terça-feira, 30 de novembro de 2010

Jornalismo sem ilusões


Não sou independente nem na cozinha de minha casa. Para fritar um ovo tenho que pedir à mulher, que é quem manda.

Meu censor sou eu mesmo. Diante de matérias que podem desagradar meus clientes, prefiro sacrificar o conteúdo. Melhor ter a informação possível do que nenhuma. Estou dizendo isso porque não sou jornalista nem hipócrita. Nem preciso forçar nenhum jornalista formado a escrever o que eu mandar. Sou o único redator do meu jornal.

O povo lê meu jornal, primeiro porque é de graça, cai na mesa do burocrata e na banca do estudante, está ao alcance do bodegueiro e do motorista de táxi, mas numa linguagem decente, sem apelação, que o povo merece ver respeitada sua dignidade de leitor. Segundo porque é o único com noventa por cento do noticiário composto por matérias de interesse local.

Meu jornal tem uma tendência oposta à imprensa tradicional: empenha-se em divulgar notícias boas preferencialmente. Prefiro destacar que determinado aluno de uma comunidade pobre ganhou um prêmio pela excelência de sua vida escolar do que dar visibilidade aos crimes do narcotráfico.

Minha rede de conivências é pequena, portanto não afeta os princípios básicos do meu jornal. Tenho poucos anunciantes e vendo espaço para alguns órgãos públicos. Não é um jornal crítico nem difamador, mas um impresso que contém cultura e opinião a serviço do progresso humano.

Como nunca freqüentei uma escola de jornalismo, em vez de técnicas de jornalismo comercialista e vendilhão, aprendi que não se deve trair o leitor, ou tentar manipular o sujeito que lê meu produto. Ao contrário, tenho sempre em mente que meu jornal só tem sentido se contribuir para o enriquecimento material ou espiritual da comunidade onde o leitor vive. De outra forma não será jornalismo e não terá nenhum valor. Seria uma “imprensa amestrada”, como diria Osvald de Andrade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dom Quixote: ser ou não ser


Mestre da nobre arte da picaretagem, o paraibano Assis Chateaubriand foi precedido nessa prática por gente como José do Patrocínio, o homem da Abolição. Picaretagem é o expediente a que faz uso o sujeito que tem alguma influência na opinião pública para alcançar favores. É prática corrente entre noventa por cento de radialistas autodenominados de “caceteiros”, aqueles que batem com um jornal velho na bancada, ameaçando:

--- Os documentos estão aqui comigo, são provas contundentes. Amanhã vou provar que o prefeito fulano é corrupto.

No outro dia, acertados os ponteiros com o tal prefeito supostamente corrupto, o “caceteiro” desfaz a trama:

--- As denúncias são vazias, o prefeito fulano é um cidadão de bem.

Nos jornais, principalmente pasquins interioranos, a picaretagem predomina. Faço jornal de interior desde os quinze anos de idade. Jamais admiti picaretagem. Vendo espaços, nunca ideias. Talvez por isso não tenha prosperado no negócio. Meus jornais geralmente abrem falência depois de dois ou três anos de circulação. O recorde ficou com “Tribuna do Vale”, um jornal mensal que circulava na região do vale do Paraíba. Foram seis anos ininterruptos mantendo uma qualidade rara nos jornais desse tipo. Depois veio a insuficiência de recursos para manter o jornal, com a crise econômica. Fechamos as portas, mas sem dizer adeus. Essas aventuras fazem parte de minha vida, desde que em 1970 lancei o “Jornal Alvorada”.

Pois em janeiro que vem estou planejando a volta do “Tribuna do Vale”. Temerário? Pode ser. Aceito a pecha de “Dom Quixote de La Mancha”. Mas vou combater o bom combate através da imprensa sadia. Digo com o jornalista Carlos Heitor Cony: “se ficasse em casa não seria um homem, seria uma coisa, um moinho sem vento e sem grandeza, imóvel, pascácio.”

domingo, 28 de novembro de 2010

Pirataria musical não é coisa de agora


Tenho um amigo que é uma figura popular na cidade de Sapé. Artista do povo, queixa-se que é compositor. Gravou um CD tão ruim que nem de graça conseguia passar pra frente o produto. Encalhou a edição e vivia implorando para que levassem o CD para casa. “Eu até gostaria, mas meu som quebrou”, desculpava-se um potencial ganhador do CD.

Encontrei o artista ressentido porque ouviu uma música sua tocando no carrinho de CD pirata. “Eles não respeitam nem meu trabalho, que sou da terra”, reclamava.

Acho que o pirata musical pirateia por prazer mesmo, por hábito. Custava nada pedir os CDs originais do cara? Ele doido pra desovar o produto de graça.

Isso lembra uma edição de livro que publiquei faz uns cinco ou seis anos. Até hoje tento me livrar do estoque. Deixo livros em bancos de praças, distribuo de graça onde chego, mas a quantidade da mercadoria não se abala. Faço contrato de consignação com livrarias, depois finjo que esqueço. Passo pela porta do livreiro olhando para o outro lado da rua. Tenho medo que ele me chame e diga: “leve seus livros, que não vendi e está tomando espaço aqui”.

É um livro sobre rádios comunitárias, assunto que interessa a um universo muito restrito. Mas o que eu quero registrar aqui é a antiguidade dessa prática de piratear a música dos outros.

Rigoletto é uma ópera em três atos do compositor italiano Giuseppe Verdi, com libreto de Francesco Maria Piave. Estreou no teatro La Fenice de Veneza em março de 1851. Todo mundo já ouviu aquela ária que começa assim: “La donna é móbile”. Dizem que o tenor que cantou na estréia somente conheceu a partitura da ópera poucas horas antes da primeira audição. O maestro tinha medo de que vazasse a obra, perdendo o ineditismo. O tenor ensaiava de manhã para apresentar à noite.

Portanto, 159 anos atrás o pirata já preocupava o artista.

A feira despertou saudades e glosas

Feira das panelas em plena decadência
Feira das panelas no auge

Feira dos pássaros


Feira das frutas



Olá meus amigos e patrícios de Itabaiana!

O post de ontem, sobre a feira, provocou o seguinte comentário do Erasmo Souto:

“Eu sinto tudo isso na Feira de Casa Amarela, aqui em Recife. Nunca, porém, soube explicar como você o fez. - Erasmo Souto

O amigo e poeta Sanderli glosou o tema:

Grande jornalista Fábio Mozart,

Tu quase me matas de saudades com esta crônica, cabra da peste! Teve de nascer umas décimas:

A FEIRA DE ITABAIANA

Na Feira de Itabaiana
Eu também vi esses cegos
De cantadores a pregos
Era um cenário bacana
De perfume a banana
De gelada a trancelim
De mágico a amendoim
O teatro da verdade
Que vendo a tua saudade
Suscitou saudade em mim

Contigo tomei cachaça
Nas barraquinhas de zinco
Uma beleza, não brinco,
Tanta peleja, que graça!
Esta saudade a traça
Jamais pode corroer
Meu pensamento a correr
Volta para aquela feira
Pra ele não há barreira
Que o impeça de ver

