segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Exercício do caráter


“Jornalista é um incômodo. E é assim que deve ser. Se não for não é jornalista.” (Ricardo Noblat)


Meu estilo direto e certeiro incomoda a ternura de uma grande amiga, queixosa de que sou muito sincero e ferino. Ela prefere a perspicácia, compassiva que é com a humanidade.

Em parte, tem razão. “A sutileza é um recurso inteligente para quem trabalha com a palavra. Podemos tecer comentários, fazer críticas, protestar, exprimir toda a nossa indignação contra o que ou quem quer que seja. A maneira como fazemos isso é que faz toda a diferença”.

Realmente, a palavra é uma arma poderosa. Quando se afirma as coisas com todas as letras, “perde-se o encanto do texto”. Isso quando se está fazendo literatura. Na hora de informar, eu prefiro ser o mais claro possível.

O estilo direto e a informalidade marcam o texto de um grande jornalista paraibano, o compadre Tião Lucena, a quem admiro. Monteiro Lobato foi um escritor e jornalista danado de bom. Escreveu em livro, jornal e revista, textos simples e repletos de ironia, polemista teimoso e obstinado que foi. Na verdade, “jornalismo é polêmica, o resto é loja de R$ 1,99”, conforme a fala de Tom Paixão, jornalista de São Paulo.

Meu cabelo branco e escasso me diz para dar um tempo nessa coisa de “cutucar o diabo com vara curta”, mas vejo ainda como inimaginável minha figura indiferente e apática diante das dores do mundo. O “dinossauro” não nunca esquentou banco de faculdade, mas aprendeu com o velho jornalista Arnaud Costa que o jornalismo é, antes de tudo e, sobretudo, exercício cotidiano do caráter, conforme também pensa Cláudio Abramo.

Não possuo a delicadeza e finura de articulistas hábeis em manejar a palavra cortante sem ferir. O talento de tecer críticas sem golpear as suscetibilidades dos “politicamente corretos” e dos canalhas de colarinho branco, esse eu não tenho. Procuro respeitar e enaltecer os homens e mulheres de bem, mas me dou o direito de apontar os desvios de conduta, principalmente das figuras públicas. Faço isso metendo o dedo na ferida mesmo, embora ao custo de processos na Justiça e tudo o mais.

O pacto de silêncio dos canalhas, jornalistas ou não, comprados com dinheiro público para fazer uma imprensa comprometida e vergonhosa, isso é que é grave. Levantar a lebre, vigiar, refletir sobre nossa realidade é papel do verdadeiro jornalismo, que infelizmente pouco se vê por estas bandas.

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