domingo, 27 de junho de 2010

Memórias de Itabaiana


José Benjamim Pereira Filho

Nasci fora. Aos dois anos fui para Itabaiana, onde vivi até os 11 anos. Quem me diz que não sou de Itabaiana? O filé de minha vida, os melhores momentos, a infância construí aí. Ouvindo o pífano de Zé Espiciá, chapeado que tinha um boi de carnaval. Aquilo sim que era boi! Com a batida certa, o ritmo certo. O toque (som) da flauta-pife perfeita. Mais nunca na vida ouvi coisa carecida, tão linda. Lá em João Pessoa é que fazem mais ou menos, mas nunca com a grandeza do Zé Especiá.

A difusora de João do Bode foi minha enciclopédia da música brasileira, junto a um radinho que havia na sala de minha casa, presente de um irmão que aos 12 anos trabalhava nas Lojas Paulista, na “rua Grande”. Pois bem, quando esta difusora localizava-se numa barraca naquela subida ao lado da Rua Santa Rita, por traz da rua Boca da Mata, atravessando a linha do trem, numa casa ao lado da barraca do João do Bode, assisti a um menino negro encenar um drama de Natal. Músicas que ainda não conhecia. Tá na cabeça até hoje. Esse menino ? Poty o nome dele..

Esta agora dos três severinos, sinceramente, me comoveu
Bela página. Os três precisam ser conhecidos e respeitados por nossa juventude, precisam ser reverenciados por este mesmo povo que hoje sendo depositário desta cultura, já foi aquela época o caldo sócio-afetivo que proporcionou o surgimento dos mesmos três.

Enfim, povo que gestou os gênios e hoje herda a genialidade, embora aparentemente obscura noutra aparente relação social embrutecedora. Por mais que se maltrate, por mais que se explore, esse nosso povo conduz o gérmen da mais genuína cultura. Embora às vezes não saiba explicar, até porque a carga de opressão tenta impor a alienação econômica e cultural.

Mas o povo tá aí. Povo dos Taiobas, do Pão Duro, do boi de Zé Espiciá e dos caboclinhos de Mocó, dos altos de Itabaiana e da beira do rio.

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