E vejo Arlinda do peixe
E vejo o homem borracha
Zé Mariano se acha
Vendendo feijão em feixe
Zé Costa com almofreixe
Lotadinho de Cordel
Penca Preta no bordel
Bebendo cana com fava
E Fábio Mozart estava
Trabalhando o seu cinzel

Vi seu Luis do feijão
Joca da carne de charque
As putas no desembarque
Vi Berto da União
Vi bucho, vi camarão,
Zé Dudu do Botafogo
Vi o marchante Pirogo
O café do Teve Jeito
Carioca do confeito
E seu Adonis do jogo

Tem inhame, macaxeira,
Tem a feira do mangaio
Inda se vende balaio
Cinturão e cartucheira
Tem sela e tem peixeira
Quartinha, forma de barro
Bêbado com quem esbarro
Se tudo isso carrego
Mas é a visão do cego
A mais forte que agarro

Sander Lee

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Bafafá e encantamento na feira


Saio todos os dias para percorrer o itinerário da caminhada às 5 horas da manhã. Depois de duas voltas na Praça da Independência e mais duas na lagoa do Parque Sólon de Lucena, subo ao Mercado Central e compro algumas frutas, para fazer musculação até em casa, no bairro de Jaguaribe.

Na feira tem de tudo, incluindo os tipos humanos. Outro dia o cara debochado vendia suas verduras pilheriando:

-- Hoje moça bonita não paga, mas também não leva, e velha paga mais caro por causa do imposto da feiúra.

Uma senhora de cara amarrada acercou-se da banca. E o vendedor:

-- A senhora quer que eu venda em “casteliano” ou em português?

A mulher foi ferina:

-- Venda na língua dos cornos, que você entende melhor. E vamos deixar de fuleiragem que eu sou meio afobada, não gosto muito de fuleiragem.

Um dia, que será guardado na memória da humanidade, vendi cereais na feira de Itabaiana. A feira livre é um universo graciosamente original, imaginoso e cintilante. Lá, o cadinho da cultura popular ferve em meio à mistura de vozes, cores, sons e cheiros do povo. Dosando curiosidade com encantamento, foi na feira que aprendi a entender a beleza da cultura do meu povo, ouvindo, por exemplo, as cantigas dos cegos.

Dois cegos cantadores eram por mim especialmente reverenciados. Achava-os o máximo. Outro dia, pesquisando na internet, dei com uma dissertação de mestrado do geógrafo Eduardo Pazera Jr., sob o título “A feira de Itabaiana/PB – Permanência e mudança”, onde ele estuda o processo de ocupação do espaço, a origem da feira, a perda de suas características no decorrer do tempo, transformando-se de feira camponesa em feira urbana, mantendo, porém, a sua essência. Entre as fotos que ilustram o trabalho, está lá a dupla de cegos cantadores que me encantavam na feira de Itabaiana dos anos setenta.

Não sei se ainda estão pisando esse chão os dois artistas populares de feira. Evidentemente passaram suas vidas cantando e remoendo suas misérias na feira de Itabaiana, recolhendo migalhas em troca de sua arte tão rica. Ironicamente, a cultura é a única riqueza que os tiranos não podem confiscar, mas que geralmente só rende uns trocadinhos ou um punhado de farinha seca na bacia.

O poeta Manoel Bandeira, ao ouvir o repente de um desses geniais menestréis do povo, assim se exprimiu:

Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais, humilde,
Mando “minha saudação.”

São Simeão Estilita, rogai por nós!


Um sujeito doente tem um apelo universal. Por meio desta Toca, tenho dito que estou mais tenso do que corda de piano, doendo-me partes do corpo que eu nem sabia que tinha. Confissões que atraíram muitas mensagens de leitores, a maioria para lamentar o uso do blog para essas queixas particulares. Numa época de problemas prementes como a ameaça nuclear entre as duas Coréias, o "reality show", da Rede Globo e a eleição de Tiririca, quem quer saber dos meus problemas? É verdade que estou sofrendo mais do que passarinho em mãos de menino. E tive um choque de realidade ao descobrir que não tenho a mínima importância na ordem do dia.

Os poderes constituídos fiquem, pois, sabendo que não falarei mais de meu quadro clínico nesta Toca. Mas antes dizer que fui ao médico, e quando vou visitar esse profissional me sinto como um garoto a caminho de uma surra. Apesar de ter 55 anos, nunca cresci de fato.

Leitor amigo comenta sobre a ideia de Deus e o Diabo, analisando que “criamos os mitos como escudos contra eventos ameaçadores, sobre os quais não temos nenhum controle”. Faz sentido.

Outro internauta estranha minha mania recente de falar em santos, querendo acreditar que eu, na iminência de vir a não-ser, passei a devorar Bíblia, breviários e catecismos como se estudasse para uma prova final. Não é o caso. Tento manter a racionalidade. Mas sem deixar de citar o santo do dia, São Simeão Estilita, um asceta do início do cristianismo que passou a vida sobre uma alta coluna, pregando para as multidões. Sentia-se protegido de cima de sua coluna. Se dissesse alguma coisa que ofendesse a alguém, seria difícil chegar até ele. Quando não havia ninguém por perto, descia para comer alguma coisa e ir ao banheiro, que ninguém é de ferro.

Acho que sou um São Simeão Estilita abobalhado. Queria dizer ao mundo exatamente o que penso sem que ninguém reagisse. Depois de três processos judiciais, eu ainda acredito que estou completa e absolutamente certo, como pensava o santo católico e outros cabeçudos, mas agora sou mais comedido. Pude ver que essa coluna em que estou alçado é muito mais acessível do que imaginava.

Outro leitor foi mais forte: “deixe de chafurdar na autocomiseração”. Eu sou mesmo um tanto patético. A gente precisa aprender a viver com os erros.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Televisão em dissintonia


Meu cérebro está assim como uma televisão em preto-e-branco sem sintonia. Entra e sai do ar, conforme a agitação da doença. Agora mesmo está um pouco melhor, mas, a maior parte do tempo tenho que segurar a antena e não mexer, mesmo assim a imagem volta e meia insiste em sumir. Tomaram minha exaustão como depressão e indicaram a conveniência de dietas exóticas e distrações idiotas.

Recebi mensagem da companheira Fabiana Veloso solicitando redação de carta para a Presidente eleita Dilma Rousseff, tratando da situação das rádios comunitárias da Paraíba. É que Fabiana foi hoje a um encontro com a Dilma em Fortaleza, representando a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Estado da Paraíba – Abraço, ela que é Coordenadora de Comunicação da entidade. Justificou o pedido porque sou veterano nesse movimento de rádios livres e comunitárias e o seu computador estava travando.

Remando contra a maré, disse a Fabiana que a minha mente é que está travando, deixando de interagir com os comandos. E mais: que não acredito em avanços para nossa causa com a gestão da Dilma, afinal uma continuidade do governo de Lula. Basta ver a equipe da área econômica já escolhida. O Ministério das Comunicações continuará nas mãos do PMDB e seus tubarões midiáticos.

