quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Maquinário anacrônico


Tem um programa que você baixa na internet simulando barulho de máquina de escrever. Acionado o software, basta ligar as caixinhas de som e, ao digitar no teclado, saem ruídos que imitam o tec-tec de máquina de datilografia. Quando chega no fim da linha, ouve-se o barulho do carro da máquina voltando.

Fui datilógrafo da Delegacia de Serviço Militar em Itabaiana, repartição do Exército. Trabalhei como datilógrafo também em delegacias de polícia do interior, como escrivão ad hoc. Bati profissionalmente nas pretinhas no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, como ajudante do saudoso violonista e compositor Osvaldo Beltrão. Não bati, mas vi muita batida em delegacias nos cus do mundo, escrevendo em velhas Remington as baboseiras de delegados analfas e truculentos. Fui datilógrafo do Tenente Brucuta, da Polícia Federal Ferroviária, sujeito que gostava de ditar uns relatórios malucos, narrando minuciosamente os pequenos detalhes de coisas sem nenhuma importância, preenchendo laudas e mais laudas com a mais pura tolice para no fim fundamentar coisa nenhuma e consumir minha paciência de escrevente da fé pública e sacos cheios particulares.

O publicitário Marcelo Pirajá Sguassábia escreveu: “Uma máquina de escrever era o que se poderia chamar de "bem durável", com direito a plaquinha de patrimônio. Objeto de ciúme e estimação, inspirava respeito. Era um monolito encravado na mesa do escritório. Muita gente ganhava uma na formatura do ginásio e ficava com ela até se aposentar. A pessoa, porque a máquina, nem pensar. Quanto mais se batucava mais a bichinha ia amaciando o teclado, ficando mais sensível ao toque e aos caprichos do dono. Tinha valor, atravessava gerações, ficava de herança.”

A máquina da foto foi o último equipamento desses que possuí. Por sinal, é uma máquina Remington cor laranja que foi roubada por algum colecionador larápio. Ela é a lembrança de uma das duas profissões que exerci e que hoje se encontra em extinção. A outra é a função de “radio-telegrafista”, que também não existe mais. Marcelo diz que todos de nossa geração deveriam ter uma máquina de datilografia em casa. Mesmo que não seja pra usar, mas pra sentir o gostinho (ou o cheirinho) de ter uma. “Sim, porque as máquinas de escrever têm um cheiro peculiar, de metal e óleo lubrificante”. A minha tem cheiro de passado, lembrando que seu antigo operador está também ficando antiquado e chegando ao fim da linha.

Um comentário:

  1. É indiscutivelmente fantástico “ Hoje” o que a Internet proporciona ao mundo, mas considerando o avanço cientifico, eletrônico e técnico dos meios de comunicação , com certeza no futuro a Internet também será anacrônica.
    O que virá eu não sei e nem verei, mas como toda ficção hoje se torna uma realidade amanhã, de repente as comunicações futuras serão transcendental e não iremos precisar de equipamentos para se comunicar, simplesmente nos transportaremos de forma metafísica.
    A Telegrafia e a Datilografia teve sua época de encanto assim como oTelex, o Fax ,e a Xerox, e se analisarmos qualquer equipamento da moderna informática , todos se fazem presente e integrado.
    Ser um telegrafista foi meu sonho de adolescente e cheguei até aprender, já que por ser filho de um ferroviário chefe de uma estação de trem e morando dentro da própria Estação Ferroviária passava todo meu tempo livre dentro da sala de telegrafia vendo e pedindo aos telegrafista da época para aprender, mas meu pai cortou meu barato já que queria que fosse em frente nos estudos.
    A Datilografia é minha eterna companheira e se faz presente até hoje, porque o teclado de um micro, é nada mais nada menos do que uma “ Maquina de Datilografia” com um novo designer, é claro. Como me lembro de Dona Doralice minha professora de datilografia quem em todo curso jamais permitiu que eu não utilizasse os 10 dedos sobre o teclado e que olhasse para o teclado enquanto estivesse teclando, hoje sou invejado pelos meus filhos da forma como uso o teclado do micro. Felizes aqueles que tiveram uma mestra como dona Doralice na vida.

    “Antigamente” tudo se aprendia. “ Hoje tudo se decora”

    Orlando Araujo

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