quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Carta de Madame Preciosa


O Leão em péssimas condições físicas aceita ajuda sobrenatural


Caro consulente:

Apesar da aparência de homem mal, saiba que existe um coração dentro de você (claro que sei, e por sinal o safado está com taquicardia), talvez perdido em algum lugar perto do pâncreas (já começou a provocação!).

Seu problema é muito simples de compreender e explicar. Você é um alguém que gosta de dormir e acordar com barulho de chuva, assíduo leitor de romances, tem paixão por poesia, aficionado por José Saramago, sustenta um caso de amor com sua terra e é apaixonado por teatro. O que lhe falta é voltar a ter uma incrível experiência sexual, porque entre as pernas de uma mulher, só boas emoções nos esperam (se essa conversa não for uma cantada eu cegue!).

Apesar de estar na menopausa (não tem quem diga), não existe até o presente momento qualquer indício de que esta experiente cartomante, intermediária entre os vivos e os mortos, venha a falhar na tarefa de levantar os descaídos (será que ela se refere ao meu “zé vermelho?”). Levante a cabeça e parta para o abraço. Não seja antipático e procure uma mulher que tenha o jeito, a denguice, o ziriguidum, o encanto e a sedução de uma dama misteriosa, enigmática e imponderável, a única que possui a fórmula encantatória para erguer serpentes descaídas (essas indiretas incomodam!).

Não, você não é uma anomalia da natureza. Tem seus predicados e a Madame Preciosa entende seu período de isolamento do mundo, que vai superar em algumas sessões de fisioterapia sexual aplicada (o que será isso?), mesmo porque estou doida para enfrentar o desafio de curar um Leão que já se considera tapete.

Meu artifício é a justificável confiança que tenho de que o universo conspira a meu favor. Portanto, aceite sem culpa e sem medo o tratamento aqui proposto, para o qual estou me preparando devidamente; mudei a cor da cortina e o formato da cama, desloquei os pneuzinhos da cintura e removi a cor, a atitude e o peso da vida (essa mulher é poeta!).

A vida passa e a gente nota que fez quase tudo. O mais importante ficou pra depois. Com a intensidade de uma experiência que não se repete. Lembre-se: quando coabitamos (essa é arcaica!) você não rodou meu lado B e não conhece a canção do deleite (esse negócio de leite já rendeu confusão!). Vai encarar?

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