Mas, em atenção aos novos militantes dessa guerra pela comunicação democrática, não vou estragar a festa da fé dessa minha gente, porque sem fé não se vive, ou vive-se mal. A vida perde parte do seu encanto. Não liguem para o meu clássico estilo oposicionista, vocação muito antiga para ser do contra.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O ataque do vírus maldito 3


Parece título de filme trasch. É que fui atacado por vírus pela terceira vez neste ano. Segunda-feira passada já sentia os primeiros sintomas. Fui ao Espaço Cultural, ao voltar não encontrei meu carro no estacionamento. Roubaram meu carrinho velho! Você está quieto no seu canto, tratando da vida que não anda nada quieta, e roubam seu único patrimônio. Fui ao Posto Policial fazer o Boletim de Ocorrência. Os dois soldados de plantão, por sinal, muito educados, deduziram que eu havia esquecido o local do estacionamento. “Acontece muito isso”, garantiram. Fomos, e lá estava o velho Gol. Mas o abalo emocional foi forte. Cheguei em casa com a bateria e os quatro pneus arriados. O susto concorreu para a manifestação do agente infeccioso, acho eu.

A noite foi uma longa agonia. Febre alta e altos delírios. Na agitação do sofrimento, vi desfilar um magote de diabos, chefiados por um senhor de smoking e cartola. Reconheci alguns deles, personagens do folheto de José Pacheco: Tromba Suja, Bigodeira, Pilão Deitado, Goteira, Fuxico, Cão de Bico, Pau de Prensa e Maçarico. A imaginação do moribundo é um tanto desvairada. Perguntei ao senhor de smoking, que devia ser o chefe, qual o papel do Diabo na ordem das coisas do além. Sim, porque as coisas boas só acontecem porque Deus quer, para beneficiar os fiéis, e as coisas ruins também são de sua autoria, para castigar os recalcitrantes e impor respeito. Sendo assim, o poder do Diabo é um pouco menor do que o “vice-carimbador interino da comarca de Goitá”. O Satanás chefe daquela legião não soube informar, por ser uma entidade sem muita instrução.

A verdade é que estou reduzido a coisa nenhuma. Madame Preciosa recomendou-me uma descarga. Alguém mal informado anda me invejando. Tem trabalho forte para atrapalhar meus caminhos, já por natureza embaraçados. O fato é que você passar por esse transe sem apoio e desvelo é realmente malíssimo. A dor ensina a viver. Ou morrer.

Pedro Cabral repercute minhas crônicas


Tem um blog muito do atraente chamado “Jornaleco de opiniões e picuinhas”, assinado por Pedro Cabral Filho, que deve ser alagoano. O endereço do blog do Pedro: www.pedrocabralfilho.blog.uol.com.br

Lá ele publica as crônicas que saem aqui na Toca do Leão, junto com pequenas doses de humor. Recomendo, e transcrevo alguns tijolinhos:

Zé da peia

E por falar em Dado, a lei Zé da Peia parece ter mais valor que a Lei Maria da Penha. Pedro Cabral

Mãe do Brasil

O Brasil tem mãe? Pelo menos agora a gente pode falar: Mamãe, eu quero mamar, mamãe, eu quero mamar, mamãe, eu quero mamar. Pedro Cabral

Bom dia é sempre bem-vindo

Bom dia para você que neste momento está coçando as costas da sua senhora com um rapador de coco. Mução

No decorrer da leitura

Olha só o que "os vigaristas" disseram no twitter: "Todo réu é inocente, até que se prove que ele não tem dinheiro". Pedro Cabral

Enquanto isso, à beira de um rio...

Dois pescadores estão à beira do rio, lá no interior das Minas Gerais, pescando, bebendo uma cervejinha gelada e observando com atenção a bóia, quando o Zé vira pro Tonin e diz:
- Vô me separá da minha muié, já faiz treis meis que ela num fala comigo.
O outro, após refletir por alguns momentos, lhe diz:
- Pensa bem Zé, hoje em dia é muito difici achá uma muié assim, cum essas qualidade…

Enviada por Gilson Passos

Deletaram a história da cegonha

'Pai, como é que eu nasci?'
Muito bem, tínhamos de ter essa conversa um dia!.. O que aconteceu foi o seguinte: eu e sua mãe nos conhecemos e nos encontramos num chat desses da web,que existem para conversar.. O papai marcou uma Interface com a mamãe num Cybercafé e acabamos Plugados no banheiro dela. A seguir, a mamãe fez uns Downloads no Joystick do papai e, quando estava tudo pronto para a Transferência do Arquivo, descobrimos que não havia qualquer tipo de Firewall entre nós. Como era tarde demais para dar o Esc, papai acabou fazendo o Upload de qualquer jeito com a mamãe e, nove meses depois... apareceu você: o Vírus...

Enviada por Gilson Passos

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Meu livro entrou na gráfica


Na foto, eu entregando os originais do livro “A Voz de Itabaiana e outras Vozes” na Gráfica e Editora Imprell. Quem passa a tomar conta do projeto literário é meu compadre Hertz (o de boné), art designer da Editora.

O livro tem patrocínio do Ministério da Cultura, Fundação Nacional de Arte, Banco do Nordeste do Brasil e Subsecretaria Executiva de Cultura da Paraíba. Na minha santa ingenuidade, acho que vou ser perdoado por botar esse filho no mundo, um bruguelo que conta histórias de minha terra Itabaiana. É lá que estão meus possíveis leitores, pois só a esse povo interessa ler piadas de Biu Penca Preta, lendas de Major Nonato, façanhas de Pingolenço e artimanhas musicais de Cabo Totô, Artur Fumaça, Sivuca, Adeildo Vieira, maestros Severiano, Luiz Carlos Otávio, Zezé e tantos outros bambas dessa terra impregnada de sentimentos artísticos.

Séculos se passaram, eu saí de lá aos trinta e três anos, não progredi, mas ganhei o título de “Cidadão Itabaianense”, sendo que agora retribuo a gentileza do povo da minha terra adotiva com um livro “que realça os pequenos grandes fatos das cidadezinhas do interior, impedindo que nossas origens e tradições populares caiam no esquecimento”, conforme tão bem escreveu meu compadre e ex-professor Zenito Oliveira.

Em nossos anais ficaram passagens tão gloriosas que equivalem à batalha de Itararé. Falo da batalha do Riacho das Pedras, o maior combate ocorrido na guerra pela independência do país. Disso a maior parte das novas gerações não sabe, e meu livro se ocupa de falar do nosso passado. Esse e outros fatos notáveis, de bravura e altivez do itabaianense, estão registrados em “A Voz de Itabaiana e outras vozes”.

Este escrevinhador recatado e incompetente acha que desempenhou a contento suas funções de contar o que ouviu do pai e de outras pessoas de lá. Modéstia de lado, meu livreto está agradável. Só não vai ter noite de autógrafos, que sei por experiência própria que essas noites são pouco rentáveis. O brilho é pouco e a amolação é grande, correndo-se ainda o risco de você dedicar livro a uma dama da alta sociedade com frases infames tipo: “para fulana, a maior bunda de Itabaiana no meado do século vinte”, só por distração e corre-corre. Meu compadre e escritor Erasmo Souto sabe do que estou falando...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ajuda que vem do alto


É bom ter amigos preocupados conosco. Desde que postei mensagem me queixando de problemas pessoais, apareceram muitas pessoas bem intencionadas com conselhos, sugestões e propostas para me ajudar. É verdade que Madame Preciosa prometeu me processar por danos morais por ter citado seus trabalhos como ineficientes e custosos. Diz ela que tem um nome a zelar e filhos para criar.

