segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Minha fubica em boas mãos. (Ou: técnico perna-de-pau)


Meu automóvel gasto pelo uso entrou hoje na UTI da oficina do meu considerado amigo Jason, o velho “Zé Serra” de Mari. O Gol velho de guerra vai precisar de reparos na válvula de retentor, descarbonização, limpeza de bicos injetores, recauchutagem da parte de amortecedores e troca de rolamentos nas rodas.

Jason foi o técnico do meu time “Associação Atlética do Canteiro”, campeão municipal em 1997. Para ser campeão, tive que investir no timeco. Vendi até um Chevette velho para reforçar a equipe. Besteirinha de um apaixonado por este esporte. Tem gente que só gosta de futebol de 4 em 4 anos. Eu gosto diariamente. Não perco jogo na TV ou pelada de campinho de várzea.

Galvão Bueno é que me dá asco, mas às vezes sou obrigado a aturar o “mala sem alça” só para assistir a uma partida de futebol transmitida com exclusividade pela Globo, o que não passa de mais uma sacanagem dessa rede de TV. Acompanho o jogo sem som.

Mas do que quero falar mesmo é de Jason, um técnico de futebol aloprado. Pra começar, não entende nada de tática. “Como vamos montar o time?” E Jason: “Bota esses macacos pra jogar e quem não suar a camisa volta pra casa a pé, sem direito a laranja. E esse negócio de 3x4 e 4x3 é frescura. O time vai fechado, com os volantes folgados, arrecua os beques, solta a linha de quatro e mete a linha de oito pra riba deles, e se for preciso manda Toinho Gambá e Fura Fuba peidar na frente do juiz que é pra ele ficar tonto e afrouxar a macaca pra riba de nós”.

No intervalo, Jason reunia o elenco e ameaçava: “se continuar com esse joguinho de merda, vou tirar os bons e botar os ruins”. Os “ruins” eram os pobres dos reservas. Nosso goleiro era meu compadre Severino Batista, que além de ser baixinho, sofria de deficiência visual. Só enxergava a bola a dois metros de distância. Jason ficava atrás da trave, orientando nosso goleiro míope. Para ganhar o campeonato, tive que exportar os melhores atletas de Itabaiana junto com o técnico, meu companheiro Trajano, ferroviário e também fanático por futebol. Jason ficou ressentido por ter sido rebaixado à condição de auxiliar técnico e abandonou o Canteiro.

Antes, me jogou na cara uma frase da porra, que até hoje lembro. Foi no primeiro jogo com o técnico e time novo. A partida terminou empatada em zero a zero com o Brasil de seu Antonio Benedito. Ao sair do campo, Jason escarneceu do técnico e dos novos atletas: “Melhor seria se eu estivesse em minha oficina. O dia em que não se aprende nada é dia perdido”.

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