Ninguém foge dos valores trazidos pela família. Seu pai, Antonio Ananias, foi um homem respeitado e temido, espécie de delegado e juiz de paz, além de cantor muito apreciado pela voz de “sabiá da mata” como definiu Zé da Luz em um dos seus mais famosos poemas.

Envio minhas condolências à família enlutada de nossa confreira Nel Ananias.

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