Um pastor da Igreja Internacional enviou folheto para me evangelizar e tirar todas as infecções da alma. Eis o conteúdo:

SESSÃO DE DESCARREGO: Tiramos Exu, Tranca-Rua, Chico Xavier, Maria Cadela, Pomba-Gira, RPG, Ogum e São Jorge Guerreiro.

LIVRE SEUS FILHOS E AMIGOS DAS DROGAS: Maconha, vídeo-gueime, TV Globo.

PASTOR NA SUA CASA! – (Serviço de moto-taxi não incluso).

A CURA PELA FÉ! – Curamos hemorróida, Aides, rinite, sinusite, fimose, amputações, ligamento de trompas, descabaçamento inclusive de “anel de couro”.

TIRAMOS: mal olhado e qualquer entidade, seja ela do candomblé ou yoga.

FAÇA SEU BATISMO na piscina sagrada agora mesmo e concorra a uma bicicleta Monark barra circular semi-nova com raio grosso.

DÍZIMO: Dividimos em até 3X sem juros, no carnê, no cheque ou cartão de crédito (levar olerite ou comprovante de renda).

Madame Preciosa pensa em fundar a Igreja Batista da Silva Roussef, destinada a atrair pessoas que têm um terreno baldio no lugar do cérebro. Ela promete milagres extraordinários, para mostrar a “esses pastores bunda-mole como se trabalha na esfera espiritual/comercial”. Nascer cabelo em careca é um dos fenômenos anunciados pela esperta ex-cartomante. Promete fazer crescer um anão ao vivo pela TV Máster. O diabo é quem duvida!

domingo, 21 de novembro de 2010

Rádio Zumbi imita Brasil e escolhe mulher para Presidente

Fabiana Veloso dá a primeira entrevista para o blog da Rádio Zumbi como Presidente da emissora

Foi ontem, 20 de novembro, dia da consciência negra. A moçada que faz a Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares se reuniu para dar posse à jornalista Fabiana Veloso no cargo de Presidente da emissora, que faz parte da Sociedade Cultural Posse Nova República, no Geisel (João Pessoa/PB).

Fabiana pode se perfilar ao lado de Dilma Roussef, das primeiras-ministras Indira Gandhi, da Índia, Golda Meir, de Israel, Margareth Tatcher, da Inglaterra e Angela Merckel (eleita em 2005 e ainda no poder). Além das presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Chile, Michelle Bachelet. Todas foram pioneiras. Todas superaram barreiras monumentais até chegar ao poder sempre dominado pelos homens. É o que chamam de “enpoderamento” das mulheres, palavrinha que se usa muito hoje em dia.

Acha que é pouco ser Presidente de uma rádio comunitária? Igual às mulheres, rádio comunitária também é discriminada, menosprezada e perseguida.
A foto mostra os compadres e comadres festejando a nova fase da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, uma das poucas autênticas emissoras comunitárias de baixa potência na Paraíba, mas infelizmente fora da lista do Ministério das Comunicações para receber outorga. Foi preterida em favor de um projeto de rádio no vizinho bairro de Mangabeira. Segundo se comenta, a rádio de Mangabeira nada mais é do que um projeto particular empresarial.

Mas estamos na luta, agora fortalecidos com nova liderança. De uma forma ou de outra estaremos no ar, pela internet, em transmissões não autorizadas, com nosso jornal e nosso blog. Afinal, o lema é “resistir e transmitir”.

Na cozinha com Gilberto Júnior


Poucos músicos no mundo tocam guitarra sem saber executar os acordes do instrumento e fazem música sem harmonia nem notas. Um deles é Gilberto Bastos Júnior, o cara da banda de um homem só. Esse fenômeno musical mostra aos que tem o privilégio de conviver com ele que também é bamba na cozinha. Prepara um caldo de feijão que é do outro mundo. Na foto, Gilberto dá os retoques finais no caldo.

“Eu sou a mosca que pousou em sua sopa”, berrava Raul Seixas nos anos 70, apoquentando o regime militar. A demência criadora do Raulzito misturava em sua sopa o experimentalismo poético-musical do verdadeiro rock brasileiro com a batida marcante dos terreiros de umbanda. Fora de qualquer conceituação, a música de Gilberto Bastos Júnior é um caldo difícil de digerir. O caldinho de feijão, esse é simplesmente primoroso pelo sabor requintado. O cara é fera no preparo desse caldo.

O caldo de Gilberto é algo assim como um choque de excelência em nosso paladar. Já a sua música não é fácil de perceber e assimilar. Digamos que seja uma arte agitada e transformadora. Mallarmé dizia que a arte seria convulsiva ou não seria arte.

Pesadelo de cozinha conheci em uma espelunca onde fui comer sopa, muito antes da famosa sopa do deputado Toinho. Ao dar a primeira colherada, notei uma coisa a se mexer na colher. Era uma larva, um tapuru. Larguei a iguaria e saí pensando nas duas alternativas: ou o cozinheiro era indiano e resolveu preparar aquele prato exótico ou o próprio diabo estava tomando conta da cozinha daquele bar. O rock conceitual de Gilberto é assim: uma iguaria excêntrica feita na cozinha do demônio. Só vai quem tem negócio.

sábado, 20 de novembro de 2010

No dia da consciência negra, Zumbi vai virar fêmea


Dia 20 de novembro é a data em que a comunidade negra do Brasil comemora o Dia da Consciência Negra, pois foi nesse dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. Este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma resistência ao sistema escravista e também um forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.

Nesta data, a Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares renova sua diretoria, com grande alegria de ter pela primeira vez em seus oito anos de existência uma mulher à frente da Diretoria. Trata-se da jornalista Fabiana Veloso, que assume o cargo em 20 de novembro com uma feijoada para os amigos e colaboradores da emissora do bairro Ernesto Geisel, em João Pessoa (PB).

Fabiana Veloso é companheira de Dalmo Oliveira, também jornalista e uma das maiores lideranças do movimento negro da Paraíba. Dalmo faz parte da coordenação da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares e é coordenador secretário da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Estado da Paraíba – Abraço/PB.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Zé Ramos depõe na “Lista de Irene”


Zé Ramos diante da câmera de Jacinto Moreno, o Glauber Rocha do bairro dos Novais

O compadre Zé Ramos recebeu a equipe do documentário “A lista de Irene” em seu confortável escritório na Avenida Coremas, na Capital. Comentou como foi sua passagem pelo Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana, ele que fazia o papel de apresentador da peça “A peleja de Lampião com o Capeta”. Lembrou até da fala inicial do espetáculo, quando se levantava da platéia e gritava:

-- Senhoras e senhores! A estória que vamos narrar é fruto da pura imaginação. Passará a ser passada bem no buraco do cão, na casa de Jesabé, no antro da perdição, donde nos chega a notícia de grande tribulação que passou o Virgulino Ferreira que é Lampião!

