sábado, 13 de novembro de 2010

Agenor Otávio e Padre Anchieta


Erico Veríssimo disse do Padre Anchieta: “Como poeta, Anchieta foi, sem dúvidas, medíocre. Mas era tão sincero, e é tão surpreendente o fato de um homem revelar tal sangue-frio e simplicidade de espírito para escrever uma poesia de caráter ingênuo em meio a uma luta tão incrível, que ninguém hesita em considerá-lo, cronologicamente, o primeiro escritor brasileiro”.

É assim que eu vejo meu amigo poeta Agenor Otávio, de Itabaiana, autor do livro “Memórias de Itabaiana e minhas poesias”. Antonio Costta, meu outro amigo poeta assim definiu a obra de Agenor: “Não importa se a poesia é simples e popular. O importante é que o poeta cante o amor com sinceridade e a sua terra brejeira como se fosse o melhor lugar do mundo”.

Aos setenta e um anos de idade, Agenor Otávio tem saúde de menino. Sai todos os dias de porta em porta vendendo seus livros, competindo com os “Testemunhas de Jeová”. Com isso garante circulação espantosa às edições. Relativamente, vende mais do que Paulo Coelho, o Mago que transforma literatura ordinária em ouro. E quem compra seus livros não tem como comparar os poemas de Agenor com outros autores, simplesmente porque também estão se inaugurando no papel de leitores. São pessoas simples como o autor, que de poesia só conhecem a literatura popular dos folhetos de cordel.

No século dezessete, um sujeito bajulador escreveu um livro chamado Prosopopéia, mau poema imitando o português Camões, destinado a louvar o governador da capitania de Pernambuco. Esse camarada foi o primeiro escritor nascido no Brasil e também o primeirão do cordão dos puxa-sacos literários cuja obra enaltece autoridades a fim de obter favores. Conheço muitos dessa turma. Não é o caso do meu compadre Agenor Otávio. Em seu livrinho ele canta seu torrão natal e dá umas dicas sobre sua visão de mundo: “Não tenho casa nem terra, mas sou contra a invasão”. O enredo político do poeta segue o pensamento geral do povo: “Estamos vivendo o momento/de eliminar os fraudulentos/Para o bem desta Nação.”

Agenor faz vir à memória os bons tempos de Itabaiana. No seu papel de memorialista, menciona com nostalgia o velho cabaré do Carretel, “recinto das mulheres amadas que se vestiam como damas”. Que saudade da Rua das Flores, do cabaré de Paca, do pastoril de Rubina, os bordéis de Moça Homem, Nevinha Rica, Topada, Chica Cega, Nevinha Pobre e Maria Branca, Julieta, Zé Bodega e Maria Rei, Tonha Marroco e Francisca, e a bela Palmira, a rapariga mais bonita do lugar que já foi considero o maior puteiro da região.

O velho Agenor dedica seu livrinho aos filhos: Fernando, Aleomar, Aliene, Adriana, Alessandro, Arlen, Márcio, Márcia, Fátima, Mércia, Monaliza, Tavinho, Janaína, Melry e Nina. São quinze rebentos, o que prova que o poeta aproveitou bem suas noites, caprichando nas simples linhas retas de sua escrita e apreciando as curvas graciosas do “verbo que se fez carne”, com a licença do trocadilho infame. De sorte que a terra é tão boa que, em se plantando, tudo nela há de crescer.

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