quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Normando Reis e eu, relembrando no rádio os velhos e bons tempos

Mané Calça Preta vive na memória de Normando Reis

Gravei entrevista com o ator Normando Reis para o programa Resenha Cultural, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, que vai ao ar todo sábado ás 15h30 pelas rádios comunitárias Zumbi dos Palmares e Rainha de Itabaiana. Esse artista está comemorando trinta anos de palco, sempre atuando no Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana que por sua vez vai somar 35 anos em 2011.

Normando morou onze anos em Itabaiana, onde nasceram suas duas filhas. Seus amigos ainda estão aqui. Toda quarta-feira ele sai de João Pessoa, onde mora, para ensaiar no Ponto de Cultura. Na entrevista, perguntei ao Normando se ele teria uma figura que destacaria no cenário social, político e cultural da terra do forrozeiro Aracílio Araújo, nosso querido Munganga. “Não menosprezo ninguém, todo mundo é importante, cada um é estrela com seu brilho próprio, que às vezes nem aparece, mas existe. No entanto, de Itabaiana lembro bem e com saudade do velho comunicador Manoel Calça Preta, proprietário de uma humilde difusora numa rua pobre do carente bairro do Cochila, onde morei”, afirmou Normando.

A lembrança que ficou foi a do Manoel Calça Preta anunciando com sua voz rouca o desaparecimento de um porco, uma cabra, um jumento com estrela na testa, um cachorro vira-lata que atende pelo nome de Muriçoca ou vendendo, alugando ou trocando qualquer coisa. Depois, rezava o terço e botava o disco de Azulão cantando:

Depois da novena tem forró pra gente dançar
Lá na casa de Tomé que veio me convidar

Cadê a minha roupa que eu mandei lavar?
A nega preguiçosa não quis engomar

Mas não tem nada não, eu vou pro forró mesmo assim
Lá na casa de Tomé tem roupa que dá pra mim
O que é meu é de Tomé, o que é de Tomé é meu
Eu tendo Tomé tem e Tomé tendo é meu.

Mané Calça Preta nem atentava para o duplo sentido da música, que soa ingênua nesses atuais tempos de forró pornográfico. “Era um comunicador do povo, com sua simplicidade e singeleza do seu equipamento rústico, mas aquela difusora era pura poesia, invocando-me lembranças de um passado que me desperta o sentimento do belo através das coisas simples”, diz grandiloquente o nosso ator.


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