Na época, essa interação palco/platéia era novidade no teatro. Segundo Zé Ramos, sua passagem pela Sociedade Zé da Luz, com seu teatro, seu jornal e seu grupo de jovens inteligentes e intelectualmente ambiciosos foi marcante em sua vida. “Passei a me interessar por livros, e quando comecei a ler, abri os olhos para o mundo. De questionador da ditadura, passei a militante político pelo antigo MDB, onde me elegi vereador. O GETI foi fundamental na minha formação cidadã”, garante Zé Ramos.

Mas a grande pergunta mais uma vez ficou no ar: “Por que os atores Biu Penca Preta, Rossi e Enoch de Macena foram expulsos do GETI em 1978?”. Versões apontam para um pretenso assalto à geladeira de Zé Tavares na encenação da Paixão de Cristo. De qualquer forma, o livro de Romualdo Palhano vai esclarecer a dúvida. O livro será lançado em 2011 na cidade de Itabaiana, comemorando os 35 anos do Grupo.

Zé Ramos foi um dos fundadores do Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana e exerceu a presidência da Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz, hoje Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba. O grupo continua sua tarefa de motivar, educar e emocionar os jovens, apesar das dificuldades que nunca foram superadas. Não temos um local digno para apresentações, nem recursos. Zé Ramos confessou que tem projeto de se candidatar ao cargo de prefeito de Itabaiana em 2012. Se chegar lá, deu esperanças de que a cultura em Itabaiana será tratada com a devida consideração, como fator fundamental para o desenvolvimento de uma comunidade.

Marcos do PT está no Resenha Cultural deste sábado


Otacílio Batista foi mestre da poesia de raiz popular

Em entrevista ao programa Resenha Cultural, o empresário Marcos Oliveira (Marcos do PT) fala sobre economia e cultura e opina sobre o futuro da Paraíba e de Itabaiana a partir do próximo ano.

Jessier Quirino viaja no ônibus da cultura popular e Otacílio Batista canta desafio em martelo agalopado com Diniz Vitorino.

A professora Nel Ananias fala da primeira rádio a funcionar em Itabaiana, comandada pelo saudoso Major Raul Geraldo de Oliveira.

Escute na Rádio Comunitária Rainha, às 15h30 deste sábado, dia 20 de novembro. (87,9 Mhz)

Pela internet em tempo real: www.radio87rainhafm.com

No domingo no nosso blog:
www.pccn.wordpress.com

RESENHA CULTURAL É UM PROGRAMA PRODUZIDO PELO PONTO DE CULTURA CANTIGA DE NINAR – ITABAIANA/PB

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Visitando a professora Nel Ananias, Rainha da Festa da Conceição de 1946


Nel Ananias, professora aposentada de Itabaiana, recebeu a equipe do documentário “Itabaiana, terra de bamba” para um depoimento. Ela falou do passado com uma desenvoltura e memória espetaculares. Aos 81 anos, Nel lembra de fatos que se passaram nos anos 30/40 como se tivessem acontecido ontem. Era uma moça muito bonita, fina flor da sociedade de então, coroada Rainha da Festa da Conceição de 1946.

Na foto, o blogueiro e Nel Ananias, ela com meu livro “Biu Pacatuba”. Nel foi professora do meu irmão Sósthenes Costa. Escreveu um livro contando sua vida de moça inteligente e locomotiva da sociedade. Casou com um americano e foi parar em Nova Iorque. É uma das figuras de proa do rights society local.

Nel é filha de Antonio Ananias, que ficou famoso pela bela voz e pela rigidez com que exercia o cargo de preposto da Justiça e fiscal de menor. Os meninos daquela época mijavam nas calças curtas apenas em ouvir falar o nome de Antonio Ananias. Zé da Luz menciona esse cantor em um de seus versos.

Essa professora internacional e ao mesmo tempo tão itabaianense falou por mais de uma hora das figuras que fizeram história na terra de Sivuca. Por sinal, ela não guarda boas recordações do mestre. Garante que Sivuca nunca fez nada pela sua terra natal. “No centenário de Itabaiana, ele cobrou 30 mil reais para fazer show homenageando a cidade. A Prefeitura não pagou, ele não veio”, revelou Nel Ananias.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Santa Terezinha das Rosas


Ando na maior aflição. Para ser grande, ser inteiro, ser íntegro, tem que ser corajoso. Eu não sou. A tragédia e a comédia nossa de cada dia me atingem de forma absoluta. Sofro com a dor alheia e mais com as minhas próprias.

Um amigo me viu nesse sentimento moral negativo, aconselhou rezar para Santa Terezinha das Rosas. Esse amigo é do terço dos homens. É poeta e pessoa muito sensível. Como, se eu nunca rezei, jamais fui à missa, tenho bronca do catolicismo, minha vocação é toda ateísta?

Mas gosto do catolicismo popular, das crenças e rituais que o povo consagrou. Um dia escrevi sobre a Santa Amassadinha, criatura de uma mulherzinha aqui do meu bairro. Ela inventou a santa, botou o nome e saiu anunciando milagres. A leveza e a beleza das rosas me atraem. Só por isso passei a ser amigo dessa Santa Terezinha de Lizieux, conhecida como Santa Terezinha das Rosas.

Vou comprar duas rosas para a imagem da santa. Uma para que Terezinha me guie nesse grande desalento em que me encontro. Outra para salvar uma amiga minha que tem o nome da santa e está atolada no crack, sem saber como se livrar do vício. Ela é dependente da “raspa da canela do diabo”, tem dois filhos e um marido tão angustiado que dá pena.

Minha Santa Terezinha das Rosas me conceda a graça de ser perdoado pelas minhas transgressões morais, e salve uma mãe de família que, por contingência da sorte, enveredou pelos descaminhos da droga mais cruel e devastadora. Tem que rezar 24 vezes seguidas, entre os dias 9 e 17 do mês.

Cocaína com bicarbonato de sódio te leva pro inferno. Revés da fortuna e agonia moral também. No caminho, se sentir um perfume de rosas, não custa nada rezar para Santa Terezinha das Rosas, que de repente ela está te acompanhando, esperando uma chance de ajudar.

Tem uma rezadeira que cura à distância, usando foto. Essa atende pelo nome de Madame Preciosa. Faz qualquer tipo de serviço, especializando-se no mau olhado ou “quebranto”. Ela garante que estou com “quebranto”. Cobrou cem paus pra desmanchar o feitiço. Experimentei um banho com arruda, alecrim e alfazema. Fervi as ervas e depois do banho joguei este "chá" do pescoço para baixo durante duas noites em quarto minguante. A magia natural não funcionou e ainda peguei infecção por vírus, com acompanhamento de febre, mal estar e ânsia de vômito.

Cadê tu, Efigênio Moura?


Efigênio, autor de Eita Gota, livro que conta histórias de matutos caririzeiros, ele que é de Monteiro, anunciou o lançamento de Ciço de Luzia, que segue a mesma pegada do livro anterior. Li o Eita Gota e achei bom que só a gota! Quem quiser ler em Itabaiana, é só visitar a Biblioteca Comunitária Arnaud Costa.

