segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Não consigo entender minha Itabaiana

O poeta itabaianense Sander Lee conversa com Mário Quintana em Porto Alegre, tendo como testemunha o pôr-do-sol gaúcho

Sander Lee

Amo a terra de Zé da Luz, mas entristece-me a sua falta de compromisso com a cultura.

Fiquei sabendo que o cantor Adeildo Vieira foi impedido de cantar e ser homenageado na Câmara Municipal de Itabaiana, neste 18 de dezembro de 2010.

Nunca consegui entender de fato a minha pobre Itabaiana. Uma história tão rica, uma atitude tão mesquinha.

Às vezes me pergunto se todo aquele apogeu cultural, apontado em Sabiniano Maia, é real. Custa-me acreditar que uma cidade que já teve jornal diário e revista semanal, seja tão relutante às expressões da arte.

Na minha época de GETI era o mesmo "mané luiz": jovens pujantes, querendo trabalhar o belo e uma sociedade alheia, absorta, mais apegada à fofocaria do que às cores de Shakespeare. Chego a pensar que a personagem do jornalista corrupto Sinvaldeão, de Concerto para paixão e desatino, do Moacir Japiassu, andou deveras pela plaga itabaianense...

Surpreendeu-me, nos meus vinte anos, ver Sivuca passar, de braço dado com a filha do poeta Agenor, sem que ninguém falasse com ele. Eu, como getiano, senti-me induzido a lhe dizer: você é uma honra para Itabaiana!

Agora, uma desfeita dessas com o artista Adeildo Vieira! Tenham paciência! Quando crescerá a minha mesquinha Itabaiana?

Sinto-me na obrigação de ouvir a voz do Poeta de Porto Alegre, Mário Quintana:

"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"

Entrei no GETI em 1977, com dezessete anos. Trinta e três anos depois, fica essa sensação de que a peça nunca sai... em Itabaiana, é claro!

Valho-me do poema Atos Falhos, de Sérgio de Castro Pinto, que declamei recentemente no Seminário de Ciência da Informação, na UFPB:

"Atos falhos”

segue o ensaio.

mas os meus atos

falhos

encenam-se assim:

eles já no palco

e eu ainda

no camarim.


Sander Lee

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