O livro de Efigênio Moura é quase um roteiro de filme, esperando que alguém se disponha a filmar as aventuras de um motorista de lotação na buraqueira do sertão. O que se questiona em Itabaiana: por que Efigênio Moura não veio lançar seu livro na terra onde morou por um bom tempo? Sei que alguns discordam, mas acho Efigênio uma figura inteligente, bom profissional, ótimo escritor, talentoso radialista e uma pessoa questionadora, o que é mais interessante ainda.

Procuro o compadre Efigênio para uma entrevista a ser veiculada no programa Resenha Cultural, da Rádio Comunitária Rainha. Quem souber do paradeiro de Efigênio, favor comunicar.

Efigênio Moura é formado em Marketing Estratégico pela Faculdade Paraibana de Processamento de Dados (FPPD), tendo trabalhado em diversas emissoras de rádio de nosso Estado, dentre elas a Panati FM e Itatiunga FM, ambas de Patos. Em Itabaiana, teve rápida passagem pela Rádio Itabaiana FM.

Conforme a súmula do livro, Eita Gota (uma viagem paraibana) é a narração de viagem de um alternativo entre João Pessoa e Monteiro, como mote para a transmissão da cultura regional, o lado cômico do dia a dia de nosso povo simples. As falas dos diálogos são a pura expressão dos atores de cada história, sem preocupação gramatical. Uma leitura fácil e prazerosa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Isso é que é ter pé na cozinha!


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cunhou uma pérola para expressar seu populismo: disse que tinha um pé na cozinha. Com isso queria enunciar sua procedência étnica. Tem sangue negro nas veias, e lugar de negro sempre foi na cozinha, conforme a sentença racista.

Preparando os alimentos do grande banquete dos podres poderes, temos na cozinha figuras incríveis como dona Guiu, que na verdade se chama Luzimar Monteiro. Essa excelente cozinheira trabalha na casa de dona Eurídice Moreira, a Dida, prefeita de Itabaiana. De tão boa no que faz, a cozinheira conseguiu galgar os degraus do progresso pessoal, sendo nomeada Coordenadora de Planejamento da Prefeitura. Ela trabalha na preparação dos grandes projetos alimentícios da gestão, tipo planificação de distribuição de pãezinhos recheados com peita. Quem não sabe o que é uma peita, dê-me o imenso prazer de consultar um dicionário.

Dona Dida tem outra cozinheira trabalhando na mansão que a prefeita mantém na cidade. Essa serviçal atende pelo nome de Maria Valdilene, pessoa muito inteligente e dotada de alto talento professoral. Tanto que foi nomeada Diretora de Escola, com boa gratificação ao nível de sua capacidade e excepcional engenho.

Essas profissionais que ajudam a administração a caminhar tão bem precisam de colaboradores à altura. Justamente para preencher esses cargos, a prefeita nomeou Felipe Costa, filho da cozinheira Guiu, como Assessor Especial. O irmão da cozinheira, José Ademar, foi nomeado Chefe de Sessão para assuntos de cozinha. Portanto, toda a família da cozinheira tem seu lugar na gestão de dona Dida, provando que ela sabe alicerçar a unidade familiar, base do desenvolvimento. Afinal, é na família que tudo se dá: o lazer, a educação e as oportunidades de trabalho.

Questões cruciais na vida de uma gestão pública são discutidas nas quatro paredes de uma cozinha, não se iludam! Tomando seu cafezinho com bolo de mel de tubiba, a prefeita reconhece os inestimáveis serviços que seus serviçais prestam ao avanço do Município. Enormes, portanto, as responsabilidades dessas pessoas. Especialmente em um momento em que é unânime a exigência de austeridade nos gastos e investimentos, a gestora aproveita os recursos humanos que dispõe em sua volta. Seu motorista particular, por exemplo, de nome José Marcos, foi nomeado Assessor Especial do Gabinete. Patrício Nunes é o rapaz que faz a segurança privada da prefeita, também nomeado Assistente de Gabinete.

E vejam que a nossa prefeita dona Dida, sendo uma mulher de visão e antenada com os novos tempos, já pensa em canalizar nosso potencial econômico para futuros avanços no Mercosul, consolidando nossa expansão econômica. Para isso nomeou Andrés Gabriel, seu ex-genro, como assessor da Prefeitura. Esse rapaz é argentino e mora em Buenos Aires. Sua função deve ser de cabeça-de-ponte para uma futura embaixada itabaianense no país platino. O avanço da globalização não vai nos pegar desprevenidos. Em uma palavra, dona Dida presta relevante serviço à modernidade da gestão municipal, o que confirma mais uma vez sua meritória missão de administradora.

LEILÃO DE OBRA DE ARTE


A Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba leiloa uma gravura assinada pelo mestre Otto Cavalcanti denominada “Objetividad hidroformas”, obra original do artista plástico hispano brasileiro, em 41X30 cm.

Os lances devem ser dirigidos para o e-mail:

pccn.itabaiana@gmail.com

SOCIEDADE AMIGOS DA RAINHA DO VALE DO PARAÍBA

CNPJ nº 05.214.728/0001-30

Reconhecida de Utilidade Pública Municipal e Estadual

Rua Floriano Peixoto, 136 – Itabaiana-PB


Artista paraibano está de volta para casa

Por trás das mãos ágeis e das poucas palavras do senhor de 81 anos, aparece pouco a pouco a figura do artista paraibano consagrado na Europa que tem neste momento de vida um único desejo: trazer sua arte de volta pra casa. Radicado na Espanha há 50 anos, o paraibano de Itabaiana Otto Cavalcanti retorna ao estado natal com a perspectiva de garantir uma morada para 1.500 obras e assim encontrar em casa um lugar para o trabalho de toda uma vida.

Com obras expostas em museus da França, Itália, Inglaterra, Suiça e Canadá, Otto transitou ao longo da vida por entre diversas formas de expressão criando em sua arte técnicas que combinam com processos internos de inspiração e transpiração. Técnicas estas que inspiraram artistas e encantaram olhares mundo afora. Em uma breve passagem por João Pessoa esta semana, Otto falou sobre sua trajetória e os motivos que o fizeram cogitar a volta para a Paraíba.

O artista nasceu em Itabaiana em 1930 e deu os primeiros passos como designer gráfico e ilustrador publicitário no Rio de Janeiro em 1952. Nessa época seus retratos eram muito influenciados por Modigliani e por um peculiar estilo pontilhista. Os temas iniciais favoritos do artista, que perduraram ao longo de toda sua carreira, são a música, o movimento, a natureza e as crendices religiosas.

Otto inicia em 1963 sua aventura européia. Pinta e expõe em Madri, Londres, Paris e instala-se finalmente em Barcelona, onde se consolida artisticamente. As formas geométricas que surgem em sua etapa londrina introduzem rasgos antropomorfos com robôs humanóides que evoluem até criar um novo estilo dentro do gênero retrato, o Combinismo de Formas Visuais, sintetizado em um Manifesto que Cavalcanti publica em 1977.

“Voltei ao Brasil em 1984 e fiquei em Fortaleza durante 12 anos trabalhando com pintura, desenho, escultura e conferências sobre arte. Em 1996 regressei a Barcelona com um trabalho mais colorido. São cromatismos mais intensos, aquarelas que misturam lembranças de infância e vivências como viajante”, conta Otto.

Em 2005 pinta uma série de quadros inspirados no mundo cinematográfico como resultado de seu encontro com Josep M. Queraltó, criando o primeiro quadro da Espanha em 3D, sobre a sétima arte.

“O Brasil é o meu país, a Paraíba a minha casa e eu quero dar uma contribuição culturalmente interessante. Moro na Europa há muito tempo mas tenho um desejo enorme de voltar para cá, de encontrar apoio para que meu trabalho seja conhecido aqui. A idéia é buscar incentivos para encontrar um espaço para abrigar 1.500 obras minhas que estão em Barcelona e assim voltar a morar na Paraíba e continuar produzindo aqui”, comentou Otto.

Mesmo longe de casa, a natureza paraibana sempre foi o motor da arte de Otto, que nunca perdeu de vista as referências que levam a sua obra traços da cultura paraibana.

Por Renata Escarião, do CORREIO DA PARAÍBA

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ministério da Cultura habilita projeto que divulga literatura de cordel na rádio comunitária


O Ministério da Cultura, através da Secretaria de Articulação Institucional, divulgou a relação dos projetos habilitados e não habilitados do Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré. Entre os projetos habilitados encontra-se o folheto “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”, de Fábio Mozart, e o Projeto “Cordel na Rádio Comunitária”, da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba, gestora do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

O projeto “Cordel na Rádio Comunitária” tem como proposta preservar a arte e a produção dos poetas repentistas da região do Vale do Paraíba, que compreende as cidades de Salgado de São Félix, Juripiranga, Itabaiana, São José dos Ramos, Pilar e São Miguel de Taipu, levar às novas gerações as informações concernentes à arte do repente e da poesia de cordel nordestina e registrar a produção dos violeiros para posterior gravação de CD coletivo, conservando o melhor do improviso maravilhoso desses artistas.

O cordelista Fábio Mozart produz programa cultural na Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares e Rádio Comunitária Rainha, da cidade de Itabaiana (PB).

Na foto, a poeta repentista Maria Soledade com Fábio Mozart. A violeira também teve seu trabalho habilitado no Prêmio Patativa do Assaré, através de projeto apresentado pela professora Maria Ignez Novais Ayala.

www.radiozumbifm.blogspot.com

Tragédia natural familiar



João Dias foi proprietário da única banca de revistas existente em Itabaiana nos meus tempos de garoto apaixonado por gibi. Chamava-se “A Juventude”, misto de rodoviária e ponto de venda de jornais e revistas. O dono era um senhor elegante, simpático. Muito bem quisto na sociedade, João Dias era a delicadeza em pessoa. Gabava-se de ser um exímio dançarino. Era responsável pelo bar do Itabaiana Clube, associação de lazer da elite local.

Fui visitar João Dias, encontrei-o sofrendo de uma doença degenerativa que lhe rouba a memória. Quase não me reconheceu. Tem lampejos, apenas. Quando repentinamente brilha uma lembrança, ele abre o sorriso bonito. Minha comadre Clévia Paz convidou o antigo bailarino para dançar. Ele não se fez de rogado: rodopiou pela sala, ao som de um foxtrote imaginário.

A esposa de João Dias também sofre de enfermidade semelhante. Já não anda, inválida e sem memória numa cama. O casal que brilhava nos salões chiques de Itabaiana, exemplo de união e afeto conjugal, agora não se reconhece. Sinto muito, meu amigo João da Juventude. O cérebro de alguém indo embora paulatinamente é como morrer de forma lenta, mas não fisicamente. O velho João da Juventude está se despedindo da festa.

Foi personagem de uma cidade que deixou de existir, com seus códigos de honra ultrapassados, seus valores idem. Amou essa terra, adorou a família, foi um cavalheiro como hoje não se usa mais. Gravei em vídeo seu sorriso de artista de cinema, antes que se apague de vez.

Se você analisar os fatos friamente e objetivamente, vai ver que vivemos em função de sinais elétricos cerebrais. Quando o cara tem um curto-circuito na cabeça, volta a ser aquele macaco primitivo com quem você até pode tentar conversar, mas não verbalmente. Nesse estágio, o ser vivo atende aos estímulos do carinho, por exemplo. Se existe qualquer coisa parecida com alma, deve se esconder ou começar a juntar os trapos para a grande mudança, deixando a carcaça sem consciência.

Meu amigo João Dias está sem muita consciência verbal e lógica. O cérebro se recusa a produzir comandos que acionem as lembranças. Houve uma interrupção nas vias de comunicação. Isolado, João só tem um canal de ligação com o mundo: a filha Celinha. Sua noção da realidade agora passa pela filha. Clévia perguntou:

-- Seu João, conte como eram os bailes no Itabaiana Clube no seu tempo.

E ele:

-- Quem sabe aí é Celinha. Ela é quem sabe de tudo.

sábado, 13 de novembro de 2010

Agenor Otávio e Padre Anchieta


Erico Veríssimo disse do Padre Anchieta: “Como poeta, Anchieta foi, sem dúvidas, medíocre. Mas era tão sincero, e é tão surpreendente o fato de um homem revelar tal sangue-frio e simplicidade de espírito para escrever uma poesia de caráter ingênuo em meio a uma luta tão incrível, que ninguém hesita em considerá-lo, cronologicamente, o primeiro escritor brasileiro”.

É assim que eu vejo meu amigo poeta Agenor Otávio, de Itabaiana, autor do livro “Memórias de Itabaiana e minhas poesias”. Antonio Costta, meu outro amigo poeta assim definiu a obra de Agenor: “Não importa se a poesia é simples e popular. O importante é que o poeta cante o amor com sinceridade e a sua terra brejeira como se fosse o melhor lugar do mundo”.

Aos setenta e um anos de idade, Agenor Otávio tem saúde de menino. Sai todos os dias de porta em porta vendendo seus livros, competindo com os “Testemunhas de Jeová”. Com isso garante circulação espantosa às edições. Relativamente, vende mais do que Paulo Coelho, o Mago que transforma literatura ordinária em ouro. E quem compra seus livros não tem como comparar os poemas de Agenor com outros autores, simplesmente porque também estão se inaugurando no papel de leitores. São pessoas simples como o autor, que de poesia só conhecem a literatura popular dos folhetos de cordel.

No século dezessete, um sujeito bajulador escreveu um livro chamado Prosopopéia, mau poema imitando o português Camões, destinado a louvar o governador da capitania de Pernambuco. Esse camarada foi o primeiro escritor nascido no Brasil e também o primeirão do cordão dos puxa-sacos literários cuja obra enaltece autoridades a fim de obter favores. Conheço muitos dessa turma. Não é o caso do meu compadre Agenor Otávio. Em seu livrinho ele canta seu torrão natal e dá umas dicas sobre sua visão de mundo: “Não tenho casa nem terra, mas sou contra a invasão”. O enredo político do poeta segue o pensamento geral do povo: “Estamos vivendo o momento/de eliminar os fraudulentos/Para o bem desta Nação.”

Agenor faz vir à memória os bons tempos de Itabaiana. No seu papel de memorialista, menciona com nostalgia o velho cabaré do Carretel, “recinto das mulheres amadas que se vestiam como damas”. Que saudade da Rua das Flores, do cabaré de Paca, do pastoril de Rubina, os bordéis de Moça Homem, Nevinha Rica, Topada, Chica Cega, Nevinha Pobre e Maria Branca, Julieta, Zé Bodega e Maria Rei, Tonha Marroco e Francisca, e a bela Palmira, a rapariga mais bonita do lugar que já foi considero o maior puteiro da região.

O velho Agenor dedica seu livrinho aos filhos: Fernando, Aleomar, Aliene, Adriana, Alessandro, Arlen, Márcio, Márcia, Fátima, Mércia, Monaliza, Tavinho, Janaína, Melry e Nina. São quinze rebentos, o que prova que o poeta aproveitou bem suas noites, caprichando nas simples linhas retas de sua escrita e apreciando as curvas graciosas do “verbo que se fez carne”, com a licença do trocadilho infame. De sorte que a terra é tão boa que, em se plantando, tudo nela há de crescer.

Entrevistando Otto Cavalcanti


Tive a honra de conhecer pessoalmente o artista plástico Otto Cavalcanti, um criador singular, nome importante do panorama artístico da Europa, ele que é radicado em Barcelona, Espanha. Otto Cavalcanti nasceu em Itabaiana, de onde saiu aos vinte anos de idade para ganhar o mundo com sua arte, seguindo o caminho do seu conterrâneo não menos famoso, mestre Sivuca.

Fui entrevista-lo para o documentário que estou produzindo, cujo título é “Itabaiana, terra de bamba”. Eu e meu cinegrafista Jacinto Moreno fomos agraciados com duas gravuras do mestre. O meu presente, vou leiloar em benefício da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba, com autorização do autor da obra.

Otto contou sobre sua infância em Itabaiana, quando se descobriu apaixonado pelas cores e imagens. Desenhava os heróis das fitas de cinema, depois foi fazer a vida no Rio de Janeiro, trabalhando em jornais e revistas. De lá foi para a Europa, onde se estabeleceu com sua pintura.

Erico Veríssimo afirmava que a melhor chave para a alma de um país são as obras de seus artistas. Os quadros de Otto Cavalcanti ainda hoje trazem a marca de suas origens rurais, de seu universo itabaianense. Ele viveu na Idade de Ouro de Itabaiana, por assim dizer. Na década de 40/50, a cidade era abastada, tinha glória. A arte e a literatura eram incentivadas e prosperavam. Havia jornais diários, editoras, clubes literários, bandas filarmônicas. O próprio Otto estudou solfejo, iniciou-se nos caminhos da música, tocava piano. Nessa rica e próspera Itabaiana viveram Sivuca, o cinegrafista Vladimir Carvalho, os poetas Bastos de Andrade e Zé da Luz, o grande bandolinista Artur Fumaça, os mestres professores Maciel e Marieta Medeiros, o genial Pingolença e tantos outros artistas. Otto Cavalcanti lembrou de Manoel de Tino, um formidável artesão que fabricava armas de fogo. Otto esculpia as gravuras que adornavam as coronhas das espingardas de Manoel de Tino. Adolescente, já ganhava dinheiro pintando os animais da roda do “jogo do bicho”, loteria popular que ainda hoje persiste.
O pintor estudou na escola de dona Marieta, aprendendo os rudimentos do latim e inglês com um professor chamado Maciel. “Mestre Maciel era tetraplégico, mas tinha um cérebro privilegiado, uma memória fantástica”, lembra.

Pena que a entrevista foi breve. Otto Cavacanti voltou para a Espanha com sua esposa. Sua maior vontade: disponibilizar o acervo para que sua arte seja conhecida na sua terra, assegurando para as novas gerações a oportunidade de estimular a atividade criadora diante da obra marcante do grande mestre. Projeto ele tem neste sentido. Faltam receptividade e mentalidade arejada aos nativos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Revisitando Ferreira Gullar

A moça está plagiando texto de Tião Lucena na prova do ENEM

O poeta Leo Barbosa, de João Pessoa, é acusado de plagiar o poeta Ferreira Gullar no poema “Traduzir-se”. Eis as duas versões:

TRADUZIR-SE

Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

TRADUZIR-SE

Leo Barbosa

Uma parte de mim

É todo mundo

Outra parte é o mundo

Profundamente meu.

Uma parte de mim

É multidão

Outra parte é sensação

De um vazio tumultuado

Uma parte de mim

É poesia

Outra parte

Um versado neutro

Uma parte de mim

É pensamento

Outra parte ponderamento

Sonho o que é ser gente

Uma parte de mim

Alimenta-se

Outra parte

Passa fome de sanidade

Uma parte de mim

É permanente

Essa outra parte

Muda-se de repente!

Traduzir-se

Uma parte

Pela outra

É uma arte

Sempre em questão.

O poema de Leo barbosa está publicado no seu livro “Versos Versáteis”, com prefácio do escritor Carlos Aranha. Leo Barbosa escreveu outro poema muito inspirado em “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. O poeta paraibano Linaldo Guedes registra que seu poema “Pintura” sugeriu o trabalho intitulado “Traçando sua nudez”, de Leo Barbosa.

Ferreira Gullar diz que Oswaldo Montenegro plagiou seu poema "Traduzir-se". "Metade" seria o plágio de "Traduzir-se". No frigir dos ovos, o poeta Leo Barbosa deve acreditar, como eu, que a originalidade nada mais é que uma maneira nova de dizer coisas velhas. É como já dizia o velho Salomão no Eclesiastes: “não há nada de novo sob o sol”. O problema todo é que o nosso Leo se inspira em poetas famosos. Eu, debaixo da minha humildade, só miro a criação literária de autores pouco divulgados, iguais ao meu poeta de Deus Antonio Costta, ao poeta da beira do rio Orlando Otávio, poeta biriteiro Eliel José e outros menos cotados ainda. Quando quero copiar frases, conceitos e imagens, aproveito a obra de Chiquinho do Banco, do meu compadre Erasmo Souto e de Neo Ananias, pessoas amigas que jamais irão me desautorizar ou mover processos contra o velho e desdentado Leão. Copiar servilmente obras de autores famosos é roubada, meu compadre!

Mas o plágio é diferente do “pastiche”, que é a imitação do estilo do outro. Eu, por exemplo, me esforço para imitar o jeito livre de escrever do meu compadre Tião Lucena, seus acentos pessoais, seu “tom” próprio de escrever gostoso como uma conversa na varanda, regada por umas bicadas de cana de cabeça, tirando o gosto com camarão no coco.

Ninguém nasce original. Todo grande autor começa a escrever imitando um ou vários modelos. Antonio Costta revelou que queria ser Carlos Drummond de Andrade, depois cismou em imitar Zé da Luz, acabou tocado pelas graças do céu e passou a se inspirar em poetas evangélicos. “O Deus que habita em mim em pão e vinho, também agora habita em arte e poesia”, declama o futuro Secretário de Cultura de Itabaiana, terra de Zé da Luz e Bastos de Andrade.